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Violação de mulheres rohingya é tratada como problema comunitário

As violações verificadas em Myanmar e denunciadas pelas mulheres rohingya refugiadas no Bangladesh são tratadas como um problema comunitário, evitando-se a individualização e consequente estigma de identificação de crianças concebidas devido a esse crime, afirma fonte de organização humanitária.

Violação de mulheres rohingya é tratada como problema comunitário
Notícias ao Minuto

08:07 - 17/03/19 por Lusa

Mundo Bangladesh

"É um tema sensível e pouco registado, pelas conotações que tem e também para proteção das crianças e do trabalho com as mulheres vítimas de abuso sexual. A melhor forma de abordar esses temas, difíceis de identificar de forma clara, é trabalhar de maneira muito mais generalizada, nas comunidades e famílias como sistema para as fortalecer", defende em declarações à Lusa Olga Rebolledo, diretora de psicologia e saúde mental da Organização Internacional para as Migrações (OIM) em Cox's Bazar, onde se situa o maior campo de refugiados rohingya.

Cerca de 750 mil membros da comunidade rohingya, muçulmana, fugiram para o Bangladesh desde agosto de 2017, após um ataque de um grupo insurgente a postos militares e policiais que levou a uma ofensiva militar pelo exército birmanês, país de maioria budista, no Estado ocidental de Rakhine.

A violência, descrita pela ONU como limpeza étnica e um possível genocídio, incluiu o assassínio de milhares de pessoas, a violação de mulheres e de crianças e a destruição de várias aldeias, provocando uma das crises humanitárias mais graves do início do século XXI.

Em entrevista para um documentário no âmbito de uma bolsa de exploração da Nomad, a responsável insiste na prioridade de defesa das mulheres e crianças, para que não paguem novamente em termos sociais pelo crime do qual são vítimas.

"Isto pode produzir muitos mais estigmas. Em algumas culturas ser filho de uma violação sexual tem implicações gravíssimas de estigma cultural que pode magoar muito mais as pessoas. Há que proteger, evitar que aconteçam problemas mais graves à volta da saúde mental, da identidade e do bom nome das pessoas", justifica.

A médica colombiana insiste que o trabalho é feito ao nível comunitário, até porque é o todo que precisa de ser regenerado nesta complexa situação.

"Nós como cooperação internacional e atores humanitários temos de garantir que as comunidades se restabeleçam finalmente, quaisquer que sejam as opões posteriores de ficar no Bangladesh ou serem repatriadas. No fim temos de lhes dar ferramentas para enfrentarem a vida normal de um cidadão em contexto de direitos humanos", reforça.

Olga Rebolledo também destaca a importância de proteção específica da mulher, habitualmente alvo mais fácil de "violência física e psicológica", e tradicionalmente secundarizada "numa cultura muito sustentada em hierarquia e na qual o seu papel na comunidade não é muito visível".

"Há que abordar esta questão de forma séria, integrando os diversos atores responsáveis pela proteção e segurança da gente nos acampamentos (...) Precisamos começar a gerar novas formas de relacionamento mais positivas", manifesta.

Desde que a nacionalidade birmanesa lhes foi retirada em 1982, os rohingyas têm sido submetidos a muitas restrições: entre outras, não podem viajar ou casar sem autorização, não têm acesso ao mercado de trabalho, nem aos serviços públicos (escolas e hospitais).

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