Etiquetam-se os migrantes "como se não fossem pessoas"
O presidente da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, Francesco Rocca, denunciou a perda de humanidade da Europa, lamentando a forma como os países europeus estão a gerir a crise migratória.
© Reuters
Mundo Migrações
Numa entrevista à agência de notícias espanhola EFE, Rocca criticou que se "etiquete" os migrantes "como se não fossem pessoas".
"O problema não é proteger as fronteiras, porque cada país tem direito a fazê-lo. O problema é garantir a dignidade dos seres humanos", sublinhou.
De acordo com Rocca, trata-se de dar aos migrantes o direito a aceder aos serviços básicos, independentemente do estatuto legal que possam ter em determinado país, "algo que não acontece".
O responsável mostrou-se muito cuidadoso sobre falar de política, por entender que o seu papel não é falar de governos.
No entanto, afirmou que "a comunidade internacional não está a fazer o suficiente" para encontrar soluções e lidar com as causas que levam a que milhares de pessoas abandonem os seus países de origem e tentem atravessar as fronteiras europeias.
"É inaceitável etiquetar os migrantes", apontou.
Advogado de formação, Rocca destacou o "falhanço" da política desenhada pela Comissão Europeia para distribuir os refugiados por diferentes países da União Europeia e que impõe quotas a cada país.
"O mecanismo de diálogo está a falhar completamente e precisamos de impor sanções aos países que se recusam a receber migrantes, tal como acordado", defendeu.
Destacou também as dificuldades por que estão a passar algumas das organizações que se dedicam a resgatar migrantes no mar Mediterrâneo, e que estão a ser acusadas de tráfico de pessoas.
"Por que é que ninguém critica os bombeiros quando vão salvar uma vida? Ninguém questiona quem é que vive na casa em chamas, se é um criminoso, um imigrante ou alguém branco. E são tratados como heróis", sublinhou.
"Por outro lado, por que é que se considera traficante quem patrulha o Mediterrâneo e salva a vida daqueles que foram forçados a atravessar o mar em botes", questionou.
Para sustentar a sua posição, o presidente da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho lembrou a Convenção de Genebra, que regula o direito humanitário internacional, entre eles o dever de resgatar no mar.
Destacou também o "importante" papel dos meios de comunicação no conflito, a quem culpou por serem um dos principais responsáveis por "etiquetar de forma errónea" os migrantes.
"É crucial que usem palavras precisas, expliquem bem o contexto e não alimentem só o medo", pediu.
Apontou que o mundo está a mudar e de forma muito rápida, o que faz com que as organizações humanitárias tenham de se adaptar a "esta revolução", e defendeu que uma forma de o fazer é garantindo que as pessoas migrantes tenham acesso a um serviço básico que, às vezes, passa despercebido, e que é a informação.
Referiu que uma das tarefas da Cruz Vermelha nos principais portos de chegada é oferecer orientação legal sobre o acesso a cuidados de saúde, alojamento e, sobretudo, sobre o seu estatuto administrativo.
Um conjunto de medidas para que os migrantes possam "tomar medidas bem informadas na sua vida", sublinhou.
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