Na hora de sair da União, May tem em mãos um Reino (des)Unido para gerir
Vivem-se dias agitados nos corredores do poder no Reino Unido.
© Reuters
Mundo Reino Unido
Numa das semanas mais longas de trabalho que Theresa May já terá tido na sua vida, a primeira-ministra britânica lança-se numa série de conversações com diferentes grupos parlamentares, à procura de consenso, ao mesmo tempo que tem de gerir a divisão no seio do seu próprio executivo.
Na terça-feira, Theresa May viu o acordo que negociou durante 17 meses com a União Europeia sofrer uma derrota histórica: 432 votos contra, apenas 202 a favor.
A derrota precipitou uma moção de censura dos trabalhistas, votada ao final do dia de ontem.
Por uma pequena margem de 19 votos, Theresa May viu o seu governo sobreviver. Foi sem dúvida uma vitória. Mas o dia 29 de março aproxima-se. E os decisores no Reino Unido, que procura sair da União Europeia, parecem mais desunidos do que nunca.
Após derrotar a moção de censura, May lançou o desafio aos restantes representantes parlamentares para uma série de conversas com vista a um consenso de maior alcance. Eis a primeira barreira: Jeremy Corbyn e os trabalhistas, a segunda maior força política a seguir aos conservadores, recusam-se a qualquer conversa enquanto May não retirar, por inteiro, da mesa de negociações, a possibilidade de uma saída sem acordo ('no deal', como é conhecida a hipótese).
Como seria de esperar, a posição dos trabalhistas tem gerado críticas de parte a parte. Mas May tem outro problema grande entre mãos: gerir o seu próprio governo.
Ontem mesmo, o programa Newsnight, da BBC, revelava em que ponto estava a situação: um grupo de ministros defendia um "não acordo gerido" e uma extensão de mais um ano do Artigo 50. Esta extensão, além de correr o risco de ser só mais um período de suspensão, sem soluções, do Brexit, dependia do 'ok' da União Europeia, algo pouco provável após o acordo que demorou 17 meses a negociar ter sido tão avassaladoramente derrotado.
Outro grupo de ministros de May lembrou esta provável posição de Bruxelas mas também o que pensam sobre sair sem acordo: "só por cima do meu cadáver", cita-se.
Eis o que temos: o acordo que havia em cima da mesa foi liminarmente rejeitado.
Entre os que o rejeitaram, apenas uma minoria o rejeitou porque não querer acordo nenhum. Figuras como Boris Johnson, fervoroso defensor do Brexit, há muito que abandonaram o governo de May.
Entre a maioria de deputados de diferentes partidos favorável a um acordo, que permitiria uma Brexit ordenado, sobram dúvidas sobre que posição poderia ser consensual.
Estando as coisas como estão, dia 29 de março, o Reino Unido estará fora da União Europeia. Especialistas internacionais têm referido que o mais provável será o Reino Unido ainda aceitar uma saída ordenada, com acordo, curiosamente um acordo que nem deverá ser muito diferente do que foi rejeitado, dado que o tempo para negociações rareia.
Já Bruxelas está a deixar por completo a 'batata quente' no lado de lá do Canal da Mancha e pressiona agora por sinais mais concretos de Londres. Ao mesmo tempo, a possibilidade de novo referendo é ainda um 'fantasma' que marca presença.
Tony Blair, antigo primeiro-ministro britânico, sugeria esta quinta-feira que "é quase inevitável voltarmos atrás e pedirmos uma extensão do Artigo 50". Disse ainda que a Europa "repensaria algumas questões fundamentais que levaram ao Brexit".
Isto se este fosse "um mundo racional".
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com