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Frente Democrática do Povo Centro-Africano retira-se do processo de paz

A Frente Democrática do Povo Centro-Africano (CDPF) retirou-se do processo de paz na República Centro Africana, anunciou hoje este grupo, um dos 14 que assinou o acordo de paz, em fevereiro, com as autoridades deste país.

Frente Democrática do Povo Centro-Africano retira-se do processo de paz
Notícias ao Minuto

11:15 - 04/03/19 por Lusa

Mundo RCA

"A CDPF decidiu simplesmente retirar-se do processo de paz" devido ao novo Governo, que "está longe de ser inclusivo" e não cumpre, assim, o acordo de Cartum, disse o grupo numa nota de imprensa citada pela agência noticiosa AFP.

A CDPF, liderada por Abdoulaye Miskine, tem uma forte implantação no noroeste da RCA, mas não tem uma presença significativa à escala nacional, nota a AFP, dando conta de que não ficou explícito que o grupo se tenha retirado do acordo de paz.

No domingo à noite, a Frente Popular para o Renascimento da República Centro-Africana (FPRC), um dos principais grupos armados da RCA, signatário do acordo de paz assinado no início de fevereiro entre Bangui e 14 grupos armados, acusou o Governo de desrespeitar os seus compromissos na formação do novo executivo.

As autoridades "dão prova de má-fé, de amadorismo e incompetência", afirmou a FPRC à AFP.

O novo governo da República Centro-Africana (RCA) foi anunciado no domingo, em conformidade com o acordo de paz, que prevê a formação de um "governo inclusivo", porém, não houve mudanças em nenhuma das pastas centrais -- Defesa, Finanças, Justiça, Negócios Estrangeiros, Comunicação, Interior e Economia.

"Ao brincar ao 'gira o disco e toca o mesmo', o Presidente da República (...) acaba de matar no ovo a esperança do povo centro-africano no acordo de paz", avança o comunicado, assinado pelo líder do FPRC, Nouredine Adam, que não é explícito quanto à hipótese de o grupo vir a retirar-se de outros pontos do acordo.

O grupo sublinha que "não participará num governo de fachada", mas Nouredine Adam não esclarece se os membros do FPRC se sentarão na "comissão inclusiva", prevista no acordo para "qualificar e propor quaisquer ações suscetíveis de serem tomadas em matéria de justiça".

"Albert Einstein diz que 'loucura é querer resultados diferentes fazendo tudo exatamente igual'", disse ainda o líder do FPRC.

O acordo de paz definido em Cartum, capital do Sudão, e assinado em Bangui em 06 de fevereiro entre o executivo centro-africano e 14 grupos armados, previa a formação de um governo inclusivo.

O governo anunciado este domingo não mexe nas pastas da Defesa, Finanças, Justiça, Negócios Estrangeiros, Comunicação, Interior e Economia, tendo os seus titulares sido reconduzidos.

Entre as mudanças mais significativas está a entrada de Maxime Mokom, chefe do grupo armado anti-Balaka, as milícias autoproclamadas de autodefesa, e aliado dos principais grupos armados, para ministro do Desarmamento, Desmobilização, Reinserção e Repatriamento.

O porta-voz do grupo armado Unidade para a Paz na RCA, Souleymane Daouda, será o novo ministro da Pecuária, enquanto Hamza Guismala, braço direito de Noureddine Adam, foi nomeado para a pasta do Desenvolvimento Energético e dos Recursos Hidráulicos, mas pode não assumir funções, atendendo à posição da FPRC agora anunciada.

O Movimento Patriótico para a RCA viu um dos seus membros mais importantes, Adam Chaibou, ser nomeado ministro da Modernização.

O grupo armado Unidade para a Paz na RCA, a Frente Popular para o Renascimento da RCA, o Movimento Patriótico para a RCA e os anti-Balaka são aliados e repartem entre si uma grande parte do território.

Por fim, o secretário-geral do Kwa Na Kwa, o partido do antigo Presidente François Bozizé, perseguido e exilado no Uganda, foi nomeado ministro da Administração Pública.

A RCA, palco de um conflito desde 2013, tem 80% do território ocupado por 15 grupos armados que disputam os recursos minerais do país.

Depois do dia 06 de fevereiro, data da assinatura do acordo em Bangui, houve alguns incidentes armados no país, mas não foi registado nenhum combate de maior dimensão.

Esse acordo, o oitavo desde o início da crise, começou a ser preparado depois de julho de 2017 pela União Africana e aclamado por todas partes da RCA.

O país está entre os mais pobres do mundo, apesar da riqueza dos seus solos em diamantes, ouro e urânio.

A RCA caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube do ex-presidente François Bozizé por grupos armados juntos na designada Séléka (coligação, na língua franca local), o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a designação anti-Balaka.

O conflito neste país, com o tamanho da França e uma população que é menos de metade da portuguesa (4,6 milhões), já provocou 700 mil deslocados e 570 mil refugiados e colocou 2,5 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda humanitária.

Portugal tem empenhados 193 militares na missão das Nações Unidas na RCA (Minusca), 179 dos quais constituem-se como força de reação imediata, sediados em Bangui, mais 14 no quartel-general, cujo segundo comandante é o general português Marcos Serronha.

Na missão de formação e aconselhamento da União Europeia neste país, comandada por Portugal até ao próximo mês de julho, estão 63 militares, segundo dados do Estado-Maior-General das Forças Armadas.

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