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Rússia está empenhada no projeto de "uma grande Eurásia"

A Rússia está empenhada no projeto de construir "uma grande Eurásia" que englobe a China e a Índia e no âmbito de uma relação amigável com a Europa, disse à Lusa o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo.

Rússia está empenhada no projeto de "uma grande Eurásia"
Notícias ao Minuto

10:52 - 20/04/19 por Lusa

Mundo Entrevista

"Agora existe o nosso grande projeto de construir uma grande Eurásia, não uma grande Europa mas uma grande Eurásia, incluindo a China, a Índia, e em correlação com o grande projeto estratégico da China 'One Belt, One Road' [Uma Faixa, Uma Rota]", assinalou em entrevista à Lusa Alexander Grushko, que na quinta-feira manteve em Lisboa consultas políticas bilaterais centradas na intensificação do comércio e investimento e no reforço da cooperação no domínio cultural, para além da troca de pontos de vista sobre temas da agenda internacional.

"É uma estranha abordagem o facto de algumas pessoas no Ocidente acreditarem que o Ocidente será sempre superior face a outras nações, porque o mundo mudou drasticamente. Tornou-se multipolar", insistiu o responsável russo, 63 anos, no serviço diplomático desde 1977 e que entre 2012 e 2018 foi o representante permanente da Rússia na NATO, em Bruxelas.

"E pergunto sempre aos meus colegas na Europa que estão muito preocupados, se foi através dos vossos segredos que a China está a levantar-se", prosseguiu, e quando Pequim tem intensificado as suas relações comerciais com os europeus no âmbito do projeto "Nova Rota da Seda" e ameaça os Estados Unidos com o estatuto de primeira potência económica mundial.

A necessidade "de encontrar uma forma de acomodação a esta nova realidade", também poderá ser associada à situação na Rússia, "que também se tornou forte, após os trágicos acontecimentos no território da antiga União Soviética e o colapso de um grande Estado", defendeu o vice-MNE russo, reconduzido neste cargo em janeiro de 2018 após ter ocupado as mesmas funções entre 2005 e 2012.

"Tornou-se claro que após uma certa adaptação recomeçámos a crescer, politicamente, economicamente, militarmente. Tivemos de recomeçar", diz, numa referência ao seu país. E insistiu: "no vosso interesse, [a Europa deve] construir esta relação muito amigável com a Rússia e a China".

Alexander Grushko considera existir um "espaço para a cooperação", contrário à competição, que poderá originar benefícios mútuos, e quando se perspetiva que a China se torne na primeira economia do mundo "também em termos tecnológicos", e seja possível impedir a "lógica da confrontação".

"Propomos que a União Europeia [UE] estabeleça laços sistémicos com a união da Eurásia no território da antiga União Soviética, e que se tornou numa realidade económica, e que esta cooperação se torne numa parte integral desta grande arquitetura que inclua a China e todos os outros países da Ásia central, etc...", disse.

O responsável diplomático de Moscovo assinala que as relações entre Moscovo e Pequim são "autossuficientes" e encorajadas pelos dois países onde na arena internacional protegem a lei internacional, mas assinala que esta aproximação não é delineada contra outros países.

"Não é contra a Europa, não é contra os Estados Unidos. Mas é um importante pilar para a estabilidade e a segurança global", frisou.

Para além das relações específicas com a China, o envolvimento direto da Rússia no conflito sírio e a situação na Venezuela também mereceram comentários do diplomata.

"Estamos concentrados em dois pilares, duas áreas muito importantes para garantir a paz e tornar de novo a Síria num Estado independente e um pilar da segurança regional. Primeiro, o combate contra o Daesh [acrónimo árabe que designa o grupo 'jihadista' Estado Islâmico] e progredimos muito neste campo, e agora estamos focalizados em áreas ainda com forte influência de grupos terroristas, como Idlib", referiu.

Relativamente ao segundo vetor, que envolve o processo negocial, considerou que deve ser apoiado pelo Conselho de Segurança da ONU, mas liderado pelo Governo de Damasco, apoiado por Moscovo.

Numa referência ao "formato de Astana", uma iniciativa diplomática iniciada em dezembro de 2016 e que junta a Rússia, Turquia e Irão, a par das iniciativas de paz da ONU, referiu-se ao estabelecimento de um comité constitucional que será responsável pela elaboração da nova Constituição da Síria.

"Estamos muito perto e queremos que a ONU e que Geir Pedersen [o enviado especial da ONU] o apoiem e estamos mais interessados que ninguém que este processo político tenha sucesso. Esta dupla abordagem baseia-se nos acordos até agora alcançados nas conversações de Genebra e no Conselho de Segurança da ONU", esclareceu.

Ainda na arena internacional, e ao referir-se à grave situação na Venezuela -- e onde a Rússia tem sido acusada de fornecer um apoio decisivo ao regime de Nicolás Maduro, renegado pela maioria dos países ocidentais -- sublinhou o empenhamento de Moscovo em todos os esforços para ultrapassar uma situação que definiu como "muito perigosa".

"Apoiamos o grupo de Montevideu na busca de um diálogo político inclusivo, com a participação de todos. Opomo-nos a intervenções militares, e neste aspeto as últimas declarações de representantes dos Estados Unidos referem que a opção militar ainda não está excluída. É muito perigoso porque pode conduzir ao desastre", alertou.

Ao pronunciar-se sobre as relações específicas entre a Rússia e a Venezuela, o vice-MNE russo salientou a sua amplitude.

"São relações que abrangem muitas áreas, política, cultura, economia, energia, e também militar, assinámos um acordo sobre cooperação técnico-militar, vendemos diversos sistemas de equipamentos, e por isso somos responsáveis pelo treino, manutenção, são procedimentos comuns e praticados por qualquer país", explicou.

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