Operação Liberdade está à imagem da Venezuela: num impasse
Juan Guaidó fez o apelo à revolta e parte do povo respondeu, mas as forças armadas continuam a ter um papel decisivo e não estavam em peso com o autoproclamado presidente interino. Nicolás Maduro permanece no poder, mas Guaidó promete que a Operação Liberdade vai continuar hoje.
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Mundo Crise
A manhã de terça-feira na Venezuela começou com o apelo de Juan Guaidó num vídeo a uma revolta popular. O autoproclamado presidente interino garantia ainda contar com o apoio das forças armadas. Ao seu lado estava Leopoldo López, o ativista que estava há anos em prisão domiciliária que tinha sido libertado durante a madrugada.
Arrancava assim a “fase final da Operação Liberdade”, nas palavras de Guaidó. Com o passar das horas foi-se sucedendo o jogo de contra-informação de ambos os lados. O governo de Nicolás Maduro tratou de desmentir que as forças armadas estivessem com Guaidó. Admitia a traição de um grupo de soldados e falava na “tentativa de um golpe de estado”.
O povo estava nas ruas. Apoiantes de Juan Guaidó junto à base aérea de La Carlota, em Caracas, durante grande parte do dia o epicentro do golpe de estado tentado, e os apoiantes de Nicolás Maduro a concentrarem-se em redor do palácio presidencial de Miraflores, também na capital venezuelana.
Mas de que lado estavam as forças armadas? O dia de ontem mostrou que não estavam de uma forma maioritária com Guaidó, mas não é possível precisar números dos soldados que acompanharam o autoproclamado presidente interino e dos que, alegadamente, se foram juntando à causa de Guaidó durante o dia.
Ao longo do dia, o ímpeto da Operação Liberdade foi esmorecendo. Leopoldo López refugiou-se inicialmente na embaixada do Chile na Venezuela, mas foi depois para a embaixada espanhola.
O que disseram Guaidó e Maduro
Juan Guaidó foi adiando uma comunicação ao país, mas lá falou no final desta terça-feira. Não admitiu o falhanço do golpe de estado, referiu antes que “hoje, não há possibilidade de um golpe de Estado, a menos que me queiram prender”.
Insistiu que Maduro não tem o “apoio nem o respeito” das forças armadas e reiterou o apelo feito ontem para esta quarta-feira: quer os venezuelanos na rua para uma “rebelião pacífica”.
Já o presidente Maduro disse que já está em curso uma investigação à tentativa de golpe de estado e que os seus responsáveis não vão ficar impunes. Desmentiu ainda Mike Pompeo, secretário de Estado norte-americano, que afirmou que Maduro pensou fugir do país para ir para Cuba, mas que teria sido convencido pelo Kremlin a manter-se na Venezuela.
Não há portugueses entre os feridos
Numa conferência de imprensa na noite de terça, José Luís Carneiro, secretário de Estado das Comunidades, confirmou o que Augusto Santos Silva já tinha dito: Que não havia registo de portugueses entre os feridos, realçando que o Governo permanece em contacto com a comunidade portuguesa na Venezuela.
Do lado da comunidade internacional, Estados Unidos e Brasil, por exemplo, reafirmaram o apoio a Guaidó. O México apelou ao diálogo e a uma solução pacífica para a crise na Venezuela. Rússia e Espanha pediram que se evitasse um banho de sangue. Já a União Europeia, através de Federica Mogherini, a Alta Representante da UE para a Política Externa e Segurança, afirmou estar a acompanhar a situação e deixou o apelo para uma “solução democrática”.
A ONU, a instituição internacional que mais tem apelado a uma resolução democrática e conflito neste jogo pelo poder entre Maduro e Guaidó, pediu que se evitasse “qualquer violência” e ações “imediatas” para restaurar a calma no país.
O dia depois do apelo à revolta
O que se sabe com certeza? Que a Operação Liberdade não foi concretizada esta terça-feira e que Maduro permanece no poder. Os confrontos entre soldados e civis que apoiam Guaidó e as forças leais a Maduro provocaram feridos, mas os números variam. A ONG Provea anunciou que uma pessoa morreu e contabiliza 95 feridos. Gustavo Duque, autarca de Chacao, disse que 69 pessoas deram entrada na Salud Chacao.
As primeiras horas da manhã desta quarta-feira devem desfazer a dúvida se a tentativa de golpe de estado vai continuar, se o povo venezuelano vai responder ao novo apelo de Guaidó para sair às ruas e qual a resposta do das forças de segurança. Para Guaidó este será o segundo dia da Operação Liberdade, para os venezuelanos, para já, prolonga-se uma incerteza política e uma crise social cujo fim não parece poder ser vislumbrado no horizonte.
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