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NATO preserva "estabilidade internacional" e paz defendidas há 70 anos

Após 70 anos de história, que se completam quinta-feira, a NATO mantém a frescura do seu propósito de "manter a estabilidade internacional", perante desafios e inimigos que se reinventaram, de acordo com analistas ouvidos pela Lusa.

NATO preserva "estabilidade internacional" e paz defendidas há 70 anos
Notícias ao Minuto

08:32 - 02/04/19 por Lusa

Mundo Efeméride

Atribui-se a Hastings Ismay, primeiro secretário-geral da NATO, a afirmação de que, quando foi criada, a organização do Atlântico Norte servia para "manter os soviéticos fora, os americanos dentro e os alemães em baixo".

Setenta anos depois, os soviéticos já não existem, os americanos não querem sair e a Alemanha não constitui uma ameaça militar para os aliados, mas vários especialistas em política internacional e estratégia militar ouvidos pela Lusa são unânimes em considerar que a NATO mantém a sua relevância para cada um dos seus atuais 29 membros, incluindo para Portugal (país fundador).

As cerimónias de celebração dos 70 anos da NATO realizam-se em Washington, nas próximas terça e quarta-feira, a mesma cidade que viu nascer a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), no dia 4 de abril de 1949.

"Será uma oportunidade para celebrar sete décadas de paz e prosperidade para as nossas nações e uma oportunidade para olhar juntos para o futuro, disse na segunda-feira o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, numa conferência de Imprensa para anunciar as celebrações.

Os desafios para que a NATO agora olha são bem mais difusos do que eram em 1949, quando para os 12 países fundadores havia um "inimigo" bem identificado: a ameaça da União Soviética perante os valores e os interesses ocidentais.

Para Daniel Marcos, historiador e investigador do Instituto de Políticas e Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa, de alguma forma a NATO volta agora às origens, vendo nos interesses da Rússia um alvo de preocupação.

Não é por acaso que as celebrações dos 70 anos da organização, em Washington, começam com um debate para analisar o "comportamento agressivo da Rússia" para com os vizinhos, como a Ucrânia e a Geórgia.

"Depois de um trajeto conturbado, a NATO regressa às suas ideias originais, perante a ameaça expansionista agora já não soviética, mas russa", disse à Lusa Daniel Marcos, destacando o objetivo de proteção e salvaguarda territorial da organização.

Carlos Gaspar, investigador de Relações Internacionais, prefere salientar um outro objetivo originário da NATO: unificar a Europa ocidental, depois da II Guerra Mundial (1939-1945) e garantir que a Alemanha não voltaria a constituir uma ameaça.

Mas, naturalmente, explicou Carlos Gaspar à Lusa, também era prioridade da NATO lidar com a ameaça soviética, que acabara de ajudar a derrotar o poderoso exército alemão, e se afirmava como uma nuvem perante os interesses ocidentais, durante a chamada Guerra Fria.

Tiago Moreira de Sá, investigador de Estudos Políticos da Universidade Nova de Lisboa, realça a forma como rapidamente a NATO passou de uma aliança militar para uma comunidade política, partilhando valores e ideias que superam as meras fronteiras de defesa.

"Por isso, é importante olhar para os desafios do alargamento da NATO, que podem vir a incluir países com agendas políticas muito diferentes", disse à Lusa Moreira de Sá, referindo-se, por exemplo ao pedido de adesão à NATO por parte da Ucrânia.

"Isso não deve acontecer", responde Carlos Gaspar, referindo-se à adesão da Ucrânia, indicando exatamente as complexas e conflituosas relações desse país com a Rússia, para explicar por que a NATO tem de ser cautelosa na forma como se posiciona perante os russos.

"A NATO procura preservar a estabilidade internacional, não considera a Rússia um inimigo, mas antes como um rival ou um perturbador", disse este investigador, a propósito das sanções impostas à Rússia ou pelas condenações de várias atitudes do Presidente Vladimir Putin.

Carlos Gaspar recorda que a NATO sempre se mostrou empenhada na "resolução pacífica de litígios", embora, caso os esforços diplomáticos falhem, conte com o poder militar para realizar "operações de gestão de crise", no âmbito da cláusula de defesa coletiva, salvaguardada pelo artigo 5.º do Tratado.

O historiador Daniel Marcos explica que a NATO passou da bipolaridade EUA/URSS para um cenário multipolar, sabendo adaptar-se à queda do muro de Berlim (1989) ou ao fim da Guerra Fria (1991), reinventando-se ao longo das décadas.

Mas a NATO mantém os propósitos essenciais presentes em 1949: ser uma aliança política e militar, com uma agenda de defesa coletiva, permitindo a ligação transatlântica entre os EUA e a Europa ocidental.

Tiago Moreira de Sá salienta a vertente de partilha de valores democráticos (embora Portugal tenha aderido quando estava sob o regime ditatorial de António Salazar, mas por interesse estratégico norte-americano na base das Lajes, nos Açores) e de ideais civilizacionais que tem funcionado como "cola" para a aliança que agora incorpora 29 países membros.

Com o ataque à Torres Gémeas, em Nova Iorque, em 11 de setembro de 2001, a NATO invocou pela primeira vez o artigo 5.º e adotou uma abordagem mais ampla relativamente à segurança dos países membros, inaugurando uma nova fase na história da organização, perante as ameaças terroristas.

E quando assumiu o comando da Força Internacional de Assistência para a Segurança, na guerra do Afeganistão, em 2003, revelou uma faceta de colaboração internacional cujo espetro tem vindo a aumentar.

"Veja-se o que se passa com as parcerias de colaboração, com países de vários continentes, para se perceber que a NATO procura novos rumos", explicou Carlos Gaspar, enaltecendo esse esforço de alargamento de áreas de influência, num mundo cada vez mais globalizado.

O conceito estratégico de 2010, ainda em vigor, é um documento delineado para uma mais ativa colaboração entre aliados, procura que a NATO continue tão eficaz como sempre, a defender a paz e a prosperidade, permitindo novas formas de defesa perante novas formas de ameaça, como ciberataques, afirmou num discurso em Lisboa o então secretário-geral, Anders Rasmussen.

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