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Nicolas Maduro, o "Presidente operário" que tem um poderoso aliado

Nicolas Maduro, o "Presidente operário", testa hoje a solidariedade dos seus aliados de sempre como Presidente da Venezuela, os militares, para salvar o regime que herdou de Hugo Chávez, na mais profunda crise da sua vida política.

Nicolas Maduro, o "Presidente operário" que tem um poderoso aliado
Notícias ao Minuto

15:24 - 30/04/19 por Lusa

Mundo Perfil

No dia em que o autoproclamado Presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, anuncia ter os militares do seu lado, Nicolas Maduro faz o mais duro teste ao seu mais fiel e poderoso aliado: as Forças Armadas, que constituem a última barricada do Presidente eleito que nos últimos meses ficou isolado internacionalmente.

Nicolas Maduro conhece bem o poder das revoluções e sabe do "poder da rua" para conquistar a liderança de um país.

Maduro recebeu formação revolucionária em Cuba, foi condutor de autocarros e fez o início da carreira política nos sindicatos dos transportes públicos, até se tornar um delfim do Hugo Chávez e seguir as suas pisadas até à presidência da Venezuela.

No topo deste percurso, Maduro nunca se esqueceu de agradecer ao que sabe ser o seu melhor trunfo político: o exército, a quem, em múltiplos discursos, reconhece "a lealdade e disciplina".

Ora, é esse exército que agora parece dividido e que constitui uma das incógnitas no momento em que o governo de Maduro reconhece estar na rua uma tentativa de "golpe de Estado".

Quando, no início do ano, tomou posse para o segundo mandato no Supremo Tribunal (porque a Assembleia Nacional lhe rejeitou legitimidade), foi ao lado das mais altas patentes militares que jurou cumprir a Constituição.

Nos governos de Hugo Chávez, os militares representavam 25% do executivo, mas com Maduro chegaram a estar presentes em metade da equipa governativa e ainda hoje controlam as áreas políticas mais sensíveis.

No meio dos militares, Nicolas Maduro desenhou o primeiro programa eleitoral, que o levou a Presidente da Venezuela em 2014, com a promessa de tornar o país numa "potência mundial".

De Hugo Chávez herdou a autoridade, o estilo e o ódio aos EUA, que rapidamente transformou num dos principais alvos de críticas e de ameaças.

Por isso, não admira que Donald Trump tenha sido o primeiro Presidente a reconhecer o governo provisório de Juan Guaidó, líder da Assembleia Nacional, que em janeiro passado se autoproclamou Presidente interino da Venezuela.

Aos 56 anos, Nicolas Maduro sempre se orgulhou de não ter precisado dos bancos das Faculdades para adquirir o conhecimento que o levou a ser idolatrado por milhões, mas também odiado por tantos outros, numa atitude política sempre desafiante.

Nas eleições de maio de 2018, quando ganhou com mais de 60% dos votos, a oposição queixou-se de falta de transparência, de pressões ilícitas sobre adversários, de chantagem sobre os eleitores.

Mas o homem que se autointitula "Presidente operário" respondeu como sempre, nas várias crises que atravessou, dizendo que tem o "povo ao seu lado" e que apenas responde "perante o povo".

Segundo o Instituto de Imprensa e Sociedade, durante o seu mandato, Maduro eliminou 55 meios de comunicação social, alegando que distorciam a "verdade do Estado" e dizendo que estavam ao serviço de "forças estranhas à democracia venezuelana".

Os adversários têm outra versão e dizem que Maduro nunca lidou bem com a liberdade de expressão.

Mas todos, aliados e inimigos, reconhecem a Maduro uma insuperável habilidade para a negociação (apurada no seu passado sindicalista), a que junta generosas doses de boa disposição e uma disciplina férrea (que o levam a ficar a trabalhar noite dentro e a dispensar dias de descanso).

Alguns biógrafos atribuem a disciplina e o método às origens familiares, de que pouco se sabe, até porque Maduro evita falar sobre os pais, já falecidos, tal como nunca esclareceu os rumores segundo os quais teria nascido na Colômbia (o que lhe retiraria possibilidade de ser eleito Presidente da Venezuela, segundo a Constituição).

Essa perseverança e disciplina permitiram a Maduro ter sido deputado na Assembleia Nacional (2000 -- 2006) e ministro dos Negócios Estrangeiros, no tempo de Chávez, onde aproveitou para se aproximar de líderes controversos, como Muammar Khadafi, da Líbia, Robert Mugabe, do Zimbabué, e Mahmud Ahmadinejad, do Irão.

Esta experiência política permitiu a Maduro tomar as rédeas do poder na convalescença de Chávez, nas primeiras semanas de 2013, e sobrepor-se ao principal rival no aparelho chavista, Diosdado Cabello, preparando a sua chegada à Presidência.

E ninguém duvidou desse destino, quando o ouviu anunciar ao país e ao mundo a morte de Hugo Chávez, em 05 de março de 2013.

Logo de seguida, ficou como Presidente interino e ganhou as eleições de abril de 2014, contra Henrique Capriles, por uma margem mínima e já nessa altura com fortes protestos da oposição.

Mas a promessa de sonho do "Presidente operário" de transformar a Venezuela numa rica potência mundial descambou num pesadelo de crises políticas e económicas, com uma inflação de vários dígitos, falta de mantimentos e de medicamentos no país, levando milhões de venezuelanos a fugir do país nos últimos anos.

Maduro resistiu, entrincheirando-se com os militares, que até hoje lhe foram sempre fiéis, e atirando as culpas das crises para as forças estrangeiras, em particular os EUA.

Mesmo com a popularidade em queda, Maduro alimentou a esperança de recuperar o país, procurando aliados com promessas de futuras benesses a partir da riqueza natural do petróleo e fazendo aos venezuelanos juras de melhor futuro, mesmo contra as previsões de organizações económicas e isolado do apoio internacional (até o Grupo de Lima -- com 14 países das Américas -- lhe virou as costas).

Mas, Maduro nunca expressou fragilidades, repercutindo na vida pública a reserva da vida privada, de um homem que não expõe a família, apesar de a sua mulher, Cilia Flores, ter ocupado importantes cargos públicos durante a época do regime "chavista".

De Cilia, Maduro não tem descendência, mas tem um filho de um anterior casamento: Nicolas Maduro Guerra, de 28 anos, que faz parte do grupo de apoio ao governo na Assembleia Nacional.

Mas nestes últimos dias, até o filho se tem mantido mais silencioso no apoio ao regime, e os militares, que sempre estiveram ao seu lado, dividem-se entre a barricada do regime a que preside e o lado de Juan Guaidó, que o pretende destituir.

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