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Acordo UE-Mercosul no centro da campanha que começa na Argentina

O recém-assinado acordo entre a União Europeia e o Mercosul tornou-se bandeira do Governo e alvo da oposição na disputa eleitoral argentina que começa hoje num país dividido entre defensores do comércio livre e protecionistas.

Acordo UE-Mercosul no centro da campanha que começa na Argentina
Notícias ao Minuto

08:07 - 12/07/19 por Lusa

Mundo MERCOSUL

Como representante do protecionismo, o candidato da ex-Presidente Cristina Kirchner e líder nas sondagens, Alberto Fernández, que promete rever o acordo assinado, pondo em dúvida o sucesso das negociações entre os dois blocos.

Do outro lado, o Presidente Mauricio Macri, candidato à reeleição, defensor de uma economia aberta e de uma "Argentina inserida no mundo", como gosta de ilustrar.

Macri classifica o acordo como "histórico", enquanto a oposição como "uma tragédia". Em jogo estão dois modelos de país, completamente antagónicos entre si.

Nas últimas horas, na prévia do lançamento da campanha nas ruas e nos meios de comunicação, o Presidente Mauricio Macri, da coligação "Juntos por el Cambio" (Juntos pela Mudança), exaltou a sua política externa coroada com o acordo entre o Mercosul e a União Europeia.

"O acordo é uma auto-estrada ao crescimento", definiu. "É o caminho definitivo para a Argentina sair do atraso e ser parte dos empregos do futuro", apontou.

Enquanto Macri capitaliza o acordo para um futuro promissor, Alberto Fernández, da coligação Frente de Todos, vaticina a destruição do emprego e promete "rever os acordos que Macri tem assinado pelo mundo".

"Esse acordo foi anunciado precipitadamente para Macri poder usar como uma conquista na sua campanha eleitoral. Pelo que se sabe até agora, condena a Argentina a um processo de 'desindustralização'. Se a Argentina perde, não tem sentido assinar um acordo com a Europa", definiu Fernández.

Em linha com a oposição, a Central Geral dos Trabalhadores (CGT), que apoia Alberto Fernández, classifica o acordo como um "industricídio", isto é, o homicídio da indústria argentina, especialmente no setor automotivo e de auto-peças que se mudaria ao Brasil e destruiria empregos na Argentina.

O setor agropecuário argentino celebra o acordo enquanto o setor industrial oscila entre o apoio e a preocupação. Os empresários temem que o Brasil, principal importador de produtos manufaturados da Argentina, substitua-os pelos produtos europeus.

Para ganhar competitividade, o Presidente Macri anuncia aos empresários que, se reeleito, implementará uma série de reformas no país (previdenciária, tributária, laboral, financeira). Os sindicatos assustam-se ainda mais e abrigam-se no protecionismo prometido por Alberto Fernández.

"O acordo é alvo de uma campanha política polarizada. É tratado da pior maneira possível porque não há espaço o debate nem para matizes", explica o renomado cientista político e consultor em opinião pública, Sergio Berensztein.

"Existe na Argentina uma tradição protecionista que gerou atores sociais, políticos e económicos, além de regiões inteiras do país muito beneficiadas pelo protecionismo histórico. Para esses setores, a concorrência não é possível. Há também aqueles que podem concorrer, mas não estão acostumados a concorrer. Essa disputa entra em choque nessas eleições com dois candidatos com discursos completamente opostos", observa Berensztein.

As sondagens apontam a um país dividido em duas partes praticamente iguais. A vantagem de Alberto Fernández sobre Mauricio Macri varia, em média, em torno de apenas 3 pontos, dependendo da sondagem.

Essa diferença na intenção de voto já foi de oito pontos de vantagem para Fernández em maio, indicando uma contínua recuperação de Macri. Juntos, os dois candidatos somam mais de 80% das intenções de voto, restando 14% de indecisos.

Se Macri perder, o acordo UE-Mercosul pode estar seriamente comprometido. O governo Macri, sem maioria no Parlamento, teria de correr agora para aprovar o acordo antes de 10 de dezembro, quando se renovam os legisladores, mas os legisladores argentinos, também em campanha, já indicaram que não se reuniriam para tratar do assunto em meio à corrida eleitoral.

O Governo brasileiro teme que a disputa política argentina emperre uma aprovação. Por isso, quer aprovar uma cláusula que permita aos países do Mercosul entrarem individualmente no acordo à medida que cada Parlamento aprovar o texto, sem ter de esperar que todos os países do bloco o aprovem, como funciona atualmente.

Essa flexibilidade será um dos pontos em discussão na Cimeira do Mercosul nos próximos dias 16 e 17 na cidade argentina de Santa Fé.

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