Organizações exortam França a parar venda de armamento à Arábia Saudita
Várias organizações não-governamentais exortaram hoje França a suspender a venda de armamento à Arábia Saudita e a promover uma solução política para o Iémen, afetado desde 2014 por uma guerra e uma das piores crises humanitárias no mundo.
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Mundo Iémen
"Não sei quantos iemenitas ainda terão de morrer, ficar feridos ou esfomeados até que o mundo fique finalmente convencido de que a guerra tem de acabar", disse a presidente da organização não-governamental (ONG) iemenita Mwatana, Radhya Almutawakel, numa conferência de imprensa em Paris.
O apelo das ONG surge a poucos dias de ser assinalado o quarto aniversário da intervenção no Iémen de uma coligação militar liderada pela Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos (iniciada a 26 de março de 2015) para apoiar o governo e as forças do Presidente Abd Rabbo Mansur Hadi contra os rebeldes conhecidos como Huthis, apoiados pelo Irão.
"A paz é possível, mas nunca acontece porque o mundo não se importa. A comunidade internacional deve pressionar todas as partes e parar de alimentar o conflito ao vender armas à Arábia Saudita", referiu.
Segundo os números oficiais, cerca de 10.000 pessoas, a maioria civis (9.500), foram mortas e mais de 60.000 ficaram feridas desde o início do conflito no Iémen, mas as ONG estimam que o número de vítimas seja muito maior, algumas admitem um balanço cinco vezes superior.
"Todas as partes envolvidas no conflito estão a cometer violações dos Direitos Humanos. Sentem-se autorizadas a fazer o que quiserem", acrescentou Radhya Almutawakel.
Os apelos das ONG ao Ocidente, nomeadamente a França, o terceiro fornecedor de armas da Arábia Saudita, para que suspenda a venda de armamento a Riade têm sido frequentes.
O assunto ganhou ainda mais força após o caso de Jamal Khashoggi, um jornalista saudita que foi assassinado em outubro passado após ter entrado no consulado da Arábia Saudita em Istambul (Turquia).
"França deve dar a conhecer as suas exportações de armas ao parlamento e à sociedade civil francesa", afirmou, por sua vez, Aymeric Elluin, da Amnistia Internacional França, exortando Paris "a seguir o exemplo da Alemanha".
Berlim decidiu congelar as entregas de armamento após o caso Khashoggi.
Paris tem argumentado que o armamento que vende a Riade é controlado e não está envolvido na guerra no Iémen.
As várias ONG presentes na conferência de imprensa em Paris voltaram também a denunciar a tragédia humanitária que vive o Iémen, uma das piores crises humanitárias no mundo, com vários milhões de iemenitas ameaçados pela fome, segundo as Nações Unidas.
"A ajuda humanitária é vital, mas as ONG estão cada vez mais bloqueadas por obstáculos administrativos e de segurança", indicou, por seu turno, Fanny Petitbon, da organização Care France.
As organizações também pediram a França que aproveite as próximas posições que irá assumir em órgãos internacionais - a presidência do Conselho de Segurança da ONU e a presidência do G7 (as maiores economias do mundo) - para pressionar e defender um processo de paz.
Também hoje, uma ONG francesa anunciou que avançou com uma queixa contra ex-soldados da Legião Estrangeira (unidade militar francesa criada no século XIX e que é atualmente uma tropa de elite) acusados de servirem como mercenários dos Emirados Árabes Unidos para cometerem assassínios no Iémen.
A Aliança Internacional para a Defesa dos Direitos e das Liberdades (AIDL), fundada por um jornalista iemenita no exílio Mohamed Al Shami, apresentou a queixa, no âmbito de um processo civil, num tribunal de Paris por "crimes de guerra" e "participação numa atividade mercenária".
A queixa, a que agência France Presse (AFP) teve acesso, apoia-se sobretudo num artigo publicado há alguns meses pelo site de notícias BuzzFeed nos Estados Unidos que relatava o recrutamento pelos Emirados Árabes Unidos de mercenários internacionais para uma campanha de assassínios no Iémen.
A operação foi agendada para 29 de dezembro de 2015 em Aden (Iémen) e tinha como alvo um deputado do partido Al-Islah, uma formação próxima da Irmandade Muçulmana (organização islâmica).
Segundo a queixa agora conhecida, a missão destes mercenários também incluía "assassínios programados de outros 22 indivíduos".
Nove antigos militares da Legião Estrangeira, cuja identidade ainda é desconhecida, terão feito parte desta equipa de mercenários organizada por uma empresa norte-americana privada, a Spear Operations Group.
A queixa acusa Mohammed Dahlane, antigo homem forte da Fatah (partido político) na Faixa de Gaza que se encontra atualmente exilado nos Emirados Árabes Unidos (onde é conselheiro das autoridades locais), de organizar o recrutamento.
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