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Curdos com autonomia frágil no norte depois de décadas de marginalização

Os curdos da Síria, cuja milícia é alvo de uma nova operação militar turca iniciada hoje, instauraram uma autonomia frágil nos territórios que controlam no norte, representando perto de 30% do país e possuindo importantes campos petrolíferos.

Curdos com autonomia frágil no norte depois de décadas de marginalização
Notícias ao Minuto

17:41 - 09/10/19 por Lusa

Mundo Síria

Após duas anteriores operações, Ancara lançou hoje uma ofensiva na Síria contra a milícias das Unidades de Proteção Popular (YPG), que considera um grupo terrorista, mas que é apoiada pelos países ocidentais.

Discriminação

Os curdos são um povo sem Estado que está distribuído sobretudo pela Turquia, Iraque, Irão e Síria. Serão entre 25 e 35 milhões de pessoas, que ocupam uma zona de perto de meio milhão de quilómetros quadrados.

Na Síria estão instalados sobretudo no norte e são essencialmente sunitas com minorias não muçulmanas e formações políticas frequentemente laicas. Serão 15% da população síria.

Sofreram décadas de marginalização e opressão, mas têm exigido sem cessar o reconhecimento dos seus direitos culturais e políticos.

Neutralidade

Um ano depois da guerra na Síria ter sido desencadeada, em 2011 com a repressão pelo exército de manifestações pró-democracia pacíficas, o presidente Bashar al-Assad naturalizou 300.000 curdos "apátridas" após meio século de espera e de protesto. A nacionalidade tinha sido retirada aos curdos da Síria após um controverso recenseamento em 1962.

Os curdos tentam manter-se à margem do conflito e adotam uma posição neutra em relação ao poder e à rebelião, tentando impedir os rebeldes de entrarem nas suas regiões para evitar represálias do regime.

Em meados de 2012, as forças governamentais deixam as posições no norte e leste do país, que são ocupadas pelos curdos. A retirada é vista como visando essencialmente encorajar os curdos a não se aliarem aos rebeldes.

"Região federal"

Em 2013, o Partido da União Democrática (PYD, principal partido curdo sírio) proclama uma semiautonomia dos territórios controlados pelos curdos.

Em 2016 é anunciada a criação de uma "região federal" composta de três zonas: Afrine (noroeste), na província síria de Alepo, Eufrates (norte), numa parte das províncias de Alepo e de Raqa, e Jaziré (nordeste), que corresponde à província de Hassaké.

Esta iniciativa é semelhante a uma autonomia de facto, que permanece frágil. Os curdos atrairão a inimizade das forças da oposição, além da hostilidade da vizinha Turquia.

Aprovam um "contrato social", espécie de Constituição, e em 2017 os habitantes das regiões curdos elegeram os seus conselhos municipais.

Anti-'jihadistas'

O braço armado do PYD, as Unidades de Proteção Popular, é desde 2014 uma das principais forças de combate ao grupo 'jihadista' extremista Estado Islâmico (EI).

No início de 2015, as forças curdas, apoiadas pelos ataques aéreos de uma coligação internacional conduzida pelos Estados Unidos, expulsam o EI de Kobane, na fronteira com a Turquia, após mais de quatro meses de violentos combates.

Em outubro do mesmo ano são criadas as Forças Democráticas Sírias (FDS), compostas por 25.000 curdos e 5.000 árabes, todos sírios. Dominadas pelas YPG, as FDS vão receber ajuda dos Estados Unidos, em armamento e formação, e também apoio aéreo.

Em outubro de 2017, as FDS expulsam o EI do seu feudo em Raqa, capital do seu autodenominado "califado" proclamado em 2014. Em março de 2019 apoderam-se do último bastião dos 'jihadistas' em território sírio, Baghouz.

Abandonados por Trump

No final de 2018, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anuncia a retirada dos militares norte-americanos da Síria.

Os curdos advertem que não conseguirão combater o EI se tiverem de lutar contra a Turquia, que ameaçou por diversas vezes lançar uma ofensiva contra as milícias YPG.

No domingo, Washington anunciou que as suas tropas iriam deixar as zonas da Síria junto à fronteira com a Turquia, pois Ancara iria "em breve" lançar uma "operação há muito prevista" no norte sírio.

No dia seguinte Trump reorientou o seu discurso, assegurando não ter "abandonado" os curdos e ameaçando "destruir" a economia da Turquia no caso desta ultrapassar os limites na sua intervenção contra as milícias curdas.

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