Argelinos manifestam-se pela 17ª sexta-feira consecutiva
As detenções de ex-dirigentes políticos e figuras decisivas da presidência de Abdelaziz Bouteflika não acalmaram a contestação na Argélia, onde os manifestantes voltaram hoje a mobilizar-se massivamente para exigir a partida de "todo o sistema".
© Reuters
Mundo Argélia
A 17ª sexta-feira consecutiva de manifestações coincidiu hoje em Argel com o 18º aniversário de uma grande marcha de habitantes da Cabília, uma montanhosa do norte da Argélia de maioria berbere, a "Primavera Negra" violentamente reprimida e que degenerou numa revolta. Desde então, todas as manifestações foram estritamente proibidas na capital argelina.
A proibição permanece em vigor, mas desde 22 de fevreiro que a polícia se mostra incapaz de impedir um inédito movimento de massas que tem invadido as ruas todas as sextas-feiras e em outros dias da semana, assinala a agência noticiosa AFP.
Hoje, as ruas de Argel estavam de novo repletas de manifestantes que voltaram a ecoar "Ladrões, pilharam o país!", na sequência de uma semana assinalada pela ordem de prisão preventiva contra Ahmed Ouyahia, 66 anos, e Abdelmalek Sellal, 70 anos, dois antigos primeiros-ministros e próximos de Bouteflika.
À semelhança da demissão de Bouteflika em 02 de abril, estas prisões não acalmaram os manifestantes, que continuam a exigir o afastamento de todos os antigos representantes do círculo próximo do ex-presidente durante os seus 20 anos no poder.
Os alvos são, designadamente, o presidente interino, Abdelkader Bensalah, o primeiro-ministro Noureddine Bedoui e o chefe estado-maior das Forças Armadas, general Ahmed Gaid Salah.
Após a anulação, devido à ausência de candidatos credíveis, das eleições presidenciais previstas para 04 de julho e destinadas a eleger o sucessor de Bouteflika, o poder interino apelou a um diálogo rejeitado pelos manifestantes, que em alternativa pretendem instituições de transição. E recusam que seja o círculo próximo do ex-presidente, ainda no poder, a organizar o escrutínio.
Ahmed Ouyahia, um impopular pilar decisivo da presidência Bouteflika (1999-2019), onde desempenhou por três vezes o cargo de primeiro-ministro, está a ser investigado judicialmente por presumíveis fraudes em negócios públicos.
Abdelmalek Sellal, também um ex-primeiro-ministro de Bouteflika de 2014 a 2017 e diretor de quatro campanhas presidenciais, e Amara Benyounes, antigo ministro, juntaram-se na quinta-feira a Ouyahia na prisão de El Harrach, arredores de Argel, onde já se encontram detidos diversos e influentes homens de negócios.
A maioria são suspeitos de terem aproveitado as suas relações privilegiadas com o chefe de Estado e o seu círculo para garantir concursos públicos ou diversas vantagens.
Numerosas palavras de ordem e faixas também se dirigiram diretamente ao general Gaid Salah, o verdadeiro homem forte do país desde a demissão de Bouteflika e que apoiou abertamente, ou ordenou segundo diversos observadores, os inquéritos anticorrupção.
"Gaid Salah para o lixo", gritaram os manifestantes, de acordo com um jornalista da AFP.
No cortejo, diversas faixas também recordavam o aniversário da repressão da marcha de 14 de junho de 2001 em Argel, em plena "Primavera Negra", a revolta da região da Cabília desencadeada pela morte de um estudante liceal numa esquadra da polícia e que foi reprimida violentamente pelas autoridades. E acordo com a Liga Argelina dos direitos humanos, o balanço destes tumultos cifrou-se em 126 mortos (na maioria jovens) e mais de 5.000 feridos.
"Abril 2001 e fevereiro 2019, o mesmo combate", "Movimentos de cidadãos 2001 e 2019, a luta continua", proclamava um cartaz empunhado por um manifestantes, segundo uma foto divulgada nas redes sociais.
De acordo com o 'site' digital TSA (Tudo sobre a Argélia) -- com grandes dificuldades de acesso desde quarta-feira e que os seus responsáveis associam a um ato de censura --, também estão a decorrer importantes manifestações, como nas anteriores sextas-feiras, em diversas localidades do país magrebino.
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