Médicos que apoiam portugueses desistem de apoio do governo
A Associação de Médicos Luso-venezuelanos, que acompanha lusodescendentes doentes na Venezuela, desistiu da ajuda do Governo português e passou a contar com apoio da AMI. Desistiram de esperar por uma ajuda prometida que, segundo os médicos, nunca chegou.
© Reuters
Mundo Venezuela
Carla Dias, uma das responsáveis da associação, nem quer acreditar naquilo que tem acontecido. Várias reuniões, visitas de dois secretários de Estado portugueses, das Comunidades e da Saúde, em outubro, um programa de apoio aos doentes lusodescendentes com a entrega de medicamentos e, afinal, diz, "a única coisa que chegou foram medicamentos desajustados das doenças indicadas numa extensa lista, alguns até fora de prazo".
Não percebe o que pode ter acontecido, só lamenta que "os políticos façam promessas e depois não as cumpram".
Aconteceu a visita recente de Fernando Nobre, da Assistência Médica Internacional (AMI), a Caracas e os médicos da associação apresentaram todo o programa. "Ficou impressionado e decidiu a participação de 30 mil euros", conta Carla Dias.
Quem está mesmo desesperada é a portuguesa nascida na Venezuela Zita de Freitas. Sofre de uma doença cancerígena e tem de tomar um medicamento (Afanix40) de forma constante e prolongada no tempo. Mostra o passaporte e o bilhete de identidade para provar que é lusodescendente e conta como chegou ao programa apoiado pelo Governo português.
Um dos médicos da associação chegou mesmo a falar ao telefone com o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas e Zita também recebeu um telefonema depois de um trabalho da RTP sobre o assunto, mas o medicamento nunca chegou.
Quem tomou essa responsabilidade de manter Zita viva "foram os médicos da associação, que o pagam do seu bolso", explica a doente.
Que lhe disse o Secretário de Estado? "Que tenho de ir a Portugal para ser avaliada para se saber se é mesmo este o medicamento que tenho de tomar. Como não? Estes são alguns dos melhores médicos de oncologia de toda a América Latina", indigna-se Zita quando conta o episódio.
A médica Carla Dias aproveita para dizer que tudo se resolveria numa chamada pela internet entre profissionais e não percebe toda a complicação criada pelo Governo português.
Zita de Freitas, que precisa daquele medicamento, que não se vende em Caracas, para viver, não percebe se o comportamento do Estado português neste processo "é política, se é burocracia", o que pede é sinceridade: "Não se pode ser tão indolente. Digam-me, sejam sinceros comigo, vão ajudar ou não?".
"Só estou a dar esta entrevista, porque estes medicamentos são a minha vida. Se me prometeram ajuda, digam se posso contar convosco", é o apelo de Zita ao Governo português.
Contactada a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, dada a diferença horária, foi garantida uma reação durante o dia de hoje.
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