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Pequim quer mudar o mundo com a trilogia "dinheiro, poder e mentalidade"

A investigadora do Royal Institute of International Affairs (Chatham House), Jie Yu, defendeu hoje em Lisboa que a China está a tentar mudar o mundo através do conceito "dinheiro, poder e mentalidade", que visa o regresso do Império do Meio.

Pequim quer mudar o mundo com a trilogia "dinheiro, poder e mentalidade"
Notícias ao Minuto

16:31 - 04/12/18 por Lusa

Mundo Investigador

"Resumo a China à trilogia dinheiro, poder e mentalidade. Através deste conceito a China está a tentar mudar o mundo, gastando dinheiro - todos temos consciência da importância dos investimentos chineses em Portugal -, mas também usando o dinheiro para expandir a sua influência política", disse Jie Yu.

A investigadora do Ásia-Pacífico, da Chatham House participava hoje com o vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP) e antigo vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, na iniciativa Lisbon Talks, antecedendo o início da visita a Portugal do Presidente chinês, Xi Jinping.

Para Jie Yu, que é natural da China, não é possível traçar um retrato "a preto e branco" de um país que considera "uma espécie híbrida" entre uma "economia desenvolvida" de cidades como Pequim e Xangai e uma zona rural que "acabou de emergir do limiar da pobreza".

A investigadora considerou "crucial" para a China a manutenção do crescimento económico como fonte de "poder e legitimidade" para um país que aspira a ser uma superpotência mundial.

Jie Yu sublinhou, por outro lado, do ponto de vista interno, a importância de manter atualizado "o contrato social" com a população que leve ao aumento dos seus níveis de vida para garantir que o governo "mantém a legitimidade" num país governando por um partido único e sem eleições.

A investigadora assinalou ainda que, do ponto de vista global, a economia tornou-se na prioridade em matéria de política externa.

"A China está a tentar usar o seu poder económico para expandir a sua influência política, não apenas no sentido bilateral, mas multilateral. O que a China está a tentar fazer é reclamar mais voz para as economias emergentes no interior das instituições financeiras internacionais", como o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou a Organização Mundial do Comércio (OMC), exemplificou.

Por outro lado, esta a tentar criar a suas próprias instituições financeiras e internacionalizar a sua moeda, acrescentou, ressalvando, contudo, que apesar dos receios manifestados pelo Ocidente de que estas instituições venham a substituir as atuais, a China tem consciência de não estar ainda preparada para alterar o sistema financeiro internacional.

A investigadora sublinhou a importância do apoio da União Europeia a alguma das iniciativas chinesas, adiantando que o país está, por agora, a assumir o papel de seguidor das regras atuais, mas com o objetivo de no futuro vir a determinar as regras e a agenda da política internacional.

Numa abordagem à iniciativa chinesa "Uma faixa, uma rota", Jie Yu lembrou que o projeto engloba 88 países, que representam 60% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e cobre uma área onde se encontram 70% das reservas de petróleo conhecidas.

A iniciativa é vista por países como a Alemanha e a França como uma ameaça e por Portugal, Espanha ou Itália, como uma oportunidade.

"Os 27 membros da União Europeia nunca conseguirão falar a uma só voz quando se trata da China", disse.

A investigadora destacou, do ponto de vista político, duas visões opostas da política externa: a da China, estruturada em torno dos interesses, e a da União Europeia, em torno de valores.

"A China nunca encaixaria no que a União Europeia defende em matéria de democracia liberal e sistema multipartidário", apontou.

"A China vê o mundo como vários polos, a China é um polo, os Estados Unidos outro e a União Europeia outro. O compromisso da China com a Europa é uma tentativa de colocar dois polos contra um. Nesta relação, a China e a UE nunca estarão na mesma linha por causa das diferenças ideológicas e de mentalidade", considerou.

Por seu lado, o vice-presidente da CCIP, Paulo Portas, sublinhou a importância dos investimentos chineses na Europa, sete vezes mais do que a Europa investiu na China, e em Portugal.

"Sabemos que a China é decisiva na nova economia mundial. Sabemos que a economia global não existiria sem a Ásia e a China. Porque é que deveríamos abdicar das boas relações com a China ou a Ásia. O espaço que abandonamos será imediatamente ocupado por outros", disse.

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