Como reintroduzir animais carnívoros em ecossistemas. Moçambique mostra
Um grupo de ecologistas da universidade norte-americana de Princeton publicou um estudo científico feito em Moçambique para provar que é possível restaurar ecossistemas reintroduzindo carnívoros desaparecidos, como o leopardo, lê-se no resumo do trabalho.
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Mundo Exemplo
"A equipa encontrou provas de que a reintrodução de carnívoros importantes num ecossistema de grandes mamíferos pode reverter os danos causados pela sua remoção", refere-se no documento publicado pela universidade e hoje consultado pela Lusa.
O grupo realizou a pesquisa no Parque Nacional da Gorongosa (PNG), centro de Moçambique, de onde desapareceram animais como o leopardo devido à guerra civil, na década de 1980.
Segundo observaram, isso fez com que alguns antílopes - que eram presas do leopardo - passassem a aventurar-se em zonas mais abertas e a comer espécies diferentes de plantas, mais nutritivas, alterando o equilíbrio que antes existia entre fauna e flora.
Através de gravações e de resíduos orgânicos espalhados pela zona, os investigadores de Princeton simularam o regresso do leopardo e concluíram que os antílopes e o resto do ambiente reagem, restaurando-se o ecossistema original.
"Os grandes carnívoros desempenham um papel crítico e desproporcional nos respetivos ecossistemas e as populações estão a diminuir em todo o mundo", disse Justine Atkins, estudante de pós-graduação em ecologia e biologia evolutiva de Princeton, membro da equipa.
O estudo permite "ter esperanças em muitos desses ecossistemas", por ficar provada a capacidade de os restaurar, acrescentou.
O estudo serve de apoio ao trabalho que está a ser feito no Parque da Gorongosa na reintrodução de carnívoros.
A primeira espécie a regressar ao meio foram os cães selvagens africanos, em meados de 2018, e o balanço é positivo, consideram.
"Historicamente, um grupo diversificado de predadores na Gorongosa mantinha os herbívoros confinados a áreas com menor risco de predação", referiu Robert Pringle, professor de ecologia e biologia evolutiva em Princeton e um dos autores do estudo, que dinamizou desde 2015.
A eliminação dos predadores "quebrou as regras que normalmente ditam o que os herbívoros vão comer e onde, o que tem efeitos em toda a cadeia alimentar".
Greg Carr, filantropo norte-americano, acordou em 2007 o restauro do parque com o Governo moçambicano, através de um entendimento para 25 anos.
Depois de décadas de abandono, devido à guerra civil de 16 anos e que terminou em 1992, em Moçambique, o PNG tem nos últimos anos conhecido um movimento de repovoamento.
É uma das principais áreas de conservação no país e está igualmente a afirmar-se como um polo de investigação, atraindo cientistas de várias partes do mundo.
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