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Resilientes rohingya esperam efeitos da pressão internacional para voltar

Os refugiados rohingya no Bangladesh são "muito resilientes" e querem regressar a casa em Myanmar, mas a comunidade internacional deve pressionar as autoridades do país, defende o coordenador de emergência da Organização Internacional para as Migrações (OIM) em Cox's Bazar.

Resilientes rohingya esperam efeitos da pressão internacional para voltar
Notícias ao Minuto

09:35 - 16/03/19 por Lusa

Mundo OIM

"Mais do que as pessoas acreditarem que vão voltar, temos de salientar o facto de quererem voltar. A maioria da população é muito insistente no facto de querer voltar para as suas casas, para as suas terras, para o seu meio conhecido. E acho que isso é muito positivo. Não acho que seja uma população que esteja resignada. É muito resiliente", vinca Manuel Marques Pereira.

Cerca de 750 mil membros da comunidade rohingya, muçulmana, fugiram para o Bangladesh desde agosto de 2017, após um ataque de um grupo insurgente a postos militares e policiais que levou a uma ofensiva militar pelo exército birmanês, país de maioria budista, no Estado ocidental de Rakhine.

A violência, descrita pela ONU como limpeza étnica e um possível genocídio, incluiu o assassínio de milhares de pessoas, a violação de mulheres e de crianças e a destruição de várias aldeias, provocando uma das crises humanitárias mais graves do início do século XXI.

Em entrevista para um documentário no âmbito de uma bolsa de exploração da Nomad, Manuel Marques Pereira recorda à Lusa que o povo rohingya "enfrentou muitas coisas" e que agora "precisa de alguma segurança e informação para poder tomar uma decisão quanto ao seu futuro".

A solução desta problemática carece de "tempo" e de maior "pressão" sobre as autoridades do Myanmar, detentoras da "solução", pelo que o dirigente da OIM insiste que é vital a situação permanecer na primeira linha do debate público internacional.

"A crise rohingya é um problema político que necessita de uma resolução que está do lado do Myanmar. Acho que as partes estão em conversações, a discutir o problema, mas tenho a certeza de que é um processo que necessita do seu tempo. Não é imediato, porém a médio termo esperemos que haja movimentos positivos no sentido de se resolver algumas das questões de base que criaram este conflito", deseja.

Enquanto a situação continua por solucionar, o conjunto das mais de 100 instituições humanitárias internacionais a trabalhar no terreno pediu, através da ONU, um financiamento de 815 milhões de euros para 2019.

Esta ajuda visa garantir serviços básicos como alimentação, água, saneamento e abrigo, rubricas que representam mais de metade do financiamento.

"As grandes necessidades que temos são financeiras e humanas, pelo tamanho da escala da crise, tamanho e número de pessoas às quais temos que providenciar serviços e ajudar", esclarece Manuel Marques Pereira.

Para o responsável, que já esteve nas respostas a riscos humanitários em Timor-Leste, Paquistão, Filipinas, Moçambique e Iraque, há vários motivos que encarecem as operações no terreno, entre elas o facto de metade dos refugiados serem "muito vulneráveis", casos das mulheres, crianças, idosos e cidadãos com alguma incapacidade física.

Manuel Marques Pereira diz ainda que "estas incapacidades são exacerbadas pela geografia do terreno" acidentado, que complica a ação humanitária em todo o tipo de logística.

A questão da comunicação também tem sido uma barreira a uma ajuda macis eficaz, uma vez que os rohingyas não têm uma língua escrita, mas de tradição oral, que não é igual ao bengalês ou chitagónio, as mais faladas na península e com as quais têm afinidades.

"Estamos a tentar que esta comunicação seja mais efetiva. Só entendendo quais as necessidades, as preocupações e satisfação dos rohingyas podemos adaptar tudo o que fazemos para criar esse efeito de dignidade e pertença que eles hoje em dia não têm", assume.

O trabalhador humanitário português insiste no "apelo" para que a comunidade internacional "não esqueça esta crise e possa também contribuir para melhorar a qualidade de vida dos rohingya".

Desde que a nacionalidade birmanesa lhes foi retirada em 1982, os rohingyas têm sido submetidos a muitas restrições: entre outras, não podem viajar ou casar sem autorização, não têm acesso ao mercado de trabalho, nem aos serviços públicos (escolas e hospitais).

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