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Escalada de tensão no Golfo devido a disputa entre EUA e Irão

O ataque a dois petroleiros ao largo do Irão na passada quinta-feira avivou a tensão no Golfo devida à disputa entre Washington e Teerão, alarmando a comunidade internacional que insiste no pedido de contenção aos intervenientes.

Escalada de tensão no Golfo devido a disputa entre EUA e Irão
Notícias ao Minuto

17:02 - 18/06/19 por Lusa

Mundo petroleiros

O diferendo entre os Estados Unidos e o Irão é longo e a crispação está num crescendo desde que o Presidente norte-americano retirou, há um ano, o país do acordo nuclear internacional de 2015, assinado entre os 5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança - Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China - mais a Alemanha) e o Irão, restaurando sanções devastadoras para a economia iraniana.

A República Islâmica comprometeu-se, nesse acordo, a aceitar limitações e maior vigilância internacional do seu programa nuclear, que sempre garantiu ser apenas civil, em troca do levantamento das sanções internacionais.

Os europeus, a China e a Rússia mantêm o seu compromisso em relação ao acordo, mas até agora não têm sido capazes de permitir que o Irão beneficie das vantagens económicas com que contava devido às sanções dos Estados Unidos.

Segundo o Fundo Monetário Internacional, o produto interno bruto (PIB) iraniano deve cair 6% este ano, depois de ter descido perto de 4% em 2018.

A Bloomberg indicou que as exportações iranianas de petróleo passaram de 1,5 milhões de barris por dia em outubro de 2018 para 750.000 em abril deste ano.

Resumo de cinco dias de escalada da tensão:

Ataque

Dois petroleiros, um norueguês e um japonês, foram no dia 13 de junho alvo de ataques de origem indeterminada no Mar de Omã. Os 44 tripulantes dos navios foram resgatados por um navio iraniano.

No mesmo dia, o secretário de Estado norte-americano acusou o Irão de ser "responsável" pelo sucedido, alegando informações recolhidas pelos serviços de informações, "as armas utilizadas" e o "nível de sofisticação" do ataque.

Mike Pompeo recordou ainda a sabotagem, há cerca de um mês, de quatro navios ao largo dos Emirados Árabes Unidos, que Washington também atribuiu Irão.

Tal como tinha feito nessa altura, o Governo do Irão rejeitou a alegação dos EUA, condenando o ataque no mar de Omã "com a maior veemência possível". O chefe da diplomacia iraniana considerou as alegações sem "provas fundamentadas ou circunstanciais" um indício de "sabotagem diplomática".

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu um inquérito "independente" e o Governo japonês - cujo primeiro-ministro se encontrava em Teerão no dia do ataque numa tentativa para mediar a contenda iraniano-americana - solicitou aos Estados Unidos mais provas para sustentar a afirmação de que o Irão é o responsável pelos ataques.

Irão anuncia violação do acordo

O Irão anunciou na segunda-feira que as suas reservas de urânio enriquecido ultrapassarão os 300 quilogramas, limite imposto pelo acordo, a partir de 27 de junho.

O acordo de Viena determina que o Irão deve exportar os excedentes de urânio e água pesada quando estes ultrapassam os 300 quilogramas e as 130 toneladas, respetivamente, para impedir o desenvolvimento da bomba atómica.

Teerão tem vindo a pressionar os parceiros que se mantêm no acordo para o ajudarem a atenuar os efeitos devastadores das sanções norte-americanas para a sua economia.

O presidente Hassan Rohani fez um ultimato a 8 de maio, um ano depois de Trump ter anunciado a retirada dos EUA do pacto, dando 60 dias aos Estados ainda parte do acordo para que eles o ajudem a contornar as sanções dos Estados Unidos.

Se tal não acontecer, Rohani disse que o Irão deixará de respeitar as restrições sobre o grau de enriquecimento de urânio e retomará o seu projeto de construção de um reator de água pesada em Arak (centro).

