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Decisão de Trump sobre Síria e Afeganistão gera dúvidas sobre estratégia

A decisão de Donald Trump retirar as tropas norte-americanas da Síria e reduzir a presença destas no Afeganistão suscitou hoje numerosas interrogações sobre a nova estratégia militar e política estrangeira de Washington.

Decisão de Trump sobre Síria e Afeganistão gera dúvidas sobre estratégia
Notícias ao Minuto

20:50 - 21/12/18 por Lusa

Mundo Estados Unidos

Desde logo, a decisão de sair da Síria provocou a demissão do secretário da Defesa, Jim Mattis, em total desacordo com esta decisão de Trump.

Estas retiradas constituem um virar de costas a décadas de doutrina intervencionista dos EUA no Médio Oriente e Afeganistão. Alguns observadores, mais pessimistas, admitem que estas alterações políticas possam provocar novos banhos de sangue.

Para o republicano Mac Thornberry, que preside à comissão da Câmara dos Representantes para as forças armadas, a redução militar no Afeganistão vai permitir que os talibãs "se reforcem e finalmente lancem ataques terroristas contra os (norte-)americanos".

O senador democrata Tim Kaine, por seu lado, fustigou um Presidente "que dá a prioridade aos seus objetivos políticos à custa da segurança" dos EUA e que "destrói as parcerias forjadas com os aliados" dos norte-americanos.

Mas, para muitos, que não só os apoiantes de Trump, a decisão acaba com uma guerra até agora interminável e custosa.

"Trump fez campanha sob o tema da não-intervenção, 'acabar com as guerras estúpidas' e prometeu sair da teoria da construção do Estado", disse o antigo coronel do exército Daniel Davis, membro do centro de reflexão Defense Priorities (Prioridades de Defesa), à AFP.

Cerca de dois mil militares dos EUA estão no nordeste da Síria, ao lado da coligação árabe-curda que combate o grupo que se designa por Estado Islâmico. A sua saída vai deixar a milícia curda YPG sem apoio militar, quando o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ameaça atacá-la, apesar de ter dito hoje que não tenciona fazê-lo imediatamente.

No Afeganistão, os talibãs declaram-se "mais do que felizes" com a retirada parcial dos norte-americanos, que, segundo a imprensa, deve ascender a sete mil militares, o que representa metade do contingente.

Bill Roggio, especialista do Afeganistão no centro de reflexão Foundation for Defense of Democracies (Fundação para a Defesa das Democracias), sublinhou a confusão da política dos EUA no Médio Oriente.

"Não sei o que é esta política, designadamente no que respeita à guerra ao terrorismo", disse.

"Até que Trump o explique, parece que o isolacionismo ganhou", acrescentou.

A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, recordou hoje que a decisão de Trump não é surpreendente. Em declarações na estação televisiva Fox News, disse que este já falava do assunto "desde o início da campanha eleitoral" em 2015, com o seu slogan 'America First' (Primeiro a América).

"Derrotámos o califado territorial. 99% do Estado Islâmico foi expulso da Síria", argumentou, acrescentando que Trump "não quer encontrar-se no meio de outra guerra civil no Médio Oriente e arriscar vidas (norte-)americanas nisso".

Contudo, aquele grupo, também conhecido pelo seu acrónimo em Árabe Daesh continua a fazer atentados mortíferos na Síria e a resistir às ofensivas para o expulsar dos seus últimos bastiões.

Ao sair da Síria, Trump acaba com outra prioridade do seu governo em política estrangeira, anular as intenções expansionistas do Irão, apoio permanente do regime de Bachar al-Assad.

"É um enorme erro estratégico", declarou o antigo general Jack Keane, na Fox News.

Keane, um dos potenciais sucessores de Mattis, considerou que Trump fazia os mesmos "erros" do antecessor, Barack Obama, que foi fortemente criticado pelos republicanos pela retirada militar do Iraque, antes do aparecimento do Daesh.

Os aliados internacionais dos EUA na luta contra o Daesh não esconderam a sua inquietação.

A ministra de Defesa francesa, Florence Parly, garantiu hoje que o trabalho não está "terminado", explicitando que "o risco, ao não acabar este trabalho, é o de deixar perdurar estes grupos, o que lhes permite retomar as suas atividades".

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