Foi "a coragem", e não uma rede social, que elegeu Ocasio-Cortez
A jovem latino-americana Alexandria Ocasio-Cortez não foi eleita para o Congresso dos Estados Unidos pelas redes sociais, mas porque teve "a coragem" de representar "as pessoas normais", explicou a sua gestora de campanha, em Lisboa.
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Mundo Estados Unidos
Em declarações à Lusa, Virginia Ramos frisou que as redes sociais prepararam o terreno e permitiram àquela que será a mais jovem congressista de sempre "fazer passar a mensagem, que os média tradicionais não tinham interesse em cobrir".
Mas nenhuma rede social pode substituir o real envolvimento das pessoas, nomeadamente participando nas eleições, assinala, recordando que a candidata conseguiu mobilizar os eleitores.
Ex-empregada de mesa de um restaurante mexicano, Alexandria Ocasio-Cortez tornou-se, aos 29 anos, na mais jovem congressista alguma vez eleita nos Estados Unidos.
À margem de um debate sobre a ameaça que as 'fake news' (notícias falsificadas) e o discurso do ódio representam para a democracia, no quadro das jornadas dos socialistas e democratas europeus, reunidos em Lisboa, a gestora de campanha confessa que ficou surpreendida quando ouviu falar de Alexandria Ocasio-Cortez pela primeira vez.
Mas, no final da campanha para as eleições intercalares de novembro, já havia indícios fortes de que era possível que a latino-americana viesse a ser eleita. "O que foi surpreendente foi a dimensão da vitória", confessa.
Quando der entrada na Câmara dos Representantes (câmara baixa do Congresso), Alexandria Ocasio-Cortez "vai focar-se no ´green new deal'", proposta económica ecológica que defende a passagem dos combustíveis fósseis para as energias renováveis, inspirada na série de reformas adotadas pelo ex-Presidente Franklin D. Roosevelt.
Durante a campanha, Alexandria Ocasio-Cortez fez declarações assertivas sobre o acolhimento de migrantes e defendeu a abolição da Immigration and Customs Enforcement (ICE, na sigla em inglês), estrutura para controlo das migrações criada após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
A futura congressista -- realça Virginia Ramos -- é a favor de "uma receção acolhedora rumo à cidadania" daqueles e daquelas que procuram uma vida melhor nos Estados Unidos. Durante a campanha, acusou a Administração de Donald Trump de ser "criminosa" no tratamento dos imigrantes.
Às críticas feitas à sua retórica, a gestora de campanha responde que "é preciso falar às pessoas através de histórias e imagens, para atrair a atenção daqueles que estão alheados do processo político, para os trazer de volta".
Além disso, há "uma distinção enorme entre ela e o [atual] Presidente". "Ela é encorajadora para todos os cidadãos, sem deixar ninguém de lado", sublinha.
"Com a eleição de Trump, descobrimos que temos resquícios racistas e classistas na nossa sociedade, que temos de revelar, discutir e dissipar", defende Virginia Ramos.
Candidata da ala mais à esquerda do Partido Democrata (que saiu da campanha de Bernie Sanders, que perdeu para Hillary Clinton), Alexandria Ocasio-Cortez conquistou o 14.º distrito, bairro da cidade de Nova Iorque pelo qual concorreu, angariando 78% dos votos.
As eleições intercalares americanas tiveram um número recorde de mulheres candidatas, em particular nas fileiras da oposição democrata, um ano após o movimento #MeToo, que trouxe para a praça pública denúncias da violência e assédio sexual contra mulheres em várias esferas da sociedade.
Entre as que mais se destacaram, estão as Democratas do Kansas, Sharice Davids, e do Novo México, Deb Haaland, que se tornaram as primeiras congressistas ameríndias, e também as Democratas Ilhan Omar e Rashida Tlaib, respetivamente do Minnesota e do Michigan, que se tornaram as primeiras mulheres muçulmanas eleitas para a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos.
Virginia Ramos acredita que o panorama político nos Estados Unidos "vai começar a mudar".
Os candidatos às eleições "são ricos, quando não milionários", reflete. "Precisamos de gente normal, que represente os trabalhadores comuns", contrapõe.
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