Argelinos apelam à "desobediência civil" em nova manifestação
Os argelinos voltaram hoje a manifestar-se na capital pela 24.ª sexta-feira consecutiva e pela primeira vez sugeriram a "desobediência civil", após a recusa pela hierarquia militar de "medidas de apaziguamento" e a manutenção de forte dispositivo policial.
© Lusa
Mundo Protestos
"A desobediência civil está a chegar!", foi a nova palavra de ordem lançada hoje pela multidão de manifestantes que desfilou sem incidentes no centro da capital argelina.
A mobilização voltou a registar forte participação, mesmo que esteja mais reduzida face aos grandes cortejos dos primeiros meses do 'Hirak', o movimento de contestação ao poder iniciado em 22 de fevereiro.
Os manifestantes dispersaram ao início da tarde, sem incidentes.
Em Constantine e Annaba, as terceira e quarta maiores cidades do país, foram também escutados apelos à desobediência civil, e ainda em Bord Bou Arreridj (150 quilómetros a sudeste de Argel), um dos berços da contestação, referiram jornalistas locais citados pela agência noticiosa AFP.
À semelhança das últimas semanas, numerosos veículos da polícia estavam posicionados dos dois lados das ruas do centro da cidade percorridas pelos manifestantes, enquanto outros veículos bloqueavam o acesso às ruas laterais.
Milhares de polícias foram enviados para o centro da capital e durante a manhã cerca de dez pessoas foram detidas, por motivos desconhecidos, e conduzidas por um furgão para local não determinado, precisou a AFP.
"Gaïd, demissão", foi outra exigência repetida pelos manifestantes, numa referência ao chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, general Ahmed Gaïd Salah, o verdadeiro "homem forte" do país após a demissão do Presidente Abdelaziz Bouteflika, em 02 de abril, por pressão popular.
Para além da contestação aos símbolos do regime, o movimento de contestação também tem manifestado a sua oposição ao diálogo com o governo do Presidente interino do país, Abdelkader Bensalah.
As presidenciais convocadas para 04 de julho para eleger um sucessor de Bouteflika foram anuladas devido à ausência de candidatos, implicando a manutenção de Bensalah na chefia do Estado apesar do fim do prazo interino de três meses, previsto pela Constituição.
Face ao "Hirak", que exige o afastamento dos antigos fiéis de Bouteflika antes da convocação de qualquer escrutínio, em particular de Bensalah e Gaïd Salah, o poder propôs definir as modalidades das presidenciais, para garantir equidade, através de um "diálogo".
Foi estabelecida uma "Instância nacional de diálogo", mas diversas personalidades suscetíveis de representar o "Hirak" recusaram participar, e acusaram esta instância de fazer o jogo do poder.
Fortemente contestada desde que foi anunciada há uma semana, esta instância voltou a descredibilizar-se na quinta-feira, ao renunciar às "medidas de apaziguamento" que tinha exigido antes de "qualquer diálogo". Pelo contrário, anunciou a intenção de iniciar as consultas "imediatamente".
No entanto, e durante toda a semana, o poder manifestou abertamente a intenção de não ceder a nenhuma das exigências do 'Hirak', incluindo o fim da repressão policial e a libertação dos manifestantes detidos.
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