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Fome ameaça Coreia do Norte, com possíveis consequências para o mundo

O escritor e analista Paul French defende, num livro lançado esta segunda-feira, que a sobrevivência da Coreia do Norte está cada vez mais ameaçada, alertando que o seu colapso súbito pode ter consequências perigosas a nível mundial.

Fome ameaça Coreia do Norte, com possíveis consequências para o mundo
Notícias ao Minuto

16:10 - 27/05/19 por Lusa

Mundo Analista

'Estado de Paranoia' é o título do livro sobre a Coreia do Norte, que se assume como "um relato assustador de um dos países mais instáveis do mundo" e em que Paul French descreve o tipo de economia, a forma como as pessoas vivem e as relações com o mundo exterior.

O analista defende um maior envolvimento com a Coreia do Norte em vez de se optar pelo conflito, considerando que a melhor opção para "congelar o desenvolvimento do programa de armas nucleares" é oferecer ajuda à economia e segurança alimentar ao país.

"A liderança da Coreia do Norte, alegando estar cercada por hostilidade, decidiu desenvolver armas nucleares, não essencialmente como um sistema de defesa, mas como 'moeda de troca' para garantir ajuda", afirmou em entrevista à agência Lusa.

Isto porque o regime mantém "um estado de paranoia que reivindica a necessidade de se defender com uma permanente lei marcial e armas nucleares".

Mas o verdadeiro problema que o líder Kim Jong-un e a sua elite do regime enfrentam é a fome no país, defende Paul French no livro.

Uma ideia que reforçou na entrevista à Lusa, afirmando que "o maior problema que a população da Coreia do Norte enfrenta é a falta de comida, de medicamentos e de energia".

Este ano, sublinhou, toda a população - com exceção da elite privilegiada - viu "a porção diária de alimentos ser cortada para 300 gramas".

Além disso, acrescentou, "os cortes de energia continuam a ser vulgares, deixando as pessoas com frio e às escuras".

"Continua-se a morrer por falta de medicação e nada do que se cultiva cresce porque não há fertilizantes nem máquinas no campo", afirmou.

"Acrescente-se a isto uma situação complexa de várias inundações seguidas de secas e temos um país que não se consegue alimentar e precisa de ajuda externa - do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, da China, da Coreia do Sul" entre outros, explicou Paul French.

Apesar da situação desesperada da maioria da população, o analista admitiu que "ninguém espera verdadeiramente uma revolta liderada pelas pessoas".

"O regime de Pyongyang é brutal", lembrou Paul French, explicando que "fugir do país (e muitos fazem-no através da China) é saber que a família, os amigos mais próximos e os colegas de trabalho vão ser punidos".

Por isso, acrescentou, "as pessoas mantêm a cabeça baixa, trabalham para as suas famílias e esforçam-se".

Apesar da imagem que alguns países ocidentais têm, os norte-coreanos "estão longe de ter sucumbido às lavagens cerebrais" e "estão cada vez mais conscientes das disparidades da vida na Coreia do Norte e da vida na China, no Japão, na Coreia do Sul ou noutros países", garantiu o escritor.

A ausência de mudanças na Coreia do Norte pressionadas por outros países - depois das primaveras árabes, da abertura da economia chinesa e da mudança de regime de Cuba -- é explicada por Paul French com uma pergunta: "Quem quereria essa dor de cabeça?"

"Não há estruturas poderosas alternativas como havia na Europa de Leste em relação à antiga União Soviética -- dissidentes com protagonismo, sindicatos, o Islão ou o Catolicismo. O Estado é mortalmente repressivo e não há alternativas no presente", considera.

A China tem "horror ao caos [que se estabeleceria] nas suas fronteiras caso o regime colapsasse" e a Coreia do Sul preocupa-se com os custos da unificação, já que as desigualdades entre as duas Coreias são demasiado grandes, enquanto a União Europeia "está demasiado longe e tem os seus próprios problemas".

"Os Estados Unidos, que garantem a segurança da Coreia do Sul e têm mais de 30.000 militares na zona, estiveram bastante envolvidos no passado recente, com o Presidente [Bill] Clinton. Mas, entretanto, tivemos o Eixo do Mal com Bush 2 [George W. Bush], a política de nada fazer e da 'paciência estratégica' de [Barak] Obama e, agora, a ostentação ridícula e vaidosa de [Donald] Trump", lamenta Paul French.

Do recente encontro entre o Presidente norte-americano, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, o escritor e analista espera "absolutamente nada".

"Foi uma grande 'vitória' para Kim - conseguiu uma fotografia com um Presidente dos Estados Unidos, prometeu algumas coisas e não vai fazer nada", considerou, acrescentando que a única coisa que Trump conseguiu foi "pôr ao mesmo nível um ditador da Coreia do Norte e um Presidente dos Estados Unidos eleito".

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