EUA comunica novo reforço militar no Médio Oriente

O ministro da Defesa norte-americano, Patrick Shanahan anunciou, na segunda-feira que vão ser enviados cerca de mil soldados para o Médio Oriente, sustentando que "os recentes ataques iranianos validam informações viáveis e credíveis sobre o comportamento hostil das forças iranianas e dos grupos que apoiam, o que representa uma ameaça para os cidadãos e os interesses norte-americanos no conjunto da região".

Em meados de maio, o Pentágono já tinha enviado para o Golfo um porta-aviões, o USS "Abraham Lincoln", um navio de guerra, bombardeiros B-52 e uma bateria de mísseis Patriot. No final do mês anunciou a transferência para o Médio Oriente de 1.500 soldados suplementares.

O anúncio de Shanahan surgiu pouco mais de uma semana depois de o Irão ter divulgado um novo sistema de defesa aérea, de fabrico nacional, com capacidade para detetar, intercetar e atingir múltiplos alvos com mísseis.

"O Exército vê como obrigação melhorar a defesa aérea e a segurança do céu da República Islâmica (...) de acordo com a necessidade do país e o tipo de ameaças que enfrentamos", afirmou na altura o ministro da Defesa, Amir Hatami.

Posição da comunidade internacional

Os Estados-membros da União Europeia (UE) mostraram-se na segunda-feira prudentes na atribuição de responsabilidades nos ataques no mar de Omã, recusando-se a alinhar com Washington e Londres, que culpam o Irão, e ainda a Arábia Saudita, rival regional do xiita Irão e aliada dos Estados Unidos.

Vários ministros presentes no Conselho de Negócios Estrangeiros da UE manifestaram apoio à posição defendida pelo secretário-geral da ONU e a Alta Representante para a Política Externa e de Segurança, Federica Mogherini, admitiu a preocupação do bloco "com o risco de derrapagem".

Mogherini afirmou que a UE vai continuar a fazer o que puder para garantir que o acordo com o Irão se mantém.

O chefe da diplomacia portuguesa, Augusto Santos Silva, recordou que "dois quintos do transporte marítimo de petróleo" passa pelo estreito de Ormuz, para apelar à "maior das contenções possíveis" por parte dos intervenientes.

Também o presidente francês, Emmanuel Macron, apelou a Teerão para ser "paciente e responsável" e disse que Paris continua a trabalhar para manter vivo o acordo de Viena, precisando que tem previstos contactos à margem do G20, a 28 e 29 de junho em Osaca, "para preparar um novo encontro útil (...) antes de 08 de julho", a data em que termina o ultimato de Rohani.

A Rússia e a China têm pedido contenção às partes, ao mesmo tempo que manifestam apoio à República Islâmica e responsabilizam Washington por ter fragilizado o acordo.

Moscovo pediu que "não se tire conclusões precipitadas" sobre o ataque aos dois petroleiros e presidente Vladimir Putin alertou recentemente que a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irão desestabiliza a situação na região e coloca em risco o futuro do regime de não-proliferação nuclear.

O Ministério do Petróleo iraquiano trabalha num plano de emergência em caso de nova escalada das tensões, disse na segunda-feira à agência France Presse o seu porta-voz, Assem Jihad.

A eventualidade de uma interrupção do transporte marítimo no Golfo devido às tensões iraniano-americanas é um cenário "de catástrofe" para Bagdad por afetar a quase totalidade das suas exportações petrolíferas.

Washington tem referido que o Irão pretende impedir a passagem de petróleo pelo estreito de Ormuz, junto à costa da República Islâmica.

Teerão diz querer "garantir a segurança das passagens marítimas estratégicas", mas já ameaçou várias vezes fechar o estratégico estreito, crucial para a navegação mundial e para o abastecimento petrolífero, em caso de confronto militar com os Estados Unidos.

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