Independentismo na Catalunha responsável pelo resultado na Andaluzia
O professor catedrático de direito constitucional na Universidade de Sevilha Javier Perez Toyo defende que o movimento independentista catalão é o grande culpado do mau resultado dos socialistas e da ascensão da direita na Andaluzia.
© Shutterstock
Mundo Resultados
"O independentismo catalão unificou as direitas na Andaluzia", disse o catedrático da Universidade de Sevilha à agência Lusa, reconhecendo que o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) também está "desgastado" com 36 anos de poder ininterrupto nesta Comunidade Autónoma espanhola.
O PSOE foi o partido mais votado nas eleições regionais de domingo passado, mas com os piores resultados da sua história, com os partidos de direita, entre eles o radical Vox, a conseguirem ter a maioria absoluta do parlamento andaluz.
Se o Partido Popular (PP, direita), Cidadãos (direita liberal) e Vox chegarem a um acordo nas próximas semanas poderão mesmo vir a substituir a liderança histórica dos socialistas na Junta (Governo regional).
Para Javier Perez Toyo, que também é um analista político, a direita está "mais fragmentada", mas saiu "mais forte" do embate com as esquerdas, uma luta que substituiu o habitual confronto do passado, apenas entre o PSOE e o PP.
O catedrático aponta como fator mais importante "a mensagem clara" dos partidos de direita pela "unidade" de Espanha e contra o processo independentista na Catalunha.
"A direita mobilizou o eleitorado", enquanto a esquerda, PSOE e Adelante Andalucia (extrema-esquerda que inclui o Podemos e Esquerda Unida), fizeram uma campanha centrada em temas regionais.
Os partidos de direita fizeram, principalmente, um ataque cerrado às tentativas do primeiro-ministro socialista espanhol, Pedro Sánchez, de tentar dialogar e encontrar uma solução para o futuro da Catalunha com os líderes independentistas, que voltaram a ganhar as eleições regionais há um ano, depois de o projeto de independência ter falhado.
Javier Perez Toyo reconhece que o aumento da abstenção também não ajudou os socialistas que, "assim como a social-democracia europeia, não estão nos seus melhores momentos".
A taxa de participação nas eleições andaluzas ficou nos 58,6%, a mais baixa desde os 55,4% verificados em 1990, com a província de Sevilha a ser particularmente penalizada.
"Há um ambiente na esquerda de não se saber para onde se vai, de falta de direção", resume o catedrático, avançando que o resultado negativo vai influenciar as eleições europeias, autonómicas e autárquicas de maio de 2019.
O escritor e jornalista andaluz Juan José Téllez Rubio também concorda que "não há um discurso na esquerda sobre o que se quer para Espanha".
"O imaginário espanhol sente-se neste momento mais identificado com as preocupações da direita", afirmou o jornalista, que colabora com vários meios de informação.
Juan José Téllez Rubio concorda que a abstenção é a principal responsável por o PSOE ter saído "penalizado" nas eleições de domingo, tendo o partido "falhado na mobilização" dos seus eleitores habituais.
A luta em junho de 2017 para a liderança do PSOE, que acabou por ser ganha pelo agora primeiro-ministro socialista, Pedro Sánchez, contra a líder regional e presidente da Junta, Susana Díaz, também não terá ajudado esta última, que "na altura regressou derrotada" à Andaluzia.
O jornalista recorda que, durante a campanha eleitoral das eleições autonómicas, Susana Díaz não quis que Pedro Sánchez estivesse muito presente, exatamente porque o primeiro-ministro está no poder, em Madrid, com o apoio dos nacionalistas bascos e dos independentistas catalães.
"A votação no Vox é a da indignação e pode ser revertida", afirma Juan José Téllez Rubio, comparando com a votação idêntica que houve no passado no Podemos, que "depois voltou a baixar" na preferência dos espanhóis.
Nas eleições de domingo na Andaluzia, o PSOE obteve 27,95% dos votos (antes tinha 35,41%), o Partido Popular 20,75% (26,74%), Cidadãos (direita liberal) 18,27% (9,28%), Adelante Andalucia 16,18% (21,18%) e o Vox 10,97 (0,46%).
Em termos de assentos no parlamento regional, de 109 lugares, o PSOE passou de 47 para 33 deputados regionais, o PP de 33 para 26, o Cidadãos de nove para 21, Adelante Andalucia de 20 para 17 e o Vox tem pela primeira vez 12.
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com