Meteorologia

  • 19 MARçO 2024
Tempo
13º
MIN 12º MÁX 21º

A corda bamba do Brexit já fez cair um acordo. Segue-se um governo?

Ontem, Theresa May sofreu derrota histórica. Hoje deverá sair vencedora. Amanhã logo se vê.

A corda bamba do Brexit já fez cair um acordo. Segue-se um governo?
Notícias ao Minuto

08:48 - 16/01/19 por Pedro Filipe Pina

Mundo Reino Unido

Desde 1920 que uma derrota não era tão devastadora no parlamento para um primeiro-ministro britânico.

Theresa May negociou durante ano e meio com a União Europeia (UE) um acordo para uma saída ordenada da UE. Na última terça-feira, levou a votos o acordo a que chegara. Resultado: 432 votos contra e apenas 202 a favor. Do dia de ontem resultou ainda a certeza de uma moção de censura contra o seu executivo, que será votada hoje.

A derrota seria já previsível mas os números mostram a fragilidade do acordo que May tinha em mãos. Ficou clara a posição da maioria do parlamento. Mas - e parafraseando a própria líder britânica - fica a dúvida: sabemos o que rejeitam, não sabemos o que apoiam. 

'Get on with it', diz Europa impaciente

'Andem lá com isso' parece ser a posição dos líderes europeus. Emmanuel Macron, presidente francês, foi perentório em explicar de que lado do Túnel da Mancha é que estavam as responsabilidades: "A pressão está agora do lado deles".

Na Alemanha, o vice-chanceler e ministro das Finanças, Olaf Scholz, classificou o dia como "um dia amargo para a Europa". De Espanha posição semelhante, com o primeiro-ministro Pedro Sanchez a falar de um resultado negativo.

De Portugal, a posição chegou por via de Augusto Santos Silva: "A saída do Reino Unido da UE é uma má notícia, a saída sem acordo é uma notícia catastrófica".

Da UE a margem para renegociar não é muita. Depois há ainda a Escócia, onde 62% votaram para ficar na UE, mas como fazem parte do Reino Unido, estão obrigados a sair. Nicola Sturgeon, que tem sido muito crítica de May, voltou a sugerir que pode ser altura de voltar a votar a questão.

O que pode acontecer?

Primeira hipótese:

Esta quarta-feira será de debate em Londres, seguido de uma votação. Ao jeito dos volte-faces de uma série vitoriana da BBC, a educada revolta de ontem contra o acordo deverá dar lugar hoje a um relativamente sereno apoio à líder britânica, isto porque tanto os unionistas da Irlanda do Norte como os 'rebeldes' do partido conservador deverão votar contra a proposta de Jeremy Corbyn, líder dos trabalhistas.

Se a moção de censura passasse, nas duas semanas seguintes ficaríamos à espera de ver se alguma força partidária conseguiria ter apoio (moção de confiança) para formar governo. Caso contrário, após 25 dias úteis, os britânicos poderiam ir novamente a votos. 

É importante não esquecer o seguinte: tudo isto vai acontecer com um prazo que não pode ser ignorado e que está cada vez mais próximo. É que dia 29 de março, dê lá por onde der, o Reino Unido estará fora da UE.

Segunda hipótese:

Acabámos de dizer que dia 29 de março, com ou sem acordo, o Reino Unido estará fora da UE. Mas nestes tempos de incerteza... as coisas nunca são o esperado. É que Theresa May pode tentar renegociar novo acordo (que teria depois de ser aprovado no parlamento britânico).

Mas uma renegociação do acordo, como explica a BBC, não poderia ser só uma questão de acertar detalhes e limar pontas. Implicaria tempo, tempo esse que os britânicos não têm mas que podem pedir à UE. A questão é que pedir uma extensão do Artigo 50 do Tratado de Lisboa - o tal artigo que versa sobre a saída de um país do bloco comunitário - implicaria ter 27 países a concordarem em dar essa extensão aos britânicos. 

Pode, no entanto, acontecer mesmo o que muitos queriam evitar: uma saída desordenada. Com críticas que houvesse ao acordo entre UE e Londres, a verdade é que o acordo assumia que até finais de 2020 haveria um período de transição, que facilitaria o processo do Brexit. Sem acordo, poderemos mesmo ter 'hard Brexit' ao virar da esquina, com tudo o que isso implica de incerteza.

Terceira hipótese:

Theresa May enfrenta hoje a moção de censura que a poderá derrubar. Mas até se pode dar o caso de a primeira-ministra britânica optar por forçar eleições. Seria uma forma de clarificar a composição do parlamento britânico e poderia reforçar a sua posição. Mas, à boa maneira britânica, há questões a ter em conta.

Uma delas é o facto de May já ter feito algo semelhante, com as eleições de 2017. Na altura até acabou vencedora mas com menos deputados.

Para forçar eleições rapidamente, May teria de contar com tudo o que tem sido difícil de conseguir: não só teria de ter apoio parlamentar, como teria de pedir à UE adiamento do prazo.

Quarta hipótese:

E se, como num livro de final preguiçoso em que chegamos ao fim e o autor nos diz que tudo não passava de um sonho, nada disto acontecesse? O "nada disto", entenda-se, seria o que nos trouxe até aqui: o já longínquo referendo ao Brexit de 23 de junho de 2016.

Não, o tempo não volta para trás. Mas os impasses repetidos podem redundar numa mudança radical de rumo.

O Tribunal Europeu de Justiça já fez saber que o Reino Unido pode revogar, unilateralmente, o pedido que tinha feito para sair da UE. É difícil imaginar May (ou mesmo Corbyn) assumir o risco de ir contra uma decisão votada em referendo. O que quer dizer que poderíamos voltar à casa de partida e ter direito a novo referendo. Logo se via se a volta seria de 180º graus. Ou de 360º, o que quer dizer que depois de uma gigantesca volta, voltaríamos ao mesmo lugar.

É bem possível que nos últimos anos o leitor já tenha lido e ouvido por diversas vezes que "hoje é um dia decisivo para Reino Unido". Não foi mentira. Hoje é só mais um. Até ao próximo. Não admira que os analistas olhem para a libra e se fiquem por um 'é melhor esperar para ver' o que vai acontecer. 

'É a dança do ter e não ter/É a dança da corda bamba', como cantavam os Clã, mas agora ao modo britânico. 'Oh yeah'.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório