Mikhail Gorbachev acredita que a verdadeira razão para o governo norte-americano se retirar do tratado de desarmamento nuclear para mísseis de curto e médio alcance (INF) é o "desejo de ficar livre de todas as restrições em matéria de armamento (...) e de alcançar a superioridade militar absoluta".
Num artigo hoje divulgado pelo jornal diário russo Vedomosti, Gorbachev diz que esta estratégia serve para os EUA "ditarem a sua vontade ao mundo".
No início de fevereiro, o governo dos EUA anunciou que se retirava do tratado INF, acusando a Rússia de não cumprir as disposições do acordo assinado em 1987, entre os líderes Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev, que abolia o desenvolvimento de mísseis terra-terra com um alcance entre 500 e 5500 quilómetros.
Após o anúncio norte-americano, também a Rússia suspendeu a sua participação no tratado, com o Presidente Vladimir Putin a prometer que daria instruções para o desenvolvimento de novos mísseis, aumentando os receios de uma nova corrida ao armamento.
Gorbachev, agora com 87 anos, contesta ainda os argumentos para a saída dos EUA do tratado, nomeadamente o desenvolvimento de armas nucleares proscritas pelo acordo por parte de países como a China, a Coreia do Norte e o Irão.
"(Esse argumento) não é convincente", afirmou Gorbachev, dizendo que os EUA e a Rússia detêm 90% das armas nucleares mundiais.
Segundo Gorbachev, a saída do tratado INF só seria justificável se uma das partes apresentasse "circunstâncias excecionais" como argumento, perante a comunidade internacional e perante o Conselho de Segurança da ONU.
Mas os EUA não o fizeram, diz Gorbachev, que também questiona a intenção de Donald Trump de assinar um novo tratado: "Que tratado? Um tratado sobre o reforço dos armamentos?", ironizou o último líder da antiga União Soviética.