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Aumenta contestação à atuação da polícia nos protestos em França

A acumulação de ferimentos graves provocados nos últimos dois meses na repressão às manifestações dos "coletes amarelos" em França está a aumentar a cólera e o ressentimento contra o Governo francês e a polícia, noticia hoje a agência noticiosa AFP.

Aumenta contestação à atuação da polícia nos protestos em França
Notícias ao Minuto

14:28 - 17/01/19 por Lusa

Mundo Coletes amarelos

Os apelos para uma atuação mais cautelosa e prudente têm vindo a aumentar, em particular devido à utilização indiscriminada de balas de defesa (LBD), que projetam balas de borracha de 40 mm de diâmetro até 50 metros de distância e que já provocaram graves ferimentos na cabeça ou na vista.

Pelo menos 15 pessoas já perderam um olho desde o início do movimento social contra a política fiscal de Emmanuel Macron.

Por este motivo, o Defensor dos Direitos -- autoridade administrativa independente responsável pela defesa dos direitos dos cidadãos --, Jacques Toubon, exigiu hoje a suspensão deste tipo de armas.

No centro de Bordéus (sudoeste), dois manifestantes dos "coletes amarelos" foram vítimas desta atuação.

O primeiro, um horticultor, ficou com o seu maxilar desfeito há cinco semanas por uma destas balas de borracha semirrígidas projetadas a mais de 300 quilómetros por hora.

No sábado, o bombeiro voluntário Olivier Béziade, pai de três filhos, foi atingido na cabeça e desde então permanece hospitalizado em estado de coma.

Segundo fonte policial, pelo menos cinco pessoas foram gravemente feridas no último protesto de sábado, "provavelmente" vítimas de LBD.

O Governo tem-se referido a cerca de 2.000 manifestantes feridos em dois meses de protestos e 1.000 entre as forças policiais, sem mais precisões.

No entanto, fontes escutadas pela AFP referem-se com alarmismo a "mutilações em série", inéditas no país e a este ritmo desde há décadas.

O coletivo militante "Vamos desarmá-los [Désarmons-les] e um jornalista independente, David Dufresne, já identificaram perto de uma centena de feridos graves, dos quais 15 perderam um olho.

Segundo os manuais de instrução, as forças da ordem devem recorrer a estas "balas-flash" apenas "em caso de absoluta necessidade" e "de forma estritamente proporcionada", não dispararem acima dos ombros, nem a menos de dez metros do alvo, e ainda prestar assistência a eventuais feridos.

No entanto, estas regras estão longe de serem respeitadas, como exemplificam os vídeos que inundam as redes sociais e têm contribuído para aumentar a cólera contra o Governo e as forças policiais.

Nas imagens que registaram o disparo que atingiu Olivier Méziade, o polícia fez pontaria à altura da cabeça em direção a um grupo de "coletes amarelos" aparentemente em fuga.

No entanto, o Governo continua a apoiar firmemente as suas forças da ordem. "Nunca vi um polícia ou um guarda atacar um manifestante", afirmou esta semana o ministro do Interior, Christophe Castaner.

"O Governo está em negação, e isso apenas faz atiçar a cólera", lamentou David Dufresne.

O chefe da polícia nacional, Éric Morvan, recordou esta semana, numa nota aos seus agentes, que a utilização da LBD deve ser proporcionada e que o atirador "deve visar exclusivamente o torso e os membros superiores e inferiores".

Desde o início do movimento, a Inspeção Geral da Polícia Nacional (IGPN), a "polícia das polícias", recebeu mais de 200 informações de violências policiais.

Nos últimos anos, apenas um número muito reduzido de polícias foi condenado, e com penas suspensas, por disparos de LBD considerados abusivos.

"Somos atingidos com garrafas de vidros, tijolos, ácido, pregos. A LBD é a 'arma' que mete medo. Se nos for retirada, mais nenhum colega vai querer ser enviado para os locais das manifestações", considerou um responsável policial.

E "quando se verifica um momento de desordem, não podes deixar de a utilizar sem o risco de danos colaterais", admitiu outro agente.

"Mas se os polícias tivessem algo para me censurar, bastava que me disparassem às pernas para me imobilizarem e prenderem", lamentou por sua vez à AFP Jean-Marc Michaud, um dos feridos.

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