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É preciso "mudar a narrativa" das migrações africanas

A Prémio Nobel da Paz Ellen Johnson Sirleaf defendeu, em entrevista à agência Lusa, a urgência de mudar a narrativa das migrações africanas, dos poucos que criam problemas para os muitos mais que beneficiam os países.

É preciso "mudar a narrativa" das migrações africanas
Notícias ao Minuto

10:58 - 07/04/19 por Lusa

Mundo Ellen J. Sirleaf

"Os dados são claros, os receios da Europa são baseados num pequeno número de pessoas. A larga maioria emigra legalmente. Trazem capacidade, capital e tecnologia, obedecem às leis do país, pagam impostos e tornam-se bons cidadãos. Por isso, temos de mudar a narrativa das poucas pessoas que podem causar problemas, para a do número maior de pessoas que beneficiam tanto os países de origem como os de acolhimento", disse Ellen Johnson Sirleaf.

A ex-Presidente da Libéria falava à agência Lusa em Abidjan, Costa do Marfim, à margem do fim de semana de governação Mo Ibrahim, este ano dedicado ao tema das migrações.

Ellen Johnson Sirleaf considerou que a reação da Europa à questão das migrações é "largamente baseada no medo", provocado pela maneira como muitos destes imigrantes tentam chegar ao continente, pelo mar, de forma ilegal, sujeitos a abusos e a morrerem no trajeto.

"Podemos compreender que os países europeus de destino não queiram este tipo de atenção global, que vem perturbar a paz e a harmonia das suas comunidades. Podemos perceber isso", disse.

Mas, para Ellen Johnson Sirleaf, que preside atualmente ao painel de alto nível sobre migrações da Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA), é preciso mais do que uma mudança de narrativa.

"É preciso um acordo entre a Europa e África para ter orientações claras, informação e meios adequados para os africanos poderem ir legalmente, para não haver esta situação sensacionalista que cria medo", considerou.

Johnson Sirleaf manifestou-se, por outro lado, contra a criação das chamadas zonas de mobilidade entre os dois continentes, considerando que são "uma violação dos direitos humanos" e do "espírito da parceria entre a Europa e África".

"Não é apenas uma questão de ter pequenas zonas onde possam ficar, mas de encontrar os procedimentos, regras e informações corretas nos países de origem para se perceber quem são estes migrantes que procuram oportunidades no estrangeiro, para lhes dar o apoio de que precisam e assegurar que sabem o caminho a seguir", disse.

"Não queremos os imigrantes a vaguear num local que se torna quase um campo de refugiados. Acredito que através desta parceria podemos evitar esse tipo de situações", acrescentou.

Ao mesmo tempo, defendeu, é "fundamental que África consiga criar condições económicas, com crescimento e bons empregos para que estas pessoas possam ficar em casa".

Num continente com uma taxa de crescimento da população maior do que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), é preciso apostar no planeamento familiar como forma de melhorar as condições de vida das populações, sustentou.

"Baseado na nossa cultura, é muito difícil, particularmente nas áreas rurais, dizer às pessoas para não terem filhos, mas há um número grande de população jovem e, apesar de muitos terem formação, o setor privado não cresceu o suficiente para os absorver a todos", adiantou.

"É então que se encontram no desemprego e quando estão no desemprego, como o continente não tem um sistema de segurança social suficientemente forte, vão à procura de oportunidades. É a história do mundo, as pessoas atravessam as fronteiras à procura de uma vida melhor", acrescentou.

Sublinhou, por isso, a necessidade de trabalho conjunto entre os dois continentes para "chegar a um entendimento certo".

"Não iremos eliminar as migrações, mas se tivermos os processos adequados, as regras e as orientações, podemos minimizar o fenómeno para uma dimensão que não seja vista como uma ameaça para os países de destino", considerou.

As migrações africanas representam 14% das migrações globais. Em 2017, mais de metade dos migrantes africanos ficaram no continente e apenas um quarto saíram para a Europa.

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