"Crise da alma"? Como Donald Trump justificou o muro no discurso à nação
Num discurso fortemente virado para as políticas anti-imigração, Donald Trump fez uma dramática argumentação para justificar a construção do muro na fronteira com o México.
© Reuters
Mundo Estados Unidos
O presidente norte-americano falou à nação na noite de ontem (madrugada desta quarta-feira em Lisboa) onde se debruçou maioritariamente sobre o controlo de fronteiras, o almejado muro entre os Estados Unidos e o México e sobre o encerramento parcial no Congresso, que o impede de alocar 5,7 mil milhões de dólares para a construção do mesmo.
Embora tenha aludido anteriormente a essa ameaça, Donald Trump não mencionou uma única vez a possibilidade de declarar estado de emergência nacional para conseguir contornar o impasse com os democratas. Ao invés disso, responsabilizou-os.
O líder republicano afirmou que o shutdown, que dura há 18 dias por inexistência de acordo no financiamento do muro, poderia terminar com uma breve reunião, se os democratas tivessem esse interesse. Argumentou que é “imoral os políticos não fazerem nada” para resolver esta crise. Porém, conforme noticiou a NBC, o Partido Democrata avançou com dois projetos de lei para libertar fundos e reabrir o governo federal e as duas foram rejeitadas pelo presidente.
Sublinhe-se que os democratas oferecem 1,3 mil milhões de dólares (cerca de mil milhões de euros) para medidas de proteção nas fronteiras, incluindo mecanismos de vigilância e vedações fortificadas, apenas se recusando a financiar a construção de um muro.
Um dos focos do discurso do presidente, o primeiro a ser transmitido pela televisão diretamente da Sala Oval, foi a questão das migrações. “Imagine que é o seu filho, o seu marido, a sua esposa, cuja vida foi cruelmente devastada e destruída. Esta é uma crise do coração e uma crise da alma”, indicou, numa alusão aos americanos atacados ou mortos por imigrantes ilegais.
“Hoje à noite falo-vos porque estamos a testemunhar uma crescente crise humanitária e de segurança na fronteira sul”, afirmou. No entanto, em 2017, de acordo com as autoridades aduaneiras (Customs and Border Protection), registou-se o número mais baixo de apreensões em 45 anos.
A crise humanitária a que se assistiu na fronteira, no ano que terminou, como explica a imprensa norte-americana, será responsabilidade da administração de Donald Trump, depois de implementar uma política de “tolerância zero”, que acabou por separar crianças das suas famílias.
Um outro ponto de discussão é o tema da segurança, tendo Trump lembrado casos de norte-americanos assassinados por imigrantes ilegais. “Ao longo dos anos, milhares de americanos têm sido brutalmente assassinados por aqueles que entraram ilegalmente no nosso país, e milhares de vidas serão perdidas se não agirmos já”, vaticinou.
Embora um polícia norte-americano tenha sido efetivamente morto na Califórnia por um imigrante, estudos têm demonstrado que os imigrantes são menos propensos, por uma margem considerável, a cometer crimes do que aqueles nascidos no país.
“Encontrei-me com dezenas de famílias, cujos entes queridos foram 'roubados' pela imigração ilegal. Eu segurei as mãos das mães que choravam e abracei os pais angustiados. Tão triste. Tão terrível”, continuou Trump, falando da mesma “crise humanitária”.
Este clamor é recebido com aberta desconfiança, tendo em conta a sua posição em relação às mortes relacionadas com armas. Em 2017, quase 40 mil norte-americanos morreram em tiroteios, conforme explica o Guardian. São cerca de 12 mortos por cada 100 mil pessoas, a taxa mais alta de mortes desde 1996. De acordo com o Gun Violence Archive, já morreram este ano - que tem nesta altura nove dias - 320 pessoas.
Tanto a líder da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, como o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, falaram pouco depois do discurso de Donald Trump, demarcando-se das suas afirmações e pedindo para serem privilegiados os factos.
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