Meteorologia

  • 28 MARçO 2024
Tempo
13º
MIN 11º MÁX 18º

Brexit: Parlamento britânico tem a chave para impedir saída sem acordo

Faltam 102 dias para o Reino Unido sair da União Europeia e a chave para impedir que a contagem decrescente acabe numa saída desordeira por falta de acordo pode estar no parlamento e não no governo de Theresa May.

Brexit: Parlamento britânico tem a chave para impedir saída sem acordo
Notícias ao Minuto

10:08 - 17/12/18 por Lusa

Mundo Reino Unido

"Uma coisa que une a maioria dos deputados é a oposição a uma saída sem acordo. Une trabalhistas e conservadores. Mas a existência de tantos fatores diferentes faz com que exista a possibilidade de, acidentalmente, o tempo se acabar e não haver acordo", admite o politólogo Feargal Cochrane.

O texto, que demorou 17 meses a ser meticulosamente negociado pela primeira-ministra britânica, devia ter sido votado na semana passada, mas foi adiado para janeiro por May porque percebeu que iria ser rejeitado por uma "maioria significativa".

Dezenas de eleitos do seu próprio partido Conservador, juntamente com os aliados do Partido Democrata Unionista (DUP), fincaram o pé contra a solução de salvaguarda, a chamada 'backstop', para evitar controlos fronteiriços entre a Irlanda do Norte e a vizinha do sul.

Para a Irlanda, era importante garantir o princípio de liberdade de circulação inscrito no acordo de paz de 1998 que pôs fim ao conflito sectário entre republicanos e unionistas.

Mas eurocéticos e o DUP receiam que a permanência numa união aduaneira com a UE deixe o país amarrado às regras europeias por muito tempo e deixe a região britânica num estatuto diferente e separado do Reino Unido.

Esta questão pode ser resolvida com um novo tratado comercial ou até recorrendo a tecnologia, contudo está a bloquear o 'Brexit', e a criar expectativas sobre os cenários mais extremos: ausência de acordo ou o cancelamento da saída.

É com esta ameaça que a primeira-ministra britânica tem procurado coagir os deputados a agir "no interesse nacional", mas, à medida que os dias até 29 de março de 2019 se esgotam, o consenso que quis construir com o documento de saída resultou no oposto.

A politóloga escocesa Nicola McEwen considera que este é um exemplo dos defeitos do tipo de liderança de Theresa May.

"O acordo é um exemplo de 'ambiguidade construtiva', em que tentou incluir coisas para fazer todos felizes e manter opções em aberto, mas levantou receios sobre o que pode acontecer. Ao evitar afastar pessoas, conseguir afastá-las quase todas porque estas não viram as oportunidades, apenas as ameaças", resume, em declarações à agência Lusa.

Uma minoria de eurocéticos em Westminster está determinada em sair sem acordo e cumprir o desígnio do referendo, e tem o apoio de um número substancial de eleitores que o líder do partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, não quer alienar apoiando um novo referendo.

"Corbyn está sob cada vez mais pressão para aceitar um referendo, razão pela qual está a resistir à apresentação de uma moção de censura sem saber que pode ganhar. Se perder e não conseguir eleições, a política do partido é que terá de fazer campanha por um referendo. Pessoalmente, ele não quer um, mas muitos à sua volta querem", diz a académica da Universidade de Edimburgo.

Esta dinâmica levou o professor de ciências políticas da universidade Queen, em Londres, Tim Bale, a mudar de opinião sobre o próximo episódio deste complicado enredo.

"Tornou-se num cenário que pode ser a única saída para a situação em que estamos. A probabilidade passou de 5% para perto de 50%", confessou.

Theresa May ainda tem esperança de conseguir junto dos 27 "garantias políticas e legais" sobre a solução para a Irlanda do Norte que convençam um número suficiente de parlamentares a aprovar o acordo de saída e a declaração política sobre a relação futura com a UE.

Mas a conjuntura política britânica tem muitas variantes e, com o tempo a esgotar-se, Tim Bale olha para o parlamento e não para a primeira-ministra como o guardião da chave que pode impedir uma saída sem acordo.

"Como é que vai acontecer tecnicamente é outra questão. Mas não consigo ver os deputados, mesmo os do partido Conservador, a aceitarem esse cenário", garante.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório