Saída da Argentina do Grupo de Lima é "cumplicidade com ditadura"
O governo argentino considerou ser um ato de "cumplicidade com a ditadura [do Presidente venezuelano] Nicolas Maduro" o anúncio do provável futuro Presidente do país em sair do Grupo de Lima se vencer as presidenciais de 27 de outubro.
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Mundo Venezuela
A posição das autoridades argentinas foi expressa pelo chefe da diplomacia, e ex-embaixador em Portugal, Jorge Faurie.
"Neutralidade é cumplicidade com a ditadura de Nicolás Maduro", disse Jorge Faurie, ao comentar o anúncio do candidato presidencial Alberto Fernández de, em caso de vitória nas eleições do próximo dia 27 retirar o país do Grupo de Lima e poder aderir ao Grupo de Contacto Internacional.
Alberto Fernández anunciou que a Argentina deixará o Grupo de Lima e adotará uma estratégia conciliadora juntando-se ao México e ao Uruguai, sugerindo uma adesão ao Grupo de Contacto Internacional.
"A posição do México e do Uruguai na questão da Venezuela é a posição correta para enfrentar um problema que todos vemos. A Argentina deve ser parte dos países que querem ajudar os venezuelanos a encontrarem uma saída. Estar no Grupo de Lima é contraditório com isso", sustentou Alberto Fernández.
Segundo o chefe da diplomacia argentina, que falava uma entrevista a uma emissora, "a neutralidade de alguns países da região com o regime de Nicolás Maduro na Venezuela é cumplicidade", aludindo às posições de Uruguai e México.
"Os países que se calaram perante as atrocidades do nazismo terminaram sendo cúmplices de opinião pública. É a mesma coisa", comparou o governante.
Alberto Fernández nega-se a definir o regime de Nicolás Maduro como uma ditadura porque "as ditaduras têm origem não-democrática e esse não é o caso da Venezuela", mas admite que "se complicou a convivência democrática" naquele país.
Em agosto, Alberto Fernández já tinha questionado a presença da Argentina no Grupo de Lima e sinalizado que o caminho deveria ser o adotado pelo México e pelo Uruguai.
"O facto de a Argentina ser parte do Grupo de Lima e que esteja condicionada às políticas norte-americanas nos fez recuar muito como país", apontou.
Assim, se ganhar as eleições dentro de 19 dias, Alberto Fernández repetirá o caminho adotado pelo eleito Presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador, que, ao ganhar as eleições em 2018, retirou o México do Grupo de Lima, adotou a neutralidade e não reconhece o opositor Juan Guaidó como Presidente interino.
O atual Presidente argentino, Mauricio Macri, foi pioneiro na região em classificar o regime de Nicolás Maduro com uma ditadura e em pedir a libertação dos presos políticos.
Argentina e Brasil lideram o Grupo de Lima, onde estão os países americanos que reconhecem Juan Guaidó como Presidente interino.
Em declarações à Lusa, o sociólogo e analista político argentino Ariel Goldstein, autor do livro "Bolsonaro, a democracia do Brasil em perigo", disse que "a Venezuela será um divisor de águas na região. A Argentina vai sair do Grupo de Lima e adotar uma postura como a de Uruguai e México, mais de mediação e diálogo. Haverá menos pressão argentina sobre Maduro e isso vai gerar curto-circuitos com o Brasil e com os Estados Unidos".
O Grupo de Lima surgiu em agosto de 2017 para abordar a crise venezuelana como resposta à impossibilidade de aprovar resoluções contra a Venezuela na Organização dos Estados Americanos (OEA), devido ao bloqueio dos países das Caraíbas, beneficiados pelo petróleo venezuelano.
Num país onde um Presidente é eleito com 45% dos votos, o candidato de Cristina Kirchner, Alberto Fernández, obteve 47%, com uma inesperada diferença de 16 pontos, considerada praticamente irreversível para Mauricio Macri, que concorre à reeleição.
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