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"Dever" republicano derrotou a abstenção em França

Desde uma das cidades onde houve maior abstenção em França ao centro de Paris, o "dever" levou os franceses em maior número às urnas e foram temas como imigração ou livre circulação de bens e pessoas que os influenciaram na sua escolha nas urnas.

"Dever" republicano derrotou a abstenção em França
Notícias ao Minuto

17:29 - 26/05/19 por Lusa

Mundo Europeias

Em 2014, Villetaneuse, uma pequena cidade no arredores de Paris, foi a segunda cidade em França continental com maior abstenção nas europeias. Apenas 20,01% da população, dos mais de 5 mil inscritos, votou. Algo que a presidente da Câmara sentia esta manhã que estava a mudar.

"Temos mais algumas pessoas do que há cinco anos, vamos ver como corre", disse a autarca Carinne Juste em declarações à Agência Lusa enquanto controlava o vai e vem da mesa número 1 de voto da cidade, instalada na Câmara Municipal e à qual estava a presidir.

Os números nacionais não a desmentiram. Às 17h00, 43,29% dos franceses já tinham votado, percentagem acima dos 35,07% de há cinco anos.

No entanto, a abstenção na cidade não choca esta autarca. "Há sempre muita abstenção em França quando se fala de eleições europeias e, especialmente, nas cidades como a nossa onde há mais dificuldades e onde as pessoas se sentem um pouco desesperadas e não sabem o que esperar do futuro. Também se sentem mais desiludidas", afirmou.

Tal como outras cidades à volta da capital, Villetaneuse tem uma taxa de desemprego que equivale a mais do dobro da taxa nacional e uma história de violência ligada à delinquência.

Problemas que, segundo Lola, uma jovem de 24 anos que apareceu para votar antes do almoço, têm um impacto direto na relação da população local com a União Europeia. "Temos muitos problemas aqui e a Europa parece tão grande e tão abstracta que muitas pessoas não votam porque temos problemas mais próximos como a precariedade, más habitações ou falta de acesso às necessidades básicas", considerou a jovem.

Quanto às suas motivações pessoais, Lola diz tratar-se de "um dever cívico" e que o tema que mais a preocupa é a imigração. "Eu estou preocupada com tudo o que tem a ver com a imigração, nomeadamente com todas as pessoas que procuram refúgio na União Europeia, é algo muito importante e espero que o meu voto permita acolher mais pessoas", declarou.

A alguns quilómetros de distância, no Les Marais, bairro da moda de Paris, as preocupações de Rina, 39 anos, são similares. "É importante dar mais ênfase a uma política económica e social que se aplique a todos e tentar também ter maior harmonização, assim como resolver os problemas ligados à imigração", disse.

Rina votou esta tarde no Liceu Simone Weil e a ironia não lhe passou ao lado. "É verdade que é esta alusão é interessante, especialmente quando pensamos no destino que ela teve na Europa", disse pensativa. Simone Weil é conhecida como uma das "mães" da Europa, tendo sido a primeira mulher a presidir ao Parlamento Europeu - um significado acrescido quando estas europeias calham no mesmo dia em que se comemora em França o dia da mãe.

Também para Rina a abstenção pode ter uma justificação óbvia. "Acho que as pessoas não se sentem tocadas por esta eleição. Não há grande visibilidade a nível nacional, temos mais tendência a focar-nos na política nacional e infelizmente isso impede os candidatos de falarem mais sobre temas europeus", disse.

Entre o movimento dos coletes amarelos que dura há mais de seis meses, os debates televisivos e as 34 listas diferentes que se apresentaram neste escrutínio - um recorde absoluto - a informação não escasseou, mas talvez não se tenha falado do elementar.

"A informação não é só uma questão de quantidade, é uma questão de qualidade. As pessoas hoje só ouvem metade do que se lhes diz e lêem cada vez menos. As europeias acabaram por concorrer com outros eventos em França e os eleitores não tiveram o tempo necessário para analisar as suas escolhas", disse Louis, que trabalhou na mesa de voto instalada no Liceu Simone Weil, mencionando o caso dos "coletes amarelos".

Sem incidentes a registar durante as eleições, alguns "coletes amarelos" decidiram votar vestindo o seu colete e partilhando as imagens nas redes sociais. Esta eventualidade já tinha sido prevista pelo Ministério do Interior que deixou à consideração de cada presidente de mesa a interdição ou não de votar com este acessório.

Mas impacto deste movimento é difícil de prever, mantendo quem vem às urnas curioso. "Não faço ideia se haverá um impacto ou não, mas estou muito curioso para saber se há um efeito", disse Denis, 55 anos, depois de ter votado neste liceu na capital parisiense. "Sou artista e música, portanto a Europa é importante para mim. Os desafios que mais me preocupam são as fronteiras e a livre circulação de bens e pessoas", afirmou Denis.

Também neste liceu no coração de Paris, Louis disse que a afluência tinha superado o que era de esperar para um dia com bom tempo. "Há mais pessoas do que estava à espera, porque quando o tempo está bom como hoje, as pessoas não vêem", confidenciou.

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