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Viver no Brasil pode ser uma "experiência mortal"

A filósofa e escritora Márcia Tiburi, que deixou o Brasil por ameaças de morte, alertou hoje, durante o Festival Internacional de Literatura de Berlim, que viver no país tem sido para muitos uma "experiência mortal".

Viver no Brasil pode ser uma "experiência mortal"
Notícias ao Minuto

23:04 - 13/09/19 por Lusa

Mundo Márcia Tiburi

A autora de vários livros - os três últimos, romances sobre exílios e desterros - qualifica a política de Bolsonaro de "triste" e "deprimente", apelando a todos os brasileiros que vivem fora a "fazerem guerrilha" e a "serem fortes".

"No Brasil, o Presidente da República, governadores e deputados fascistas mandam matar em aberto. Fazem a sugestão da morte. Sugerem, e quem quiser pratica esse ato por conta própria", revela a autora de 'Como Conversar com Um Fascista' durante o painel 'Brasilien unter Bolsonaro II' ('Brasil sob o governo de Bolsonaro'), realizado hoje à noite.

"Todos os que estamos aqui nos sentimos um pouco perdidos, órfãos", disse por seu lado o historiador de arte Rafael Cardoso à plateia alemã e brasileira, do Instituo Cervantes.

"Já éramos bastardos, agora somos bastardos órfãos. É uma situação bastante dolorosa, sentir-se desmembrado da sua própria identidade e da sua terra. É o desterro", sublinhou o também escritor, a viver em Berlim desde 2012.

O autor do livro "O Remanescente", que se desenrola durante o período da Segunda Guerra Mundial, faz uma comparação entre o Brasil atual e o período do Holocausto alemão.

"A cada dia que eu acordo, que abro o jornal, que vejo as redes sociais, vejo mais uma coisa inacreditável, inaceitável, horrorosa a acontecer. E não hesito dizer que estamos a viver um novo fascismo no Brasil. Não é o fascismo da década de 30, como todo o sistema político, evolui. Ele tem outras caras e outro texto, mas é o mesmo", descreve.

Leonardo Tonus apresenta-se ao público que assiste como escritor, professor na Universidade Sorbonne de Paris, mas também como "homem homossexual emigrado".

"Eu não era um exilado. Sempre me caracterizei como um emigrante, como muitos aqui. Mas, cada vez mais, com a realidade do Brasil, tenho-me sentido cada vez mais um exilado. O exilado é aquele que é expulso de um país e sobretudo aquele que é amputado de alguma coisa, e isso define cada vez mais a minha existência aqui fora", partilha o autor de 'Agora Vai Ser Assim'.

"Esta sociedade que temos aqui hoje foi preservada na memória de pessoas que foram expulsas à base da porrada. Nós hoje somos essas pessoas. Nós somos o Brasil que não vota no fascismo, que vai combater isto até à morte. Precisamos não perder de vista esse outro Brasil, um país que tem muitas qualidades e que nós amamos, mas que está a ser corroído por dentro", acrescentou.

O painel 'Brasilien unter Bolsonaro II' decorreu no Instituto Cervantes de Berlim, na 19.ª edição do Festival Internacional de Literatura de Berlim (internationales literaturfestival berlin), que termina a 21 de setembro.

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