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Reação internacional a caso Skripal reflete impacto de audaz ataque russo

Moscovo continua a negar a autoria da tentativa de homicídio com um agente neurotóxico do antigo espião duplo Sergei Skripal na cidade britânica de Salisbury em março, mas a reação coletiva internacional mostra que o caso teve impacto.

Reação internacional a caso Skripal reflete impacto de audaz ataque russo
Notícias ao Minuto

12:00 - 15/12/18 por Lusa

Mundo 2018

"Foi um caso chocante, relevante e elaborado. Não foi apenas um tiro, ou alguém empurrado das escadas abaixo. O uso de uma arma química numa cidade inglesa da província foi inesperado, mesmo para os padrões da Rússia. O caráter empurrou as relações bilaterais e internacionais para outro nível", garante o especialista em política russa James Nixey.

O caso foi "inédito, provocando uma das maiores e mais complexas investigações da polícia britânica" que continua a ser sentida na localidade de 45 mil pessoas, onde só recentemente foram reabertos alguns estabelecimentos e locais públicos.

Em 04 de março, Sergei Skripal, um britânico de origem russa com 66 anos, e a filha de 33 anos, Yulia, de nacionalidade russa, foram encontrados semi-inconscientes num banco de jardim, tendo-se apurado mais tarde que tinham sido envenenados com um agente neurotóxico de nível militar.

Depois de hospitalizados em estado grave durante semanas, ambos tiveram alta, tal como o agente Nick Bailey, que também tinha sido contaminado pelo agente chamado 'novichok', que esteve na origem da morte quatro meses mais tarde da britânica Dawn Sturgess, de 44 anos, que encontrou por acaso a embalagem de perfume usada para aplicar a substância.

O Laboratório de Ciência e Tecnologia de Defesa de Porton Down foi central na identificação do agente neurotóxico, do qual foram encontrados traços em vários locais da cidade, mas em maior concentração na porta de entrada da residência de Sergei Skripal.

A investigação à tentativa de homicídio envolveu cerca 250 detetives de várias forças regionais, além dos 1.230 agentes que assistiram nos cordões de segurança, custando mais de 7,5 milhões de libras (8,6 milhões de euros).

Especialistas em identificação de imagens visionaram mais de 4.000 horas de filmagens de videovigilância, procurando "identificar todos os pedestres, ciclistas e veículos que viajaram pela área relevante nos horários em questão" e o resultado do inquérito foi considerado tão grave que foi apresentado pela primeira-ministra, Theresa May, no parlamento britânico.

Os dois suspeitos, Alexander Petrov e Ruslan Boshirov, pertencem à agência de informações russa, GRU, depois de terem sido reconstituídos os movimentos desde a chegada a Londres e estadia num hotel às viagens misteriosas a Salisbury, que ambos atribuíram ao interesse pela catedral histórica daquela cidade.

Imediatamente em março, Londres expulsou 23 diplomatas russos identificados como agentes secretos russos não declarados, e 28 países aliados e a NATO expulsaram, em solidariedade, um total de mais de 150 elementos de agências de informações russas, ação que o MI6 está confiante que degradou a capacidade dos serviços de informações russos no estrangeiro.

Ao mesmo tempo, foram agravadas sanções visando o regime e pessoas próximas do presidente russo, Vladimir Putin, não só por causa deste ataque, mas devido às atividades de interferência em eleições noutros países, à queda do voo MH17 na Ucrânia, à anexação da Crimeia e às ações na Síria, entre outros, referiu James Nixey, responsável pelo programa sobre a Rússia e Eurasia do instituto Chatham House.

"A Rússia tem um conflito abstrato com o Ocidente e isso é manifestado através de atos individuais. Não opera pelas mesmas regras", vinca o antigo jornalista e autor de vários textos sobre o tema, nomeadamente "Putin Outra Vez: Implicações para a Rússia e o Ocidente", em declarações à agência Lusa.

A partilha de informação confidencial pelas autoridades britânicas ajudou a convencer mesmo os países mais desconfiados e a unidade ocidental permitiu reforçar o regime de sanções, mas nem todos os países alinharam, como a Itália ou a Hungria, preocupados em manter boas relações com Moscovo.

A tentativa de homicídio de um opositor ou alegado "traidor" russo no estrangeiro não é inédito para os serviços secretos russos, nem sequer no Reino Unido, onde Alexander Litvinenko, em 2006, foi o mais conhecido, mas onde se estão a investigar mortes suspeitas de russos ou de pessoas ligadas à Rússia.

"Em termos de homicídios no estrangeiro, já aconteceu inúmeras vezes, tanto no Reino Unido como em Kiev, onde os russos têm uma política de matar certas pessoas. Alguns podem ser coincidências, mas desafiam as leis da matemática. É um padrão, mesmo irregular", salienta, avisando: "Skripal não foi o primeiro e certamente não será o último".

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