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Cerca de 100 pessoas por mês viajam do Ocidente para se juntarem ao ISIS

A diretora do Centro Internacional para o Estudo do Extremismo Violento alertou hoje que cerca de 100 pessoas viajam todos os meses dos países ocidentais para se juntarem ao grupo extremista Estado Islâmico, que está a recrudescer.

Cerca de 100 pessoas por mês viajam do Ocidente para se juntarem ao ISIS
Notícias ao Minuto

15:45 - 27/11/18 por Lusa

Mundo Estado Islâmico

"O Estado Islâmico (EI) está a ressurgir ligeiramente. Há 100 pessoas que viajam todos os meses dos nossos países para se juntarem ao EI. Sabemos que eram milhares, nos seus tempos áureos, baixou muito, mas ainda há muitos", disse Anne Catherine Speckhard.

Em entrevista à Lusa à margem da Cimeira Mundial Aqdar, que decorre até quarta-feira em Abu Dhabi sob o lema 'O papel do empoderamento humano no desenvolvimento de sociedades estáveis: Desenvolvimento Sustentável', a responsável disse que o EI é uma marca, que vende utopia, e que tem de ser quebrada.

"O califado existe nas mentes da maioria dos muçulmanos como algo de muito bom que houve no passado. A ideia de que poderia repetir-se foi vendida como uma marca", disse Speckhard.

A especialista norte-americana, comparou mesmo o grupo à Coca-cola: "A Coca-cola diz 'bebe isto e vais arranjar uma namorada'; o EI diz 'junta-te a nós e terás propósito, dignidade, riqueza e poderás viver segundo os ideais islâmicos. É tudo mentira, mas não interessa. A Coca-cola também não te vai arranjar uma namorada".

Na sua intervenção na cimeira em Abu Dhabi, Speckhard apresentou a campanha que a organização que dirige tem em curso, que visa combater o EI exatamente onde este recruta militantes: na Internet.

O Centro Internacional para o Estudo do Extremismo Violento (ICSVE, na sigla em iglês) realizou centenas de entrevistas a antigos membros do EI que fugiram, a outros que estão presos e a familiares e amigos de suicidas e compilou as suas histórias em pequenos vídeos que divulga na Internet para dissuadir jovens que se preparem para aderir ao grupo.

Segundo Anna Speckhard, que é também professora de psiquiatria na Universidade de Georgetown, os recrutadores do EI aproveitam-se das vulnerabilidades individuais dos potenciais voluntários.

"Usam o desejo de vingança, o trauma, aproveitam-se pessoas que estão fartas da vida e que, não querendo suicidar-se, aceitam fazê-lo se forem convencidas de que se tornam mártires", disse a especialista norte-americana.

As motivações variam de pessoa para pessoa, explicou, exemplificando que às pessoas que sofrem de discriminação o EI oferece aceitação, emprego, casamento...

Por isso Anna Speckhard aconselha os países ocidentais: "Vejam quantas pessoas saíram dos vossos países para o EI e, se forem muitos, têm problemas em casa. Não é só o EI, eles conseguiram atrair estas pessoas porque elas estavam infelizes. Havia coisas erradas nas suas vidas que o EI prometeu endireitar".

Os governos têm de abordar os problemas que estas pessoas enfrentam, nomeadamente a discriminação e a marginalização, uma questão importante para alguns países, sobretudo no caso dos migrantes muçulmanos e descendentes de migrantes muçulmanos, exemplificou.

Para evitar que saiam do país para se unirem ao Estado Islâmico, mas também para prevenir mais ataques no Ocidente, onde Speckhard não estima que o fenómeno diminua tão cedo.

"Penso que vamos continuar a ver ataques na Europa. Espero que não haja um aumento, mas vai haver uma continuação, e o motivo é que é tão fácil. É tão fácil pegar em alguém que está instável, que está infeliz, e vender-lhe uma falsa lista de coisas boas. Especialmente se lhes vendes a vida eterna", lembrou.

"Se acreditarem que podem sair da sua vida, ser perdoados dos seus crimes. Se fizeram coisas de que se arrependam e estiverem infelizes, basta pegar numa faca, num camião, no que quer que seja a sua arma e usá-la. Morrer no ataque e acreditar que vão diretamente para o paraíso".

A diretora do ICSVE deixou ainda outra recomendação, "sobretudo para os EUA, mas também para toda a coligação [internacional que combate o Estado Islâmico na Síria e no Iraque]: Não vão conseguir sair disto aos tiros e a matar. Têm de ter 'soft power' assim como 'hard power'", avisou.

E exemplificou com o trabalho que a sua organização está a fazer, a tentar "quebrar a marca de uma forma suave".

É que "de cada vez que matamos uma pessoa, há um grupo inteiro à volta dela que quer vingança. Por isso o ciclo continua", avisou.

Speckhard defendeu também que é preciso trabalhar com os países onde o EI se instalou "para que eles governem de forma a que as pessoas floresçam e não ressoem a causa dos grupos terroristas".

"O Iraque agora diz que vai combater a corrupção e espero que o faça. O Iraque é um país rico com um povo pobre e há qualquer coisa de muito errado nisso".

Mas Anna Speckhard não está otimista e acredita que o terrorismo vai continuar "para sempre".

"É uma tática que foi popularizada e há outros grupos que replicam a tática do EI. Dantes quando víamos um ataque suicida palestiniano, quando uma mulher se fazia explodir, ficávamos totalmente chocados. Hoje está tão popularizado, todos os grupos o fazem. Vemos que se acendeu como o fogo e não se vai apagar", concluiu.

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