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Irão pode acabar com acordo ou dar-lhe nova vida se cumprir ameaça

Se o Irão recomeçar a partir de domingo a enriquecer urânio em violação do acordo nuclear de 2015 este pode acabar ou ganhar nova vida, mas Teerão tem razões para fazer esta ameaça, segundo analistas contactados pela Lusa.

Irão pode acabar com acordo ou dar-lhe nova vida se cumprir ameaça
Notícias ao Minuto

08:06 - 06/07/19 por Lusa

Mundo Analistas

O acordo "fica [em risco], fica. E eu acho que é esse o objetivo", disse Maria João Tomás, vice-presidente do Observatório do Mundo Islâmico, sobre a possibilidade de a República Islâmica cumprir a ameaça.

Já Bernardo Pires de Lima, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), considera que Teerão estará a utilizar a ameaça como uma "arma negocial" para "poder dar uma outra vida ao acordo e não para o matar".

Assinado entre o Irão e os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China), mais a Alemanha, o acordo previa o levantamento de sanções internacionais em troca de limitações e maior vigilância do programa nuclear iraniano.

Mas a 8 de maio de 2018, o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou a retirada unilateral dos Estados Unidos do pacto e restabeleceu sanções devastadoras para a economia iraniana.

Exatamente um ano depois, Teerão anuncia que deixará de respeitar dois dos seus compromissos no pacto, os limites das reservas de urânio pouco enriquecido e de água pesada, e dá 60 dias aos Estados ainda parte do acordo para ajudarem a República Islâmica a contornar as sanções norte-americanas, ameaçando ultrapassar as restrições sobre o grau de enriquecimento de urânio em caso contrário.

O ultimato termina no domingo.

A ameaça do Irão é "uma contra-resposta" à saída e esvaziamento do acordo por parte de Washington, diz Bernardo Pires de Lima, assinalando que as sanções norte-americanas são "basicamente a todos os signatários do acordo", já que abrangem "todos (...) os que continuem a fazer negócios, sobretudo a importar petróleo e gás do Irão", incluindo "europeus, chineses ou russos".

Mantendo o compromisso em relação ao acordo, os europeus, a China e a Rússia não têm sido capazes, devido às sanções norte-americanas, de permitir que o Irão beneficie das vantagens económicas com que contava.

"Morre-se nos hospitais de Teerão por falta de medicamentos, graças às sanções americanas sobre as farmacêuticas. É dramática a situação que se lá vive", indica Maria João Tomás.

O investigador do IPRI assinala que "o rasgar do acordo" por parte dos Estados Unidos há um ano não pôs fim ao pacto nem levou a "irregularidades por parte do Irão", o que está "provado pelas inspeções (da Agência Internacional de Energia Atómica) e está dito pela Alta Representante para a Política Externa da União Europeia (Federica Mogherini)".

"Parece-me natural (...) que o Irão use a única arma negocial que tem neste momento para poder sobreviver economicamente", o enriquecimento de urânio, e com esta ameaça pretenderá "dizer que o risco de proliferação na região (...) é real" e que "para prevenir isso mais vale voltarmos todos a umas negociações", comentou Bernardo Pires de Lima.

O enriquecimento de urânio por parte do Irão, a um grau superior aos 3,67% permitido pelo acordo, é a "justificação perfeita" para "a Arábia Saudita entrar na corrida do nuclear", reforça Maria João Tomás.

Quanto aos Estados Unidos, Bernardo Pires de Lima considera "difícil prever a atuação" da administração Trump, mas não descarta "que um dos caminhos possa ser tentar um novo acordo", ou seja, "novas negociações".

E justifica com as "muitas cambalhotas na administração americana com Estados nucleares, a começar pela Coreia do Norte".

O líder norte-coreano, Kim Jong-un, era "uma espécie de demónio na terra" durante o primeiro ano de mandato de Trump "e hoje em dia já vai em três encontros" entre os dois, adiantou.

Da parte dos europeus, segundo o investigador, existe "vontade (...) de ir até ao fim dos limites possíveis para salvaguardar o acordo mesmo que isso implique alguma tensão extra com Washington".

"A posição dos europeus é a mais difícil" devido à proximidade das relações com os Estados Unidos, considera, admitindo que Paris, Londres e Berlim possam "esticar ao máximo" os prazos previstos no acordo para esclarecer eventuais violações, que dão "margem para avaliações políticas".

Maria João Tomás diz que "seria uma boa medida a Europa não ser tão subserviente aos Estados Unidos" e "ter uma atitude firme", recorrendo ao "protecionismo económico".

"É fácil de falar e difícil de fazer (...), mas é possível", adiantou, assinalando que "utilizar as mesmas armas de Trump é a única maneira que aquele senhor consegue perceber".

"A Rússia e a China vão ficar do lado do Irão", afirma a investigadora, adiantando que Pequim "já está a violar as sanções americanas e vai continuar a fazê-lo".

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