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Artista alemã cria cartazes imobiliários fictícios contra a especulação

Edifícios chamativos e um contacto de uma agência aparecem nos três cartazes espalhados por Berlim, criados pela artista alemã Dorothea Nold. O projeto fictício é uma chamada de atenção para a especulação imobiliária.

Artista alemã cria cartazes imobiliários fictícios contra a especulação
Notícias ao Minuto

17:47 - 21/07/19 por Lusa

Mundo Dorothea Nold

Formas nada geométricas, cores extravagantes, cavalos e árvores nos telhados, são algumas das características dos edifícios retratados em três cartazes. Os anúncios imobiliários são fictícios, mas a criadora já recebeu mais de duas centenas de chamadas de interessados e curiosos. As dificuldades para encontrar casa em Berlim podem explicar este fenómeno.

"O projeto arrancou há cerca de dois anos, quando eu comecei a observar com mais detalhe todos os problemas de construção que Berlim estava a enfrentar, com um número crescente de pessoas a chegar à cidade. As rendas começaram a subir muito, a quantidade de apartamentos disponível começou a cair, muitos amigos e colegas perderam os seus estúdios de arte, ou perderam o seu lugar de trabalho em geral. Os bairros da cidade estavam a mudar muito rapidamente", explica à agência Lusa a artista alemã Dorothea Nold.

Decidiu desenhar três cartazes imobiliários e fazer parte do "louco processo de construção que a cidade está a viver".

Os preços das casas em Berlim subiram 20,5% em 2017, mais rápido do que em qualquer outra cidade do mundo. Em junho, o governo local aprovou uma medida para congelar as rendas por um prazo de cinco anos, a partir de 2020, em resposta aos protestos dos moradores da capital alemã.

"Os meus objetivos foram mudando", conta a artista alemã. "Primeiro os cartazes funcionavam como uma espécie de provocação, já que estão em sítios onde eu não quero que se construa. Chocar talvez seja um exagero, mas provocar surpresa era uma das metas. Eu não sou completamente contra a construção na cidade, entendo que seja necessário, mas penso que é preciso repensar a forma em como esse processo está a ser levado a cabo", explica.

O cartaz mais notado pode ser visto logo à saída do metro de 'Moritzplatz', na praça que lhe dá o nome. Ao lado há um jardim comunitário que várias pessoas cuidam há vários anos.

"De vez em quando surgem rumores de que a cidade vai vender este terreno, por isso há muitas conversas e negociações à volta do espaço. Foi aqui que colocamos o primeiro cartaz com as 'Princess Towers'", aponta a artista de 37 anos.

Junto à imagem dos edifícios, aparece o contacto através do qual os investidores e compradores podem "fazer a reserva agora". Há também vários nomes de entidades fictícias, entre elas a dos "engenheiros desesperados", supostamente a cargo do projeto (Ing. Büro Desperate Development).

"São edifícios utópicos e futuristas com referências arquitetónicas, mas também inspiradas em algumas esculturas que fiz, e que tornei mais coloridas através de 'collage' (...) Acredito que se alguém realmente os quiser construir, até pode fazê-lo, mas não obedecendo às leias da estética nem da física. Seria mesmo muito difícil", descreve Dorothea Nold.

"Ao mesmo tempo procurei formas que fogem às linhas excessivamente geométricas que vemos constantemente em Berlim. Edifícios de cinco andares que parecem todos iguais. É uma maneira diferente de olhar para a cidade", acrescenta.

A única coisa real dos cartazes é o contacto da artista, que não tem parado de receber chamadas com reações "muito diferentes".

"Pessoas interessadas em comprar um desses apartamentos e que levaram o projeto mesmo a sério, ainda que eu ache que se olharmos para os cartazes com atenção, percebemos que não é verdadeiro. Também recebi algumas chamadas de pessoas que gostaram do projeto e quiseram agradecer. E muitos curiosos", refere.

Dorothea Nold acredita que o futuro da construção na capital da Alemanha, outrora com rendas baixas, depende muito da vontade política. Mas não tem muita esperança.

"Neste momento não confio muito no caminho que a construção está a seguir, vejo que o governo está a tentar recuperar propriedade privada e impor mais controle neste setor, mas muitas pessoas já tiveram de deixar os seus apartamentos ou até a cidade por não conseguirem pagar as rendas. Por isso, atualmente não confio no rumo das coisas, mas claro que espero que tudo melhore", remata.

Os três cartazes, junto ao jardim 'Prinzessinnengarten', na zona de Treptow e ao lado da 'Künstlerhaus Bethanien' vão manter-se, pelo menos até ao final do mês.

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