"Acho que, ao nível de universidades, exageramos. Não faz sentido um país como Cabo Verde ter tantas universidades. Por isso é que não temos nenhuma de referência. A nós importava ter uma ou duas universidades que fossem referência, sobretudo nos PALOP [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa], para atrair estudantes dessas regiões. E as nossas universidades que foram permitidas em Cabo Verde estão a deixar muito a desejar", analisou Germano Almeida.
Cabo Verde conta neste momento com nove estabelecimentos de ensino superior, que têm sido muitas vezes criticados, sobretudo quanto à qualidade dos formandos.
Na semana passada, a bastonária da Ordem dos Advogados de Cabo Verde (OACV), Sofia Lima, alertou para a deficiente formação técnica e ética dos advogados no país, aconselhou as escolas a se atualizarem e pediu meios de fiscalização da qualidade ao Governo.
Em entrevista à agência Lusa, o Prémio Camões em 2018 disse que não ouviu as declarações da bastonária, pelo que não entrou em muitos pormenores, mas reconheceu também que há muitos licenciados que dominam mal a língua portuguesa.
"Penso que a necessidade de dominarmos a língua portuguesa é geral, não pode ser só dos advogados. Temos de exigir às pessoas com formação superior que dominem os instrumentos de trabalho com rigor", disse o escritor, que é advogado de profissão.
Outra área para que as universidades têm sido alertadas é a imprensa: mesmo com um mercado exíguo, jornais a fechar e jornalistas no desemprego, há cinco cursos de comunicação social, que todos os anos lançam muitos jovens no mercado.
Em entrevistas à Lusa no ano passado, o atual ministro que tutela a comunicação social, Abraão Vicente, e o então presidente da Associação dos Jornalistas Cabo-verdianos (AJOC), Carlos Lima, mostram-se preocupados com este cenário e consideraram que as universidades devem repensar a sua estratégia para os cursos de comunicação social.
"Temos de repensar essa questão. Concentrar na qualidade e não estar a abrir cursos sem nenhum estudo, sem perspetivas de mercado, levando as famílias a fazer investimento que depois não terão retorno porque a pessoa não consegue empregar-se", disse Carla Lima.
"Acho que as universidades têm de repensar a sua estratégia, não só do curso da comunicação social", considerou Abraão Vicente, dizendo que o Governo tem de se sentar à mesa com as universidades, para ver se deve haver um limite e um período de carência para alguns cursos, para não criar "expectativas erradas" nos jovens.