Argelinos manifestam-se pela 30ª sexta-feira consecutiva
Os argelinos mobilizaram-se na 30ª sexta-feira consecutiva de manifestações para contestarem a rápida convocação de eleições presidenciais, após a adoção pelo Parlamento de dois textos que podem permitir o anúncio de um escrutínio até final de dezembro.
© Reuters
Mundo Argélia
Apesar da oposição da rua, que considera a realização das presidenciais no curto prazo como uma forma de o "sistema" se manter no poder pela fraude, as Forças Armadas, que na prática assumiram os destinos do país magrebino, parecem decididas em acelerar o processo.
Na quarta-feira, o ministro da Justiça Belkacem Zeghmati apresentou dois projetos de lei adotados em apenas dois dias pelas duas câmaras, tendo a Assembleia popular nacional (APN, o parlamento) aprovado o texto na quinta-feira numa sessão boicotada pelos partidos da oposição, e hoje o Senado.
O primeiro texto prevê a criação de uma "autoridade independente" responsável pelas eleições e que deve assumir "todas as prerrogativas das autoridades públicas, as administrativas em matéria eleitoral".
Esta instância terá por função organizar o processo eleitoral e "supervisionar todas as suas etapas, desde a convocação do corpo eleitoral até ao anúncio dos resultados preliminares", segundo Zeghmati.
O segundo texto sugere uma revisão da lei eleitoral, destinada a garantir "transparência, normalidade e neutralidade" das eleições.
Estes dois projetos foram propostos por uma "instância de diálogo" responsabilizada pelo poder para ultrapassar a crise político-institucional na sequência da demissão em 02 de abril do presidente Abdelaziz Bouteflika, após 20 anos no poder, por pressão da rua e da hierarquia militar.
A adoção destes dois projetos ocorreu após o chefe de estado-maior das Forças Armadas, general Ahmed Gaid Salah, o atual e efetivo "homem forte" do país, ter defendido a rápida realização das eleições presidenciais.
O general exigiu que o decreto sobre a convocação do escrutínio seja publicado no domingo para permitir, de acordo com os prazos legais de 90 dias, que a data da eleição seja programada para meados de dezembro. Inicialmente previstas para 04 de julho, as presidenciais foram anuladas devido à ausência de candidatos.
O amplo movimento de contestação popular (o "Hirak"), pretende o desmantelamento prévio do aparelho herdado dos 20 anos da presidência Bouteflika e novas instituições de transição, duas reivindicações que o poder continua a recusar.
Apesar da intensa chuva registada na quinta-feira, em particular em Argel onde diversos bairros ficaram inundados, os manifestantes concentram-se de novo hoje e em grande número no centro da capital, referiu a agência noticiosa AFP. As palavras de ordem mais escutadas exigiam a demissão do governo "especialista na fraude", e a libertação dos detidos de opinião.
Esta mobilização surge dois dias após a prisão de Karim Tabbou, figura destacada do "Hirak" e indiciado por "atentado à moral das Forças Armadas". "Libertação de Karim Tabbou", gritaram hoje os manifestantes.
A polícia voltou a ocupar zonas estratégicas de Argel, também para permitir o afluxo de manifestantes vindos dos arredores, e procedeu a várias detenções antes do início do desfile, adiantou a AFP.
De acordo com jornalistas locais e 'sites' de informação, a mobilização também foi muito significativa em diversas cidades do país, incluindo as mais importantes, como Constantina (nordeste), Oran (noroeste) e Annaba (nordeste).
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