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Demarcação de terras já, pede indígena no Vaticano

Francisco tem o nome do Papa que convocou um sínodo sobre a Amazónia, que hoje começou, e onde o indígena do povo Apurinã espera "anunciar e denunciar" o que se passa no Brasil, enquanto pede a demarcação de terras.

Demarcação de terras já, pede indígena no Vaticano
Notícias ao Minuto

13:54 - 06/10/19 por Lusa

Mundo Vaticano

"Espero que o sínodo ajude a que o mundo nos possa ouvir para anunciar e denunciar o que, de facto, ocorre no nosso país, sobre questões da nossa terra, da nossa floresta, que é a nossa casa, a nossa vida, e sem ela não sobrevivemos", afirmou no Vaticano Francisco Chagas, de 42 anos, do sul Manaus, Amazonas, este um dos estados brasileiros da Amazónia.

Lamentando o desrespeito pelo território, pela floresta e pela água, o indígena, que integra uma comunidade de "mais de 300 pessoas", acrescenta àqueles problemas "o preconceito, a discriminação", concluindo que isso "afeta muito" a população, assim como a ausência de educação ou saúde.

"O que nós queremos é respeito e dignidade, para que possamos ter os nossos territórios", declarou, apelando: "Demarcação já, demarcação já, demarcação já, no nosso país".

Em novembro do ano passado, após ter sido eleito Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, disse a um canal de televisão do país que não haveria delimitação de terras indígenas, pois "os índios não podem ser confinados a uma reserva como um animal num zoológico".

No mesmo mês, Bolsonaro acrescentou: "O índio é um ser humano igualzinho a nós. Quer o que nós queremos e não podemos usar o índio, que ainda está em situação inferior a nós, para demarcar essa enormidade de terras que, no meu entender poderão ser, sim, de acordo com a determinação da ONU, novos países no futuro".

Sobre o trabalho dos missionários, Francisco Chagas explicou que há uma "equipa itinerante", do Conselho Indigenista Missionário, ao qual agradece a presença no Vaticano, e que tem ajudado o povo Apurinã.

O Conselho Indigenista Missionário (CIM) é um organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil que atua na defesa dos direitos povos indígenas e dos seus territórios.

O seu 'site' refere que o CIM foi criado em 1976, "no auge da ditadura brasileira, quando o Estado brasileiro adotava como centrais os grandes projetos de infraestrutura e assumia abertamente a integração dos povos indígenas à sociedade maioritária como perspetiva única".

Também de Manaus, mas do povo indígena Munduruku, Maria Goreti de Oliveira, de 60 anos, alerta para a presença das empresas madeireiras e das "grandes hidroelétricas" na Amazónia.

"Os nossos peixes estão a morrer porque as hidroelétricas e as [empresas] mineradoras derramam mercúrio dentro do rio e o peixe come", adiantou, para dizer que a população come depois esse peixe contaminado e adoece ou morre.

Para a indígena do povo Mundourucu, o pedido é apenas um: "Mais do que nunca ser ouvido. Nós que estamos lá que sofremos com a água contaminada, que sofremos com a nossa floresta".

Maria Goreti adiantou que o povo indígena "não pensa na riqueza, em guardar riqueza" -- vai à floresta ou ao rio buscar um animal e come, e no dia seguinte faz o mesmo -, criticando as intenções das outras pessoas que vão para a Amazónia, para "acumular riqueza, desmatar".

"Vê-se balsas cheias, cheias de madeiras", exemplificou Maria Goreti, que integra uma comunidade na ordem das 300 pessoas, alertando: "Nós, que somos filhos da terra, vai chegar o momento em que não temos mais nada para comer. Então, aqui, o nosso grito é esse".

Considerando que a Igreja Católica "está muito longe da realidade do povo, do ribeirinho, do indígena", a indígena antecipa que neste sínodo não se vai avançar muito sobre a causa da Amazónia.

Quanto a falar do Presidente do Brasil, um militar, como faz questão de salientar, é "triste": "Está a ser tirado tudinho da Amazónia", acrescentou, esperançada de que outros países se juntem à luta da Amazónia.

O Papa Francisco anunciou um sínodo especial sobre a Amazónia em 15 de outubro de 2017, que arrancou hoje e termina no dia 27. Tem como tema "Amazónia: Novos caminhos para a Igreja e por uma ecologia integral".

A Amazónia, que tem a maior biodiversidade registada numa área do planeta, tem cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França). Foi fustigada por incêndios em agosto.

De acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), entidade coordenadora e principal executora da política para os indígenas do Governo do Brasil, a população indígena do país é de 817.963 pessoas, das quais 502.783 vivem em zonas rurais e 315.180 habitam as zonas urbanas.

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