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EUA afirmam em Viena que Irão está a praticar "extorsão nuclear"

Os Estados Unidos pediram hoje às potências internacionais signatárias do acordo nuclear com o Irão que não cedam às exigências económicas de Teerão, afirmando que a decisão iraniana de desrespeitar o pacto deve ser encarada como "extorsão nuclear".

EUA afirmam em Viena que Irão está a praticar "extorsão nuclear"
Notícias ao Minuto

16:54 - 10/07/19 por Lusa

Mundo EUA/Irão

A posição de Washington foi transmitida pela embaixadora norte-americana Jackie Wolcott na reunião extraordinária do conselho dos governadores da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), que hoje está a decorrer em Viena (Áustria), a pedido dos Estados Unidos (EUA), para avaliar os últimos desenvolvimentos relativos ao acordo nuclear com o Irão.

A representante norte-americana fazia referência à hipótese de as potências internacionais oferecerem novos incentivos económicos ao Irão para que o país recue e volte a cumprir os compromissos assumidos no acordo assinado em 2015.

A reunião extraordinária da AIEA acontece dois dias depois dos inspetores desta agência da ONU terem confirmado que Teerão começou a enriquecer urânio a um nível proibido pelo pacto internacional.

Segundo Jackie Wolcott, a recente decisão de Teerão é equivalente a "extorsão nuclear".

Para a embaixadora norte-americana, "o mau comportamento" do Irão "não deve ser recompensado", acrescentando que Washington está empenhado "em negar (a Teerão) os benefícios que procura com as mais recentes provocações".

Jackie Wolcott reiterou que Washington acredita que o acordo nuclear foi ineficaz, afirmando ainda que os EUA permanecem "abertos a negociações sem pré-condições".

O representante da Rússia (outra das potências signatárias do acordo) na reunião da AIEA, Mikhail Ulyanov, ripostou, afirmando que Washington não pode rejeitar o acordo e depois pedir ao Irão que aplique totalmente o mesmo acordo.

"Embora, por alguma razão, só se referirem a Teerão, a verdade é que os Estados Unidos, que estão a recusar-se a cumprir as suas próprias obrigações ao abrigo do acordo nuclear, perderam qualquer direito de exigir isso aos outros", declarou Mikhail Ulyanov.

O representante do Irão, Kazem Gharib Abadi, destacou, por sua vez, que o programa nuclear iraniano tem "propósitos pacíficos", garantindo que Teerão está preparado para restaurar a total aplicação do acordo "proporcionalmente à implementação dos compromissos por todos os outros participantes".

Kazem Gharib Abadi criticou a decisão dos EUA de saírem do acordo e de restabelecerem sanções, defendendo que tal passo "não é legítimo nem legal" e que não deveria ter sido aceite pela comunidade internacional.

"Devido às consequências dispendiosas e previsíveis das sanções, devem ser vistas como armas de guerra e meios de agressão", frisou o representante iraniano.

"As sanções económicas são, na verdade, uma punição coletiva das pessoas comuns, contrárias aos objetivos e propósitos dos direitos humanos, e devem ser consideradas como crimes contra a humanidade", concluiu Kazem Gharib Abadi.

Os EUA decidiram em maio de 2018 abandonar unilateralmente o pacto internacional e restaurar sanções que têm penalizado fortemente a economia iraniana.

Entre outros setores, as sanções atingiram a indústria petrolífera, vital para a economia do Irão, que vive uma crise marcada pela inflação e desvalorização da moeda (rial iraniano).

Na sua intervenção na reunião da AIEA, a União Europeia (UE), bloco que integra três países signatários do acordo nuclear (Alemanha, França e Reino Unido), exortou o Irão a recuar e a atuar em conformidade com o pacto, mas também "lamentou profundamente" a saída dos EUA e "apelou a todos os países de se absterem de tomar quaisquer ações que impeçam a execução dos compromissos".

Do lado europeu, o Presidente francês, Emmanuel Macron, assumiu a liderança dos esforços para tentar salvar o acordo nuclear, tendo mantido contactos, em separado, com os Presidentes do Irão e dos EUA, Hassan Rouhani e Donald Trump, respetivamente.

Também com o objetivo de diminuir a tensão em redor do acordo nuclear, Paris enviou esta semana um conselheiro diplomático a Teerão para contactos com as autoridades locais, nomeadamente com Ali Shamkhani, secretário-geral do Conselho Supremo de Segurança Nacional e uma das figuras mais poderosas na hierarquia iraniana.

Durante o encontro com o conselheiro Emmanuel Bonne, e segundo relataram os 'media' oficiais iranianos, Shamkhani afirmou que o Irão não irá recuar na decisão de enriquecer urânio acima dos limites estabelecidos no acordo, mencionando uma "estratégia inalterável", e apontou a "falta de vontade" dos países europeus em fornecer uma solução que alivie a pressão das sanções dos EUA.

Já o Presidente Rouhani disse, depois do encontro com Bonne, que "o Irão deixou totalmente o caminho aberto para a diplomacia e para a negociação".

Concluído em julho de 2015 em Viena, o acordo internacional com o Irão (assinado então pelos Estados Unidos, Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia) prometia o alívio das sanções internacionais contra Teerão em troca de limitações e de uma maior vigilância internacional do programa nuclear do país.

A República Islâmica tinha anunciado, no início de maio último, que iria começar gradualmente a quebrar os compromissos assumidos no acordo caso os outros signatários internacionais não alcançassem uma solução que permitisse contornar as sanções norte-americanas e as respetivas implicações na economia iraniana.

As autoridades de Teerão passaram das palavras aos atos e anunciaram, na segunda-feira, que estavam a produzir urânio enriquecido em pelo menos 4,5%, em resposta ao restabelecimento das sanções por parte de Washington.

O grau máximo de enriquecimento de urânio permitido pelo acordo é de 3,67%.

Teerão sempre insistiu que o seu programa nuclear tem fins pacíficos, negando qualquer tentativa de desenvolver armas nucleares.

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