Meteorologia

  • 25 ABRIL 2024
Tempo
18º
MIN 13º MÁX 19º

China teme que "caos" político após eleições resulte em Europa defensiva

A China teme que "caos" político na Europa leve o continente a tornar-se mais "defensivo" face à crescente assertividade chinesa no palco internacional, após as eleições europeias, comprometendo uma parceria "vital" para preservar o multilateralismo, disse um analista.

China teme que "caos" político após eleições resulte em Europa defensiva
Notícias ao Minuto

09:16 - 11/05/19 por Lusa

Mundo Europeias

"O que mais receio é que após as eleições para o Parlamento Europeu, o caos político na zona euro leve a Europa a isolar-se do resto do mundo", afirmou à Lusa, em Pequim, Shi Zhiqin, investigador no Centro de Política Global Carnegie-Tsinghua, onde dirige o programa Relações China - União Europeia (UE).

Outrora dominada por questões comerciais, a relação entre China e UE assume hoje crescente complexidade, à medida que Pequim reclama um papel mais central na governação dos assuntos globais, estendendo a sua influência ao sul e leste do continente.

Mas, numa altura em que os Estados Unidos rompem compromissos internacionais sobre o clima, comércio ou nuclear, a UE tenta também preservar, na sua parceria com a China, uma ordem internacional assente no multilateralismo, enquanto classifica o país asiático como rival, em questões económicas ou de segurança.

Um dos principais desafios na relação é a iniciativa chinesa "Uma Faixa, Uma Rota", que foi inscrito na Constituição chinesa, no ano passado, materializando uma mudança radical na política externa de Pequim, que abdica de um perfil discreto para assumir inédita assertividade.

Bancos e outras instituições chinesas estão a conceder enormes empréstimos para infraestruturas lançadas no quadro da iniciativa, que inclui uma malha ferroviária e autoestradas, a ligar a região oeste da China à Europa e oceano Índico, cruzando Rússia e Ásia Central, e uma rede de portos em África e no Mediterrâneo, que reforçarão as ligações marítimas do próspero litoral chinês.

O objetivo é "redesenhar o mapa da economia mundial" de forma a "colocar a China no centro", repondo a "visão antiga do país sobre si mesmo como nação universal", descreveu o antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus português Bruno Maçães, atualmente a viver em Pequim e autor do livro "Belt and Road: A Chinese World Order".

A audácia chinesa deteriorou já as relações com Washington, que considera agora Pequim o "grande rival estratégico". Disputas comerciais e tecnológicas ameaçam uma relação que nas últimas décadas tentou conciliar rivalidade e cooperação.

Também no quadro diplomático da UE, a China passou de um "parceiro estratégico" para um "parceiro de negociação".

Um documento produzido pela Comissão Europeia, no mês passado, lembrou que o gigante asiático "não pode mais ser visto como um país em desenvolvimento".

O texto reafirmou a "parceria" com a China, mas classificou também o país como um "rival económico" e um "adversário sistémico", que "promove modelos alternativos de governação", apelando a ações conjuntas para lidar com os desafios tecnológicos e económicos colocados pela sua ascensão.

"Começou-se recentemente a perceber que [a ascensão da China] representa não só um desafio para a unidade europeia, mas também para a prosperidade europeia", afirmou Janka Oertel, pesquisador no Programa para a Ásia do Fundo Alemão Marshall dos Estados Unidos.

"Washington decidiu enfrentar agressivamente as práticas económicas chinesas, enquanto a Europa está a tentar atingir o mesmo objetivo através de meios mais elegantes", disse.

Shi Zhiqin reconheceu que os dois lados têm "ideias diferentes" sobre "certos aspetos" da globalização, mas reiterou que "ambos estão comprometidos" com uma ordem mundial "baseada em regras", uma "economia global aberta" e a "reforma da OMC [Organização Mundial do Comércio]".

Pequim e Bruxelas "concordam" na oposição ao unilateralismo e protecionismo, afirmou. "Se o sistema global quiser sobreviver às mudanças tectónicas, a parceria China - UE precisa de ser um dos seus pilares", defendeu.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório