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Povo Khoisan acusa Governo sul-africano de marginalização

Líderes do povo Khoisan, acampados há 13 dias nos jardins da presidência sul-africana, em Pretória, exigem reunir-se com o Presidente Cyril Ramaphosa e ameaçam "levantar-se" para reconquistar a sua nação caso não sejam atendidas as suas reivindicações.

Povo Khoisan acusa Governo sul-africano de marginalização
Notícias ao Minuto

14:33 - 14/12/18 por Lusa

Mundo África do Sul

Em declarações aos jornalistas, o chefe KhoiSan SA, que lidera a delegação, disse que a comunidade quer uma resposta do chefe de Estado sobre o memorando que lhe entregou pessoalmente em dezembro último.

"Não recebemos comunicação do Presidente ou do Governo. Não tivemos nenhum envolvimento nas conversações sobre as exigências que foram apresentadas. Em vez disso, o Governo está a empurrar a questão da desapropriação de terras sem compensação sem incluir os proprietários legítimos da terra", afirmou.

O líder Khoisan acrescentou que o Governo do Congresso Nacional Africano (ANC, sigla em inglês), o partido no poder desde 1994, continua a marginalizá-los, particularmente no debate sobre a questão da terra, uma vez que se consideram "cidadãos legítimos" do país.

Ao ler um memorando dirigido ao chefe de Estado Cyril Ramaphosa, que é também presidente do ANC, o chefe KhoiSan SA referiu que o seu povo "está a preparar-se para lutar pelo que é deles".

"Deixe-nos esclarecer ao Governo - a terra não pertence aos negros, nem aos Nguni e nem aos brancos. Pertence em primeiro lugar à primeira nação da África do Sul. Acolhemos todos os povos no nosso país, pois somos uma nação carinhosa e solidária [mas] agora encontramo-nos sem o que é mais precioso para o nosso povo - a terra", afirmou o líder comunitário aos jornalistas.

"O nosso povo tem sido rotulado de muitas coisas e privaram-nos da nossa cultura, da nossa herança e da nossa língua. Sabemos quem somos e, no entanto, estamos constantemente a ser lembrados do passado. Instamos este Governo a responder-nos imediatamente", declarou.

Referindo-se ao rei Goodwill Zwelithini como um "rei estrangeiro", o chefe KhoiSan SA disse que as ameaças feitas recentemente pelo monarca Zulu serão uma realidade se as exigências do seu povo também não forem atendidas.

"Senhor Presidente, estamos a apelar para que seja correto com o povo aborígene desta terra, ou as ameaças que foram feitas pelo rei estrangeiro Zwelithini serão uma realidade quando o povo aborígene se levantar para reconquistar o que é nosso por direito. Não faça como aqueles antes de você quando se repeliram contra nós. Foi derramado sangue para recuperar a terra", disse o líder Khoisan.

No início deste ano, o rei Zwelithini declarou que se o 'Ingonyama Trust' (mecanismo através do qual o monarca detém cerca de 80% das terras no KwaZulu-Natal) for afetado pelo plano do Governo do ANC de desapropriar terras sem compensação financeira, "a nação Zulu entrará em guerra para que o KwaZulu-Natal seja um território Zulu separado da República".

O chefe KhoiSan SA disse ainda que a sua comunidade "está farta de estar constantemente a ser marginalizada na África do Sul democrática" e quer a devolução da "sua nação".

"Nós, como legítimos proprietários deste país, queremos o nosso país de volta como nativos desta terra. Temo-nos engajado por muitos caminhos, para apelar a este Governo que nos devolva o que é nosso por direito. Tudo caiu em ouvidos surdos, e ainda continuamos sentados na mesma situação em que estivemos quando estrangeiros invadiram a nossa terra e o nosso povo teve que passar pelo pior genocídio do mundo", afirmou aos jornalistas.

"Disseram-nos que a vida seria melhor do que quando lutámos contra a dominação branca. (...) Nós, como a primeira nação, estamos a ser submetido a um comportamento desumano no nosso próprio país, e somos tratados como cães por este Governo que apregoa ao mundo que é um Governo que cuida das pessoas", salientou.

No ano passado, os líderes Khoisan deslocaram-se a pé a Pretória, onde foram recebidos pelo então vice-Presidente, Cyril Ramaphosa, depois de uma greve de fome de cinco dias e terem acampado nos jardins da Presidência durante dias.

Desta vez, os líderes Khoisan viajaram de Port Elizabeth e Durban, no litoral sul do país.

Os Khoisan exigem ser reconhecidos pelo Governo como "primeira nação da África do Sul", a oficialização dos seus idiomas e a abolição da legislação de 1913 sobre a revindicação da propriedade da terra.

Os Khoisan ou Khoi-San são dois grupos étnicos (Khoi-Khoi e os San) do sudoeste de África que partilham algumas caraterísticas físicas e linguísticas distantes da maioria bantu do continente africano.

Atualmente no deserto do Kalahari, na Namíbia, no Botsuana e em Angola, estima-se que sejam descendentes de povos que habitavam toda a região da África Austral e que quase desapareceram com a chegada dos povos bantu a esta região, vindos da região central do continente, há 2.000 anos.

Algumas das características linguísticas foram assimiladas por vários grupos bantu, como os AmaXhosa e os AmaZulu, na África do Sul.

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