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Narrativa negativa é esmagadora e esconde impacto positivo dos migrantes

A atual narrativa sobre a migração, focada de "maneira esmagadora" em aspetos negativos, está a obscurecer o impacto positivo que os migrantes têm na prosperidade dos países e tem de ser contrariada, defendeu a representante da ONU, Louise Arbour.

Narrativa negativa é esmagadora e esconde impacto positivo dos migrantes
Notícias ao Minuto

11:30 - 07/12/18 por Lusa

Mundo Louise Arbour

"A atual narrativa sobre a migração foca de maneira esmagadora os aspetos negativos e obscurece o impacto positivo que esta tem na prosperidade de muitos países", afirmou a Representante Especial da ONU para a Migração Internacional em entrevista, por escrito, à agência Lusa, por ocasião de uma conferência intergovernamental na próxima semana em Marrocos que será marcada pela adoção do Pacto Global para uma Migração Segura, Ordenada e Regular (GCM, na sigla em inglês), documento promovido pelas Nações Unidas.

"O secretário-geral da ONU [António Guterres] tem apelado para a necessidade de mudar a narrativa sobre a migração, de forma a aproximar a opinião pública da realidade global positiva da migração internacional", prosseguiu a juíza canadiana, quando questionada sobre o desafio de combater os estereótipos associados aos migrantes num momento marcado pela ascensão de partidos e de líderes populistas e xenófobos em vários países.

Louise Arbour focou, por exemplo, o impacto económico "extremamente positivo" da migração, lembrando que a maioria dos migrantes se movimenta "de maneira regulada, de acordo com as leis nacionais".

"São homens e mulheres produtivos que trabalham, pagam impostos e gastam 85% dos seus rendimentos nas economias locais. E enviam de volta para o seu país, em média, cerca de 15% dos seus rendimentos sob a forma de remessas", destacou a representante, que foi nomeada para o cargo em março de 2017.

Só no ano passado e em termos totais, segundo frisou, "as remessas para os países em desenvolvimento atingiram cerca de 450 mil milhões de dólares (cerca de 394 mil milhões euros), três vezes mais o montante da ajuda oficial que os países ricos enviam para a ajuda ao desenvolvimento".

Louise Arbour apresentou mais números: "Os migrantes (...) contribuem para cerca de 9% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, 3% mais do que se eles tivessem ficado nos respetivos países de origem".

A Representante Especial da ONU para a Migração Internacional reconhece, no entanto, que as migrações também podem ter e estar associadas a "impactos negativos".

"Por exemplo, quando grandes fluxos de migrantes têm efeitos desestabilizadores, de curto prazo, nos mercados de trabalho locais não adequadamente regulados ou quando um grande número de migrantes qualificados deixa o país para trabalhar em outro lugar, criando lacunas laborais que podem ser difíceis de preencher", elencou.

Mas, a longo prazo, as evidências são claras para Louise Arbour, que também já desempenhou as funções de Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, entre 2004 e 2008.

"Os benefícios da migração, particularmente da migração bem administrada, superam amplamente os desafios. A migração traz mais prosperidade, inovação e progresso, é um potente motor de desenvolvimento e, escusado será dizer, uma experiência única para gerações, migrantes e comunidades anfitriãs", reforçou a representante.

Arbour lembrou ainda que a migração é uma realidade global que abrange atualmente cerca de 258 milhões de pessoas no mundo e que a decisão de migrar surge da combinação de fatores de atração (como oportunidades de trabalho) e de repulsão (fugir de situações de pobreza, instabilidade política ou impactos das alterações climáticas).

"Raramente a motivação de migrar pode ser reduzida a um único fator", concluiu.

Louise Arbour será a secretária-geral da conferência agendada para Marraquexe nas próximas segunda e terça-feira (dia 10 e 11).

O pacto global para a migração, negociado e concluído sob os auspícios das Nações Unidas, é um documento não vinculativo que identifica vários princípios, como a defesa dos direitos humanos e dos direitos das crianças ou o reconhecimento da soberania nacional, mas também apresenta objetivos para ajudar os países a lidarem com a chegada de migrantes, nomeadamente para facilitar a sua integração.

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