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Bandeiras da China firmes contra vento separatista em prefeitura tibetana

Nas ruas de Yushu, a cada cinquenta metros, surgem hasteadas duas bandeiras da República Popular da China, não de pano, mas em material duro - cinco estrelas douradas em relevo no fundo vermelho.

Bandeiras da China firmes contra vento separatista em prefeitura tibetana
Notícias ao Minuto

08:28 - 11/08/19 por Lusa

Mundo Reportagem

Nesta prefeitura autónoma tibetana, na província de Qinghai, as bandeiras, assim como palavras de ordem a apelar à unidade étnica e ao respeito pela liderança do Partido Comunista (PCC), visam afastar os fantasmas do separatismo, quando se celebram 60 anos desde uma frustrada rebelião contra a administração chinesa no Tibete, que terminou com o exílio do Dalai Lama na Índia.

Galardoado em 1989 com o Prémio Nobel da Paz, o líder político e espiritual dos tibetanos é, para as autoridades chinesas, "um lobo com pele de cordeiro", sendo a sua figura expressamente proibida no país.

"Há quem seja preso por partilhar imagens do Dalai Lama no Wechat", revela à agência Lusa uma tibetana, estudante universitária, referindo-se à principal rede social da China.

Situado no oeste chinês, junto à fronteira com o Tibete, Qinghai é a província chinesa com menor densidade populacional. Mais de 20% dos cinco milhões de habitantes são tibetanos. Foi aqui que nasceu o atual Dalai Lama, em 1935.

Ao contrário do Tibete, esta província não proíbe a visita de jornalistas estrangeiros.

No planalto Qinghai - Tibete, a quatro mil metros de altitude, largas planícies pontuadas por lagos encerram-se entre montanhas, cujo topo permanece coberto por neve todo o ano. Mesmo no pico do verão, sopra aqui um vento gélido, lembrando a proximidade aos Himalaias.

Ao longo do planalto, observam-se tibetanos a caminhar, num percurso de meses, por entre vales e montanhas, até Lhasa, o centro espiritual do budismo tibetano.

Às condições inóspitas acrescem-se dificuldades burocráticas: "Para nós, é difícil visitar Lhasa. Precisamos de autorização", descreve a estudante tibetana.

"E mais complicado é para os Lamas", revela, à medida que o PCC tenta assumir controlo sobre o processo para encontrar a próxima reencarnação do Dalai Lama.

Pequim selecionou já o seu Panchen Lama, a segunda principal figura do budismo tibetano e a quem cabe encontrar a próxima reencarnação do Dalai Lama (e vice-versa).

Em 1995, o Dalai Lama identificou Gendun Choekyi Nyima, um menino de seis anos, como o 11.º Panchen Lama, mas este logo desapareceu e nunca mais foi visto.

Também os esforços de Pequim para assimilar os tibetanos, que outrora geriram um império que incluía partes do sul e do centro da Ásia, parecem estar a surtir efeito.

Numa remota aldeia tibetana, a quase 200 quilómetros do centro de Yushu, e onde só é possível chegar através de estradas de terra batida, a vida decorre como há cem anos.

As famílias passam o dia em tendas, semelhantes aos 'yurts' mongóis: as mulheres, à volta do fogão, preparam refeições e chá de manteiga. Os homens conversam durante horas a fio, entre cigarros e gargalhadas.

Vivem sobretudo da criação de iaques, bovinos típicos da região dos Himalaias, e da apanha de fungos de lagarta, no mês de junho, o que mobiliza homens, mulheres e crianças. Não há saneamento básico, eletricidade ou rede móvel.

Mas ao fim de semana, quando se reúnem com os filhos, que estudam em regime de internato - a escola mais próxima fica a mais de 200 quilómetros - as músicas tradicionais tibetanas que há séculos cantam juntos alternam com temas pop da China moderna, que entoam também nos telemóveis.

As crianças praticam os carateres chineses, parte dos trabalhos de casa, e exprimem-se num chinês perfeito, impercetível para os pais.

Muitos dos tibetanos ouvidos pela Lusa dizem que gostariam de visitar Hong Kong e Taiwan, onde liberdades fundamentais, incluindo religiosas, estão asseguradas.

Outros regressaram à terra natal após trabalharem alguns meses nas prósperas cidades do litoral da China.

"Há muito stress, toda a gente obcecada com dinheiro. Aqui somos mais felizes", comenta uma tibetana, que trabalhou num restaurante, em Pequim, durante seis meses.

A estudante universitária diz que gostava de viver nos Estados Unidos e fala de um primo que foi estudar para a Índia, onde abriu conta no Facebook, rede social bloqueada na China.

Twitter, WhatsApp ou Instagram e os principais órgãos de comunicação internacionais estão também bloqueados no país.

"Ele diz que ali é possível ver o mundo", afirma.

"Nós aqui estamos fechados", lamenta.

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