De acordo com o estudo das Nações Unidas, o número de pobres no Reino Unido atinge 14 milhões de pessoas, sendo um resultado direto da austeridade adotada desde a crise económica que começou em 2008.
O relatório das Nações Unidas reforça as conclusões já apresentadas pela Human Rights Watch que, num outro relatório divulgado na segunda-feira, acusava os últimos governos britânicos de deixarem milhares de famílias empobrecerem e passarem fome devido aos cortes que foram fazendo na assistência social ao longo dos últimos 10 anos.
O documento lançado hoje pela ONU foi feito na sequência de uma missão de 12 dias do responsável pela pobreza e direitos humanos na organização, Philip Alston.
"As medidas retrógradas de austeridade introduzidas desde 2010 pelos conservadores no poder continuam a um ritmo constante, numa clara violação das obrigações [do Estado] em matéria de direitos humanos", defende Philip Alston.
O relatório adianta que, daqui a dois anos, quase 20% das crianças vão viver em estado de pobreza e alerta para o uso cada vez mais frequente dos bancos alimentares e para o aumento do número de sem-abrigo.
"A esperança de vida está a cair em alguns grupos da população e o sistema de apoios foi dizimado", refere o documento, acrescentando que o Governo parece estar em negação".
Para o responsável da ONU, nem "o crescimento da economia, nem o elevado nível de emprego ou o excedente orçamental fizeram reverter a austeridade", o que considera ser "uma política impulsionada mais pela ideologia do que pela agenda económica".
Reagindo às conclusões do relatório, o ministro inglês do Trabalho afirmou que o documento é "pouco credível" e "muito inexato".
"Os próprios dados das Nações Unidas mostram que o Reino Unido é um dos lugares no mundo onde as pessoas são mais felizes", sublinhou um porta-voz do Governo britânico, defendendo que Philip Alston não passou tempo suficiente no país para conseguir ter uma imagem correta.
Na segunda-feira, a Human Rights Watch referia também a existência de muitas famílias e crianças em Inglaterra a passar fome e dependentes de caridade.
No relatório "Não ficou nada na mesa: Austeridade, Cortes na Assistência Social e o Direito à Alimentação no Reino Unido", a HRW acusou os cortes à assistência social feitos no Reino Unido devido à austeridade, em conjunto com a introdução do sistema de Crédito Universal, um sistema introduzido em 2013, que substitui o pagamento das prestações sociais por uma só prestação.
"Há pais sem possibilidade de alimentar os seus filhos naquela que é a quinta maior economia do mundo", sublinhou o investigador para a Europa Ocidental da Human Right Watch Kartik Raj, criticando a forma como o Governo do Reino Unido geriu os gastos com a assistência social.
"O Governo do Reino Unido deveria garantir a toda a gente esse direito em vez de esperar que as instituições de caridade preencham essa falta", concluía.