Alberto Fernández viajará ao Brasil nas próximas horas para uma visita que foi organizada pelo antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Lula, Celso Amorim, quem mantém frequente contacto com o candidato argentino.
Cristina Kirchner, candidata à vice-Presidência, escolheu Alberto Fernández, seu ex-chefe do Gabinete de ministros, para liderar a candidatura numa estratégia que os analistas apontam como "Alberto ao Governo; Cristina ao poder".
Numa entrevista à rádio militante argentina La Patriada, a presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, confirmou a visita do candidato de Cristina.
"O PT apoia a chapa de Alberto e Cristina. Alberto viaja para visitar o Lula", disse.
Em 2015, Lula visitou, em Buenos Aires, o candidato derrotado de Cristina à Presidência, Daniel Scioli.
Alberto Fernández chegará a Curitiba como parte do Comité Internacional de Solidariedade em Defesa de Lula e da Democracia no Brasil, também conhecido como Movimento Lula Livre.
Mas o objetivo político da visita é fazer de Lula um cabo eleitoral de Alberto Fernández e de associar a imagem de Cristina Kirchner com a de Lula como vítimas de uma perseguição política.
A ex-Presidente argentina responde em 13 processos penais, a maioria por corrupção. Está desde o último dia 21 sob julgamento e tem oito pedidos de prisão preventiva que só não são executados devido à sua imunidade como atual senadora.
Cada vez que foi intimada pela Justiça a depor, Cristina Kirchner entregou uma declaração escrita na qual se diz vítima de "uma longa perseguição política" e na qual sempre se compara com o ex-presidente brasileiro Lula.
"Se eu me guiar pelo que vejo nas ruas, Cristina não é ladra; é ídola. As pessoas não deixam de me parar e até tiram fotos comigo", disse o advogado defensor de Cristina, Carlos Beraldi.
A estratégia de "perseguição política" ganhou ainda mais força depois dos diálogos revelados pelo site The Intercept Brasil, através dos quais o ex-juiz Sérgio Moro e o Ministério Público brasileiro aparecem numa suposta trama de acusação politicamente tendenciosa.
A visita de Alberto Fernández visa tirar proveito, por analogia, das dúvidas que pairam sobre a condenação de Lula. Ao mesmo tempo, visa dar certa projeção a Alberto Fernández, que não conta com o apoio de líderes internacionais, ao contrário do Presidente Mauricio Macri, candidato à reeleição, que conta com o apoio explícito de líderes como Donald Trump, Emmanuel Macron e Angela Merkel.
A visita também procura marcar uma diferença com a má imagem do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. Em visita de Estado à Argentina, no mês passado, Bolsonaro apelou à responsabilidade dos argentinos para evitar que a "Argentina se torne uma Venezuela", em alusão ao eventual retorno de Cristina Kirchner ao poder.
Diferentemente do atual cargo de senadora - no qual pode perder o foro privilegiado com uma maioria dos votos no Senado -, se eleita vice-presidente, cargo que na Argentina automaticamente representa a Presidência do Senado, Cristina só perderia a imunidade se fosse destituída.
As sondagens indicam um empate técnico entre Mauricio Macri e Alberto Fernández na intenção de voto. Nesse empate, a oposição tem uma pequena vantagem de três ou quatro pontos, mas o número de indecisos é alto. O Presidente Macri acredita conseguir reverter esse quadro a partir dos indecisos.