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Chumbo de Goulard deveu-se ao "orgulho" de Emmanuel Macron

O Presidente francês Emmanuel Macron quis reformar a Europa e, simultaneamente, o sistema político sem "construir coligações" que o apoiassem no Parlamento Europeu, levando ao chumbo da sua candidata a comissária europeia Sylvie Goulard, disse à Lusa um analista.

Chumbo de Goulard deveu-se ao "orgulho" de Emmanuel Macron
Notícias ao Minuto

17:22 - 11/10/19 por Lusa

Mundo Analistas

"Emmanuel Macron não pensou em construir uma coligação devido ao seu orgulho. E isso acontece porque quando se é Presidente de França na V República não precisamos fazer coligações, mas a Europa não funciona assim", defendeu em entrevista à Lusa Sylvain Kahn, historiador na Sciences Po Paris e especialista em questões europeias.

Para este professor universitário, o Presidente francês misturou o seu papel como chefe de Estado com o de líder partidário, querendo ao mesmo tempo operar mudanças não só no projeto europeu, mas também na configuração política da Europa, o que levou ao chumbo de Sylvie Goulard.

"Eu acho que ele misturou tudo. Quis impor à Europa uma mulher muito fiel à sua causa partidária [Sylvie Goulard], que está completamente com ele e o apoiou muito internamente. E, ao mesmo tempo, ele pediu como Presidente francês uma pasta muito vasta que corresponde ao que ele quer para a Europa, com uma verdadeira soberania europeia e uma política de Defesa, assim como mais mercado interno", indicou o especialista.

Faltou também a Emmanuel Macron fazer aliados pelo caminho, o que levou a uma intransigência por parte dos parlamentares europeus.

"Para este papel era preciso alguém irrepreensível. Como sabemos, Goulard tinha fraquezas [...] Há comissários confirmados, como o da Espanha e da Bélgica, sobre os quais há dúvidas, mas com Goulard havia uma intransigência que era muito maior devido à ambição de Emmanuel Macron", sublinhou.

Macron terá irritado os grupos parlamentares europeus ao rejeitar a eleição de Manfred Weber e, assim, ignorar o processo do 'Spitzenkandidat', ao mesmo tempo que faltou coesão no grupo de eurodeputados franceses, onde o seu partido não é a maioria.

De Ursula von der Leyen, presidente indigitada da Comissão Europeia, Emmanuel Macron teria recebido a certeza de um entendimento com o Partido Popular Europeu, que representa os partidos da direita, mas tal não aconteceu, deixando-o com questões sobre o processo que levou à rejeição de Sylvie Goulard.

"Eu estou calmo, porque o que me interessa é a nossa pasta. Preciso de perceber o que se passou. Talvez algum ressentimento, talvez alguma pequenez", reagiu o Presidente a seguir ao chumbo de Goulard em Bruxelas.

Para Sylvain Kahn, o essencial agora é manter a pasta que junta o mercado interno europeu à defesa da Europa.

"O desafio é que a pasta que o Presidente negociou se mantenha. Se o líder partidário perdeu na sua escolha, é importante que o Presidente não perca a ambição de reformar a Europa, quem quer que seja o candidato que ele vai apresentar", disse o historiador.

Quanto a possíveis candidatos, Kahn considera que Emmanuel Macron terá se enviar um "peso pesado" para o colégio de von der Leyen.

"Do que eu percebo das movimentações do Presidente, penso em alguém como Jean-Yves Le Drian. É preciso um peso pesado para uma pasta destas. Mas assim fica sem ministro dos Negócios Estrangeiros. Claro que depois há Michel Barnier, mas é uma personalidade complicada para Macron porque não são da mesma cor política", antecipou o historiador.

Para além destas possibilidades, outras hipóteses avançadas pela imprensa francesa são a atual ministra da Defesa, Florence Parly, ou Amélie de Montchalin, secretária de Estado dos Assuntos Europeus.

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