Ex-presidente da RTTL diz que foi exonerado por motivos políticos
O ex-presidente da televisão e rádio públicas timorense, RTTL, disse hoje à Lusa que a sua exoneração do cargo, da qual soube pelas notícias, foi uma decisão política depois de uma auditoria liderada pelo seu sucessor no cargo.
© Lusa
Mundo Timor-Leste
"Soube pelas notícias que tinha sido exonerado. Nem sequer falaram comigo antes ou sobre qualquer problema que existisse", disse à Lusa Gil da Costa, que foi afastado este mês do cargo de presidente do Conselho de Administração da Rádio e Televisão de Timor-Leste (RTTL).
Gil da Costa explicou que foi afastado alegadamente depois de uma auditoria cujos resultados nunca conheceu, sem qualquer informação prévia do Governo e sem sequer ter a oportunidade de ser ouvido ou dar qualquer explicação.
Por isso, na sua opinião, "foi definitivamente uma decisão política", considerando "grave" o facto do seu afastamento ocorrer depois de uma auditoria mandatada pela Secretaria de Estado da Comunicação Social (SECOMS) e conduzida em outubro por Francisco da Silva '' Gary'', o seu sucessor no cargo e que hoje tomou posse.
"A nomeação do meu sucessor é política. Usam a suposta má administração e supostas irregularidades para me demitirem, mas quem me substituiu foi a pessoa que liderou o processo de auditoria. E nem sei se a auditoria tem credibilidade. Ainda nem sequer vi o resultado", afirmou.
Gil da Costa garante ainda que atuou diretamente para travar tentativas de interferência política na redação, uma prática "comum" no passado" e que "tentaram continuar na RTTL" durante o seu mandato.
"Houve várias tentativas de interferência política sobre mim e diretamente sobre os jornalistas, para tentar influenciar o conteúdo editorial", afirmou.
"Enquanto presidente insisti sempre que queria a RTTL como uma instituição independente, sem interferência política. E travei todas as tentativas disso. E havia muita interferência política", afirmou.
A decisão de exoneração foi dada a conhecer ao próprio e a público num curto comunicado do Governo referente à reunião do Conselho de Ministros de 09 de janeiro, que nem sequer menciona o seu nome.
"O Governo aprovou a proposta de Resolução do Governo relativa à exoneração do atual Presidente do Conselho de Administração da Rádio e Televisão de Timor-Leste, E.P e a nomeação do novo presidente do Conselho de Administração da Rádio e Televisão de Timor-Leste, E.P, Francisco da Silva ' Gary' sob proposta do secretário de Estado para a Comunicação Social, Merício dos Reis 'Acara'", refere o comunicado.
Apesar de várias tentativas ainda não foi possível obter um comentário do secretário de Estado, Merício dos Reis.
Gil da Costa foi nomeado para o cargo de Presidente da RTTL numa resolução do Governo aprovada a 25 de janeiro de 2018, substituindo Milena Abrantes que terminou nesse mês o seu mandato de quatro anos.
Questionado sobre se a sua nomeação -- pelo anterior Governo minoritário liderado pela Fretilin [Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente] -- tinha sido política e, por isso, agora tinha sido afastado, Gil da Costa rejeita essa sugestão, afirmando que acumulou "grande experiência profissional" e lutou para evitar "interferência política".
"Trabalhei durante muitos anos com agências internacionais. E posso ter sido nomeado pelo Governo Fretilin mas eu não obedecia à Fretlin. A RTTL é do Estado, não é do Governo. É uma instituição do Estado, não do Governo", afirmou.
Para evitar atrasos em salários, "tomei a decisão de usar as receitas próprias da RTTL, em publicidade".
"A RTTL está sem dinheiro há seis meses. E não percebo porquê", disse.
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