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Na Polónia ainda há imprensa livre a contrariar a propaganda estatal

Reduzida a "servente do Estado" e a "instrumento de propaganda pior que nos tempos do comunismo", a televisão pública polaca tem 'adversários' à altura num país onde pluralismo dos 'media' e liberdade de imprensa ainda são uma realidade.

Na Polónia ainda há imprensa livre a contrariar a propaganda estatal
Notícias ao Minuto

09:50 - 15/05/19 por Lusa

Mundo Media

"O pluralismo dos 'media' na Polónia é incomparavelmente maior do que, por exemplo, na Hungria, na Turquia ou na Rússia. É incomparável, são dois mundos distintos. É óbvio que a televisão pública é uma ferramenta para a propaganda do partido. Diria mesmo que é ainda pior que nos tempos do comunismo", reconheceu, em entrevista à agência Lusa, o diretor do gabinete de Varsóvia do Conselho Europeu de Relações Exteriores.

Piotr Buras tem bem presente o final dos anos 1980, quando "a TV comunista era aborrecida, era enganadora, mas não era tão sofisticada e não abraçava tão iminentemente o partido nem era tão fervorosa a fazê-lo" quanto o é agora a TVP com o Lei e Justiça (PiS).

"É terrível, mas temos televisões privadas que também são muito fortes, como a TVN e a TV Polsat, temos jornais independentes de prestígio, como a Gazeta Wyborcza, o Rzeczpospolita, e revistas. Aqui o espetro é mais alargado do que noutros países", estimou o analista do 'think tank' europeu.

A premissa é confirmada por Boguslaw Chrabota, cofundador da TV Polsat e atual diretor do diário Rzeczpospolita, que entende que, embora a televisão pública seja uma mera "servente do Estado" e "um instrumento de propaganda", a liberdade de imprensa -- pelo menos de alguma - não está condicionada.

"Não sinto nenhum tipo de pressão. Há influência do Estado nas estações comerciais, mas as suas mãos são demasiado curtas para chegar a todo o lado. Na Polsat, o dono tem muitas áreas de investimento e penso que por isso a estação está a aproximar-se do PiS. Quanto aos jornais, [o Estado] não detém nenhum sério, porque os principais diários neste país são privados. Nós temos um investidor americano, por isso sentimo-nos seguros", revelou.

Devido aos cerca de 30 anos de profissão, Chrabota conhece "quase toda a gente importante no país" e, de quando em quando, não escapa a um telefonema com pedidos de entrevistas. "Mas são só pedidos. Não há pressão regular", asseverou.

Embora não exista uma censura de conteúdos, as tentativas de condicionamento por parte do partido no poder existem, consubstanciando-se, segundo Wojciech Szack, através da distribuição da publicidade.

"Suponho que ainda temos liberdade de expressão e todos os direitos constitucionais dos indivíduos. O grande problema é o papel dos 'media' e como todas as empresas estatais apoiam o Governo. Por exemplo, toda a publicidade flui para os meios públicos e para os meios privados que apoiam o Governo e todos os meios independentes não têm publicidade", denunciou, indicando que, na Polónia, a maioria dos negócios são dirigidos pelo Estado e por isso "grande parte do dinheiro está no setor público".

O analista e responsável pela secção de política da Polityka Insight, um 'think tank' do mesmo grupo da conceituada publicação semanal Polityka, detalhou que apesar de a 'sua' revista vender "cerca de 100 mil exemplares por semana", são as revistas de direita, que "vendem apenas 10 mil ou 30 mil cópias", a conseguirem todos os anúncios de companhias estatais.

"Não é fácil competir neste mercado. Há uma ameaça económica à liberdade de expressão e à imprensa livre, mas ainda assim podemos escrever o que queremos, não há controlo, não somos atacados pelo Governo, mas o Governo faz tudo para tornar a nossa vida mais difícil", elucidou.

A agência Lusa contactou candidatos do PiS às eleições europeias, mas não obteve resposta.

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