Kurz, 33 anos, conseguiu 37% dos votos para o seu Partido Popular Austríaco (ÖVP, conservador), o que lhe assegura o regresso ao cargo de chanceler, mas, com 71 dos 183 deputados do parlamento, o deixa aquém da maioria absoluta, obrigando-o a encontrar um parceiro de governo.

Fora de causa parece estar uma reedição da coligação com o Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ, extrema-direita), que obteve 16,1%, menos dez pontos percentuais que em 2017, e cujo líder, Norbert Hofer, afirmou no domingo à noite que o partido está a "preparar-se para ficar na oposição".

A coligação ÖVP-FPÖ, formada em 2017, foi dissolvida depois do escândalo Ibizagate, que envolveu o então líder da extrema-direita Heinz-Christian Strache, filmado numa casa em Ibiza a discutir com uma suposta sobrinha de um oligarca russo a concessão de contratos públicos em troca de apoio financeiro ao FPÖ.

Ao longo da campanha e no próprio dia das eleições, Kurz recusou clarificar com quem pretende formar governo, mas a imprensa austríaca de hoje aposta numa coligação com os Verdes, que quadruplicaram a sua votação, alcançando os 14%, e regressam ao parlamento depois de dois anos de ausência.

Possíveis negociações entre os dois partidos adivinham-se difíceis, quer pela linha dura anti-imigração que Kurz assumiu ao governar com a extrema-direita, quer pela sua oposição à criação de uma taxa de carbono, uma das medidas no topo da agenda dos ecologistas.

O líder dos Verdes, Werner Kogler, advertiu que só considera possível um pacto com Kurz se houver "uma mudança política radical".

Além disso, segundo sondagens, apenas um terço (32%) dos eleitores dos Verdes aprova uma coligação com o ÖVP e apenas um quinto (20%) dos eleitores conservadores veem um tal acordo como positivo.

O jovem chanceler pode ainda coligar-se com o Partido Social-Democrata da Áustria (SPÖ, centro-esquerda), que teve o seu pior resultado desde a II Guerra Mundial, com 21,7%, mas continua a ser o segundo maior partido austríaco.

Os sociais-democratas também não parecem especialmente entusiasmados com a ideia de se coligarem com os conservadores, que acusam de deriva populista sob o comando de Kurz, mas a líder do SPÖ, Pamela Rendi-Wagner, manifestou abertura a conservações com o ÖVP.

Frequente na política austríaca as últimas décadas, uma "grande coligação" ÖVP-SPÖ é contudo vista por muitos eleitores como um regresso a políticas do passado e o próprio Kurz deve muita da sua popularidade à perceção de que operou uma verdadeira mudança política em 2017, ao pôr fim a um governo de coligação entre conservadores e sociais-democratas.

Há ainda a possibilidade de Kurz formar um governo minoritário.

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