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Críticas de May ao parlamento poderão ter custado apoio de deputados

As críticas feitas pela primeira-ministra britânica, Theresa May, ao parlamento pelo impasse no processo do Brexit poderão custar-lhe o apoio desejado para fazer passar o Acordo de Saída na próxima semana, afirmaram hoje analistas britânicos.

Críticas de May ao parlamento poderão ter custado apoio de deputados
Notícias ao Minuto

16:39 - 21/03/19 por Lusa

Mundo Brexit

"Foi um discurso estranho porque se ela quer o apoio dos deputados não devia criticá-los", comentou hoje Anand Menon, professor especializado em política europeia e relações internacionais na universidade King's College.

Numa mensagem televisiva ao país, a partir da sua residência oficial em Londres, o número 10 de Downing Street, a primeira-ministra britânica queixou-se de o parlamento ter, ao longo de dois anos, "feito tudo para evitar tomar uma decisão" sobre o acordo de saída do Reino Unido da União Europeia negociado com Bruxelas.

"Eu tenho a certeza absoluta: vocês, o público, já estão fartos. Fartos das lutas internas. Fartos dos jogos políticos e dos debates processuais obscuros. Fartos dos deputados s falar sobre mais nada para além do Brexit quando vocês têm preocupações reais sobre as escolas dos filhos, sobre o nosso Serviço Nacional de Saúde e sobre o crime com armas brancas. Vocês querem que esta fase do processo do Brexit acabe, termine. Concordo. Eu estou do vosso lado", afirmou Theresa May.

Menon, que é diretor do instituto UK in a Changing Europe, aludiu aos "níveis de revolta" observados junto de vários deputados de diferentes partidos na sequência do discurso feito na terça-feira à noite.

"É um bocadinho cínico culpar-nos a nós quando temos estado a fazer o que é certo e a procurar encontrar um consenso", afirmou a deputada do Partido Nacionalista Escocês (SNP), Kirsty Blackman, em declarações hoje à BBC.

O trabalhista Barry Gardiner ironizou que, "em vez de dizer que ela é a primeira-ministra e que ela é responsável, ela disse que a responsabilidade é dos outros".

O conservador Dominic Grieve, que na terça-feira já se tinha indignado com as declarações de May sobre o parlamento "contemplar o próprio umbigo" e debater para "próprio prazer" sobre o Brexit, argumentou que os deputados estão a fazer o que devem.

"Temos uma democracia de representação parlamentar e não se pode pedir aos deputados para não usarem o seu discernimento quando a opinião é claramente que o acordo dela tem falhas", vincou.

Segundo Anand Menon, uma reação importante foi a da deputada trabalhista Lisa Nandy, uma potencial apoiante do acordo e primeira signatária de uma proposta feita no parlamento a favor da aprovação em troca de maior controlo pelos deputados das negociações sobre as relações futuras.

O potencial dessa proposta para atrair mais votos de deputados da oposição foi, no entanto, pervertido pelo teor do discurso de May, o qual Nandy considerou, através da rede social Twitter, "vergonhoso".

"Colocar o Parlamento contra as pessoas no ambiente atual é perigoso e imprudente. Ontem [terça-feira] o seu governo atacou os seus funcionários públicos. Agora ela está a atacar os deputados cujos votos precisa. Isso ter-lhe-á custado apoio", disse a deputada.

Também através do Twitter, o trabalhista Wes Streeting lembrou que deputados de vários partidos têm sido alvo de ameaças de morte, acrescentando: "O discurso dela é incendiário e irresponsável. Se algum mal acontecer a algum de nós, ela terá que aceitar a sua quota de responsabilidade".

Hoje, a deputada trabalhista Paula Sheriff disse no parlamento que recebeu uma mensagem ameaçadora e apelou à primeira-ministra para mostrar liderança, ao que o líder da Câmara dos Comuns, John Bercow, respondeu que nenhum deputado deve ser considerado "traidor" devido à posição tomada sobre o Brexit.

"Nenhum de vocês é um traidor. Todos vocês estão a fazer o vosso melhor", salientou.

Steve Peers, especialista em direito da UE na Universidade de Essex, também se mostrou surpreendido com o discurso da chefe do governo por tratar-se de um "apelo ao público quando não ela tem um mandato diferente porque não é eleita à parte do parlamento".

"Ela precisa de uma maioria no parlamento para conduzir o governo, por isso não faz sentido atacar o parlamento, a não ser que seja para provocar os deputados e levá-los a aprovarem o acordo na próxima semana", referiu.

Sara Hobolt, especialista em política europeia na universidade London School of Economics, qualificou o discurso de "clássico populista".

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